Nascido em 1983, na cidade de Piracicaba, no interior de estado de São Paulo, Pedro Henrique Santin Brancalion passou boa parte da infância indo para sítios de parentes na zona rural e andando pelas matas e rios da região.

Filho de uma bancária e um metalúrgico, o menino se divertia jogando futebol com os amigos, mas sua paixão era mexer com plantas, pescar e explorar florestas e rios. “Tive uma infância parecida com a dos naturalistas do passado, coletando conchas, rochas, besouros, orquídeas, tentando entender a estrutura interna dos peixes que eu pescava quando os estava limpando e, sobretudo, cultivando plantas”, contou. A curiosidade por entender a natureza foi e continua sendo seu principal interesse.

Suas principais influências científicas vieram da literatura: leitor voraz, adora ler as biografias dos grandes cientistas, como Einstein, da Vinci, Humboldt, Marie Curie. Seu grande herói da área é Darwin – nome, inclusive, com que batizou seu cavalo. “Hoje gosto de ler sobre os grandes mistérios da natureza, como o funcionamento da mente, do universo e as grandes mudanças ambientais provocadas pelo homem. Considero que a base de tudo é a curiosidade quase que infantil que todo cientista tem”, afirmou Brancalion.

Já com a certeza de que gostaria de trabalhar com plantas, Pedro prestou vestibular para biologia em três universidades e para engenharia agronômica na Universidade de São Paulo (USP). Após a aprovação nos vestibulares, uma visita ao orquidário da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP, foi decisiva. Ficou apaixonado pelo orquidário e decidiu cursar agronomia.

Durante os cinco anos de graduação, Brancalion fez três iniciações científicas. A primeira foi com multiplicação de orquídeas em laboratório, consequência imediata da empolgação com o orquidário da Esalq no início do curso. Devido à ausência de um docente especialista em orquídeas para orientá-lo, iniciou outra iniciação científica no mesmo laboratório, com o melhoramento genético de uma planta ornamental. Já próximo da metade do curso, cansado do trabalho de bancada de laboratório, resolveu experimentar trabalhar com projetos de recuperação ambiental. Após seis meses estagiando em um grupo de extensão e com saudade da pesquisa, o pesquisador partiu para outra iniciação científica, dessa vez em produção de sementes de árvores nativas. No final da graduação, Pedro Brancalion realizou um estágio de quatro meses nos EUA que teve enorme impacto na sua carreira científica. A viagem foi totalmente custeada pelos pais de Pedro, a quem ele afirma ser eternamente grato. Após a conclusão da graduação, ele emendou no doutorado direto em fitotecnia (2009) pela Esalq/USP.

Além da parceria com os orientadores na graduação e na pós, Pedro também é grato pelos companheiros de república, que tornaram os anos de graduação mais fáceis, e principalmente à esposa, com quem namora desde os 17 anos. Eles passaram juntos pela graduação, pelo doutorado direto e seguiram firmes, já com dois filhos, na atuação como docentes. “Ela já me ajudou a lavar plantas, coletar amostras e me acompanhou em inúmeras viagens. Minha mãe também já entrou na dança e separou muitas sementes do meu experimento de doutorado”, comentou. 

Atualmente, o pesquisador trabalha com a restauração de ecossistemas nativos, ou seja, com a busca de novas formas para recuperar florestas, cerrados e campos nativos. O objetivo é que isso seja feito de forma mais eficiente do ponto de vista ecológico e também social, gerando benefícios, como a produção de madeira, a proteção do solo e da água, o sequestro de carbono e a conservação da biodiversidade.

Brancalion explica: “Me considero um médico da natureza. As áreas degradadas são meus pacientes. Minhas pesquisas partem do exame da degradação da área, da indicação de métodos de recuperação e do monitoramento da área ao longo do tempo para garantir que ela seja de fato recuperada, tal qual um médico faz com um paciente humano”. Ele estuda como preparar o solo, quais espécies usar, como controlar pragas e plantas daninhas, como usar drones e imagens de satélite para acompanhar o desenvolvimento das florestas e como deveriam ser as políticas públicas mais eficientes para a conservação ambiental.

Seus resultados de pesquisa vêm sendo aplicados nas mais diferentes regiões e ecossistemas do Brasil, como na Mata Atlântica de São Paulo, Espírito Santo e Bahia, no Cerrado de Mato Grosso e na Floresta Amazônica do Pará, sempre em parceria com empresas e proprietários rurais e com o apoio de agências de fomento, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

“De forma geral, tenho buscado integrar pesquisa, prática e políticas públicas como um tripé para sustentar a restauração ecológica em larga escala. A ideia é melhorar o bem-estar das populações humanas e a conservação biológica em paisagens transformadas pelo homem, tentando transformar a restauração florestal em uma atividade economicamente viável de uso do solo”, explicita o cientista.

Em sua área de atuação, a recuperação ambiental, ele se emociona ao ser parceiro da natureza no processo de regeneração de um ecossistema, sentindo e medindo os diversos benefícios gerados para as pessoas e para as outras espécies. “Vejo a recuperação de ecossistemas nativos como uma forma de redenção da humanidade, na qual deixamos nossa infância inconsequente de maus tratos com o planeta e chegamos à maturidade, em que aprendemos a tomar decisões mais sábias sobre como melhor aproveitar nossa existência na Terra, gerando prosperidade não apenas para as pessoas, mas também para a natureza.”

Em 2021, Brancalion é professor de silvicultura de espécies nativas do Departamento de Ciências Florestais da Esalq/USP, onde coordena o Laboratório de Silvicultura Tropical (Lastrop). Em 2018, recebeu o prêmio Bunge Juventude, na temática Serviços Ecossistêmicos para o Agronegócio.

Pedro Brancalion afirma que seu encantamento com a ciência se dá pela percepção de que ela é uma expansão da capacidade humana de compreensão da realidade, “como se fôssemos os olhos da natureza voltados para si mesmo. A ciência nos dá o deleite da beleza, infinitude e complexidade da natureza, elevando a experiência humana a um nível inimaginável.” Enquanto membro afiliado da ABC, ele pretende trabalhar em parceria com os colegas, participando do programa de mentorias, e também colaborando com as demais atividades da Academia para a promoção da ciência em tempos de desinformação.

No tempo livre, Brancalion gosta de acampar com a família e os amigos, sempre em locais conservados e que oferecem boas oportunidades de integração com a natureza. Ele pratica meditação e gosta de ler e conversar sobre espiritualidade e os grandes mistérios da existência. Recentemente, tem se dedicado às cavalgadas com a esposa e os filhos e está se interessando pelo mundo equestre. Mas seu grande hobby é o cultivo de orquídeas, que começou aos 12 anos de idade e ele diz que o acompanhará pelo resto da vida.