Os participantes do 7º Simpósio Científico dos Membros Afiliados da ABC: o coordenador Mauro Martins Teixeira, os membros afiliados Caroline Furtado Junqueira, Walter Orlando Beys da SilvaLucielli Savegnago e Nara Lins Meira Quintão eos debatedores Rui Prediger e Claudia Figueiredo

No dia 10 de agosto, a ABC teve uma dobradinha de eventos: de manhã, o webinário especial sobre o novo relatório do IPCC reuniu Acadêmicos e convidados em uma importante conversa sobre mudanças climáticas. À tarde, o 7º Simpósio Científico dos Membros Afiliados da ABC 2020-2021 reuniu quatro jovens cientistas para um empolgante debate sobre as áreas de bioquímica e farmacologia. Entre os principais temas das pesquisas dos novos afiliados estão o tratamento da depressão e do Alzheimer, dores crônicas e o desenvolvimento de vacinas.

O evento foi mediado por Mauro Martins Teixeira, vice-presidente da ABC para a Região Minas e Centro-Oeste, e contou com os debatedores Claudia Pinto Figueiredo (UFRJ), membro afiliado da ABC no período de 2015 a 2019, e Rui Prediger (UFSC), membro afiliado da ABC no período de 2016 a 2020.

Teixeira destacou a importância do evento para a renovação da Academia, afirmando que “os novos afiliados trazem fôlego e novas ideias” e que podem se tornar membros titulares no futuro.

Conheça os membros afiliados que se apresentaram no dia 10/8:

Cientista desde os três anos
Aplicar o conhecimento básico da resposta imunológica desencadeado durante as doenças para o desenvolvimento de estratégias de tratamento e vacinas é o que faz Caroline Furtado Junqueira.

Como compreender nosso cérebro?
A doutora em bioquímica toxicológica Lucielli Savegnago se dedica a tentar compreender o cérebro humano e achar novas formas de prevenir e tratar a doença de Alzheimer e a depressão maior. 

Investigando os mecanismos da dor crônica
A fisioterapeuta Nara Lins Meira Quintão é professora e pesquisadora da Universidade do Vale do Itajaí, realizando pesquisas  na área da dor crônica e inflamação desde a iniciação científica. 

Uma única alternativa possível: a biologia
Desde pequeno, Walter Beys da Silva sempre nutriu uma paixão por praias, animais e plantas e atualmente se dedica ao estudo de microbiologia molecular.

Participação dos debatedores

Claudia Figueiredo deu início ao debate, comentando a apresentação de Walter Beys e observando que seus resultados possuem um grande poder preditivo. “Me identifico com essa habilidade de fazer uso de diferentes expertises para responder perguntas relevantes. Às vezes, podemos ser vistos como ‘promíscuos’, mas eu, particularmente, acho bem interessante esse tipo de abordagem”, comentou. 

Beys agradeceu e comentou que atualmente seu grupo está trabalhando em uma abordagem para tentar encontrar a diferença em relação aos vários tipos de sistemas de infecção”. No entanto, segundo ele, esse objetivo esbarra em alguns desafios. “Nós poderíamos ter um entendimento mais amplo utilizando estratégias de bioinformática, que é algo que eu quero muito”, ressaltou.

Rui Prediger deu sequência ao debate, questionando Caroline Junqueira sobre a dificuldade no desenvolvimento de uma vacina eficaz contra a malária, pedindo que ela traçasse um paralelo desse imunizante – que mesmo após 50 anos de pesquisa, ainda não existe – com a vacina de COVID-19, que exigiu um esforço científico mundial e foi concretizada em tempo recorde.

Junqueira ressaltou que há décadas pesquisadores tentam identificar potenciais antígenos contra a malária. “O parasita tem uma variabilidade entre espécies e cepas. É um mecanismo imunológico muito distinto do de outras doenças”, explicou a pesquisadora, defendendo que é mais fácil criar um imunizante contra COVID-19 – do que um contra malária.

Sobre as recentes evoluções, Junqueira argumentou que é possível adaptar o que foi aprendido com a pandemia para buscar um imunizante não apenas contra a malária, mas também contra outras doenças infecciosas. O caminho, segundo ela, é testar as novas estratégias: “Antes, os RNAs não podiam ser utilizados a produção de vacinas, tampouco os adenovírus. Essas perspectivas que foram abertas durante a pandemia.”

