A divulgação científica foi um dos temas escolhidos pelos membros afiliados da ABC para ser discutido no seu I Workshop On-line.

Os membros do grupo eram Carolina Horta Andrade (UFG), Leandro Soter de Mariz e Miranda (UFRJ), Manuella Pinto Kaster (UFSC), Nara Lins Meira Quintão (Univali), Solange Binotto Fagan (Unifra), Raul Sperotto (Univates) e Taissa Rodrigues Marques da Silva (Ufes). A moderação foi feita pela gerente de Comunicação da ABC, Elisa Oswaldo-Cruz Marinho, que iniciou os trabalhos comentando que a pandemia trouxe à tona o desconhecimento da ciência pela população, da sua importância para o desenvolvimento do país e os reais benefícios que ela oferece para a sociedade. Solicitou a todos que apontassem as principais dificuldades e desafios e propostas de ações.

À medida em que cada um contou sua experiência, foi percebido que alguns escolheram o grupo porque já tinham um trabalho em divulgação científica e gostam do tema, e outros o escolheram exatamente porque têm dificuldade na comunicação com público leigo e especialmente com jornalistas, mas desejam enfrentar o desafio, por perceberem a importância de interagir com a sociedade.

Os principais desafios apontados foram a adaptação da linguagem a ser utilizada de acordo com cada público-alvo e o fato de as universidades e afins não disporem de profissionais qualificados para ajudar os pesquisadores na divulgação de suas pesquisas. Nesse quesito, também pesa a falta de interesse das instituições de ensino em investir nas equipes de assessoria de comunicação, que costumam se dedicar apenas à divulgação das atividades da Reitoria. Os pesquisadores que dão valorizam a divulgação científica acabam utilizando verbas de projetos para custear agências de assessoria.

Com relação aos jornalistas de veículos não universitários, o grupo apontou que muitas vezes ocorrem diferentes interpretações dos jornalistas sobre a fala dos cientistas, até pela prática das redações, considerada negativa, de não retornar o texto para avaliação do pesquisador antes da publicação. A dificuldade dos cientistas em reduzir a precisão dos dados no momento de simplificar as informações, por temer que a ausência dos detalhes técnicos leve a interpretações errôneas do trabalho, contribui para os erros. O grupo identificou grande dificuldade por parte dos pesquisadores em relatar aos jornalistas o contexto da pesquisa.

Algumas possíveis estratégias foram sugeridas. Incluir nas equipes dos laboratórios estudantes de jornalismo, para integrarem pesquisas e contribuir com a divulgação foi uma delas, que é interessante para ambos os lados, pois abre um nicho de estágio para futuros jornalistas. Contatar as rádios e TVs universitárias, oferecendo suas pesquisas como pauta, também é uma prática que pode ser instituída nos laboratórios, comprometendo os alunos nesse processo. Foi também sugerida a inclusão nas disciplinas da atividade prática #MinhaCienciaEmUmTweet (#MyOneTweetScience), que estimula os cientistas a apresentar sua pesquisa em linguagem para leigos, em 240 caracteres. Contatos com as Pró-Reitorias, demandando maior interesse na divulgação das pesquisas feitas nas universidades, também foi uma proposta que emergiu do debate.

Outra dica valiosa foi que os pesquisadores sempre solicitem aos jornalistas, sejam de dentro da universidade ou de fora, as perguntas por escrito e enviem as respostas, curtas e claras, também por escrito, de modo a reduzir erros de interpretação. Assim, o cientista ganha algum tempo para pensar em cada palavra a ser utilizada, visando a um melhor entendimento.

Sobre o necessário treinamento para pesquisadores em divulgação científica, foi sugerido que a ABC convide jornalistas especializados para dar cursos online para os membros. Também foi dado o exemplo do Instituto Serrapilheira, que solicita aos candidatos a grants que façam vídeos sobre sua pesquisa para três públicos diferentes: para cientistas de outras áreas, para estudantes de ensino médio e para crianças de seis anos. A explicação do projeto para pessoas com diferentes níveis de entendimento e escolaridade é um excelente exercício que pode ser desenvolvido dentro dos laboratórios.

Foi identificada a importância da parte visual, ou seja, a elaboração de imagens para atrair o público. Para tanto, uma boa sugestão foi a inserção do item “divulgação científica” nos projetos de pesquisa que concorrem por recursos, o que poderia garantir a contribuição de jornalistas e designers.