Simone Patrícia Aranha da Paz nasceu em 1982, na cidade amazônica de Altamira, no Pará. Cresceu às margens do rio Xingu, onde viveu alguns dos momentos mais felizes da infância e da vida com os avós Maria e Esdras. Com eles aprendeu a nadar, pescar e cuidar da plantação; aprendeu a orar, a honrar os pais e a amar a Deus sobre todas as coisas. “Éramos só nós no meio da mata, numa vida camponesa com muita valorização do trabalho”, relembrou. É filha de um comerciante e de uma manicure-cabeleireira que se separaram quando ela tinha três anos. A figura materna passou então a ser mais do que mãe: era pai, professora, amiga e provedora para ela e a irmã dois anos mais velha, que sempre a apoiou nos estudos e concluiu a graduação recentemente, inspirada pelos passos da caçula. Simone foi alfabetizada, em casa, pela mãe. Só ingressou em um colégio aos sete anos, na primeira série do ensino fundamental.

Ela conta ter tido uma infância muito feliz, alegre e tranquila, típica de cidade do interior e sem a violência das grandes cidades. Como demorou a ir para a escola, enquanto a irmã mais velha e os amiguinhos já iam, Simone sonhava com esse dia: “Tinha tanta vontade de ir para a escola que brincava de ser professora com os amiguinhos menores, que eram os alunos”, conta. Essa brincadeira durou até os 13 anos da pesquisadora, quando ela de fato se tornou a “tia Simone” para seu primeiro aluno de aula particular. Sempre gostou muito de matemática e de ciências, e era muito curiosa e dedicada. Já na escola, gostava de estar próxima das professoras e diretoras, com quem conversava sobre estudo, trabalho e escolha da profissão.

Na Escola de Ensino Fundamental, Médio e Técnico-Profissionalizante Agroindustrial Juscelino Kubitschek de Oliveira, localizada em Marituba, no Pará, realizou o curso técnico-profissionalizante em agroindústria, e se imaginava trabalhando em uma indústria de alimento. Além de frequentar aulas teóricas, havia práticas de laboratório de química e muitas visitas a agroindústrias da região. Nessa época, teve a oportunidade de realizar um estágio na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que foi crucial para que definisse seu futuro profissional: o convívio e o trabalho com engenheiros químicos, tanto na escola, quanto no estágio, influenciaram em sua escolha de curso superior.

Em 2003, Simone Paz deu início aos estudos em engenharia química na Universidade Federal do Pará (UFPA). Já na primeira semana de curso, teve a oportunidade de conhecer os laboratórios da Universidade e, de imediato, se interessou pela área de materiais-mineração. Apesar de já poder ingressar em um grupo de pesquisa no primeiro semestre, optou por dedicar os dois primeiros anos de curso, em tempo total e exclusivo, para sua formação básica de engenheira, estudando matemática, física e química. Nesse meio tempo, percebeu o quanto o conhecimento em computação também seria necessário, o que fez com que ela se desviasse de sua área inicial, optando pela área de modelagem e simulação computacional, uma ferramenta nova na época, mas que hoje é indispensável para os engenheiros.

Em 2005, Simone conquistou sua primeira bolsa de iniciação científica, no tema de modelagem e simulação de sistemas de escoamento de fluidos em dutos. Com ela, vieram seus dois primeiros prêmios científicos: Melhor Trabalho de Iniciação Científica do Instituto de Tecnologia, do programa CNPq-Pibic da UFPA, por dois anos consecutivos (2005 e 2006). Os dois primeiros anos de iniciação em pesquisa ainda lhe renderam o primeiro artigo científico internacional. Em 2007, ela voltou para sua paixão inicial, dando início às pesquisas na área de materiais-mineração, onde atua até hoje. “E foi assim que a ciência me encontrou e eu encontrei a ciência, caminhamos juntas até hoje e espero, assim seja, até o fim de minha vida. Um casamento perfeito”, comentou a pesquisadora, completamente apaixonada pela sua profissão.

Em 2008, Simone Paz recebeu das mãos do diretor da Faculdade de Engenharia Química, professor Lênio José Guerreiro de Faria, o diploma de engenharia química, e das mãos do diretor do Instituto de Tecnologia da UFPA, professor José Barreiros, o diploma de concluinte destaque (2º lugar) da turma de formandos 2007. No mesmo ano, iniciou o mestrado no Programa de Pós-Graduação em Geologia e Geoquímica (PPGG) da UFPA, no qual foi aprovada em 1º lugar. A partir do projeto de mestrado, Paz obteve projeção como pesquisadora, em nível nacional e internacional. “As portas se abriram e minha carreira como cientista deslanchou, o que foi visto por muitos como precoce”, comentou. No mestrado, nasceu uma forte parceria de pesquisa e também para vida, com seu orientador e atual marido, professor Rômulo Simões Angélica.

Em 2011, passou em 1º lugar no concurso para professor efetivo da Faculdade de Engenharia de Materiais da UFPA, Campus de Marabá. Em 2016 ela concluiu o doutorado em engenharia mineral pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), onde também foi aprovada em 1° lugar.

Atualmente, a pesquisadora vem dedicando seus estudos a inovações no aproveitamento de rejeitos minerais na produção de novos materiais e no desenvolvimento-otimização de métodos de controle na indústria mineral. “Ou seja, atuo na busca por processos tecnológicos mais sustentáveis dos minerais aos novos materiais, bens de consumo indispensáveis para o homem contemporâneo. Alguém se vê vivendo sem a mineração? Certamente não. Todo o nosso entorno de viver cotidiano vem de forma direta ou indireta da mineração”, explicou.

O que mais a fascina na ciência é a liberdade do pensamento científico e filosófico, a importância da curiosidade, da observação e da ousadia para “sair da caixinha” e fugir da alienação e dos dogmas. “A melhor das minhas contribuições para a ciência, sem dúvida, está na formação de recursos humanos. Busco formar profissionais capazes de pensar e agir da melhor forma possível para o bem coletivo, sendo certamente propagadores do saber científico.”

O convite para ser membro da ABC significa para ela um reconhecimento do trabalho árduo desenvolvido ao longo de anos. Testemunha viva de que o estudo transforma vidas, Simone Paz afirma que essa filiação não premiou somente a ela como cientista, mas todos os colegas cientistas paraenses e “ufpeanos”. A pesquisadora tem consciência da sua missão e responsabilidade: “Quero continuar ouvindo o retorno dos alunos, através das mensagens e palavras que classifico como o maior dos meus prêmios: ‘Professora, você transformou a minha vida. Eu sou outra pessoa depois de você’.”

Simone Paz se considera uma pessoa eclética, curte teatro, principalmente musicais, sonha em experimentar, ao vivo, uma apresentação de André Rieu ao ar livre, de preferência na praça em frente ao palácio imperial Hofburg, no coração de Viena. Curte museus e cultura popular, principalmente as danças e as festividades típicas, por isso consta em sua lista de desejos, participar de uma Oktoberfest, em Munique e de uma Arde Lucus, em Lugo. Adora viajar e, nos últimos anos, tem conseguido conciliar bastante seus desejos turísticos com trabalho. As participações em eventos internacionais também lhe permitiram conhecer outras culturas, museus, espetáculos e aventuras, em especial na Europa. Ela destaca uma viagem realizada em julho de 2019, quando utilizou três semanas das férias para participar de dois eventos internacionais, um em Budapeste (Hungria) e outro em Paris (França). Todas essas aventuras inesquecíveis ela tem vivido na companhia de seu parceiro de pesquisa e vida, o marido Rômulo.