Ela também citou o novo programa gigantesco da BioNTech para desenvolvimento de imunizantes, que promete buscar novos antígenos e alternativas inovadoras. “O futuro é bom para todo mundo que trabalha no desenvolvimento de vacinas para doenças infecciosas. Os últimos esforços abriram novas portas para a inovação”, concluiu.

Em seguida, Prediger questionou Lucielli Savegnago sobre doenças degenerativas e a depressão como sintoma, e o uso da quinolina e do selênio como possíveis tratamentos preventivos ou terapêuticos.

Savegnago  afirmou que, no momento, a busca é por tratamentos eficazes para a depressão. Sobre as duas moléculas que estão sendo testadas em seu laboratório, ea afimou que aposta no potencial de ambas: o selênio, um micronutriente essencial com ação antioxidante que possui efeito protetor e de reversão na depressão, e a quinolina, molécula projetada para agir em diferentes alvos da doença de Alzheimer. Apesar do otimismo no estudo, ela explica que ainda está bem distante do ensaio clínico,.

Importância das células-tronco

Mauro Teixeira passou uma pergunta do púbico sobre qual seria a vantagem do uso de células-tronco no modelo in vitro estudo de zika vírus em relação as células que normalmente são utilizadas. Beys respondeu, esclarecendo que é um modelo muito rápido e com muitas vantagens do ponto de vista da expressão gênica.

A incógnita da fibromialgia

Nara Quintão foi questionada sobre a possibiidade do aumento de vias excitatórias e a redução das vias inibitórias serem  o caminho para as dores da fibromialgia. “Tem a ver, mas não é exatamente isso. A fibromialgia ainda possui muitos pontos obscuros”, disse a Acadêmica. Ela explicou que o aumento do processo neuroinflamatório acaba gerando um quadro crônico. Mauro Teixeira completou, afirmando que a fibromialgia é uma síndrome, assim como a depressão, o que torna a sua origem algo difícil de ser explicado.

Desenvolvimento da vacina para malária

Questionada sobre em qual fase do ciclo de vida do parasita a vacina seria desenvolvida, Caroline Junqueira respondeu que “é muito difícil focar em um estágio único, pois há poucas células infectadas”. Ela explicou que o ideal seria tentar desenvolver uma vacina eficaz em todos os ciclos celulares do parasita, o que era impossível até pouco tempo atrás. “É necessário conter o parasita na fase inicial. Ao contrário do que acontece com os vírus, que provocam uma resposta imunológica uma vez que a pessoa o contrai, os anticorpos neutralizantes no caso da malária são muito pouco eficazes”, completou. “Precisamos focar em diferentes fases do ciclo celular e diferentes formas, ativando várias células do sistema imune. É hora também de testar novos antígenos, os que estão testados são os mesmos há 40 e 50 anos”, justificou Junqueira.

Probióticos e serotonina

Respondendo a uma pergunta sobre o uso de probióticos no tramento da depressão, Lucielli Savegnano explicou nos probióticos existem microrganismos vivos que geram benefícios ao organismo dos seres humanos. “O uso por no mínimo 14 dias melhora a depressão, por conta da ligação intestino-cérebro.” De acordo com Savegnago, ainda não há uma conclusão sobre qual é exatamente o mecanismo que torna essa ligação possível, como ele ocorre e como age. No entanto, sabe-se que 95% da serotonina – o hormônio do prazer – existente no corpo humano é produzido no intestino.

Teixeira agradeceu a participação dos afiliados e dos debatedores e completou afirmando que a ciência brasileira traz muitas alegrias. “Para que a pesquisa nacional continue progredindo, a ABC segue na luta para que a verba proveniente do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) seja destravada”, destacou.


Os membros afiliados da Academia Brasileira de Ciências (ABC) são eleitos anualmente por região e tomam posse automaticamente no dia 1º de janeiro do ano seguinte à eleição. Os eleitos em 2020 e 2021 foram recepcionados conjuntamente em cerimônia online realizada em 3 de maio de 2021 e estão apresentando suas contribuições à ciência em 12 simpósios ao longo do ano. A agenda completa dos simpósios científicos virtuais pode ser conferida aqui.