Leia artigo da professora do Instituto de Física da UFRGS Carolina Brito e da diretora da ABC, Marcia Barbosa, no blog Ciência e Matemática de O Globo, publicado em 17/8:

A cada novo semestre, no primeiro dia de aula, Carolina se apresenta a seus alunos contando brevemente os projetos de pesquisa e de extensão nos quais ela está envolvida. Neste início de ano, antes da pandemia fechar as universidades, ela repetiu a tradição com seus alunos de física básica. No final da aula, uma das alunas da engenharia foi conversar com ela para pedir mais informações sobre um dos projetos citados, o “Meninas na Ciência”, cujo objetivo é atrair mulheres para seguir carreiras de ciências exatas e tecnológicas. A aluna contou que ela tinha sido objeto de aposta entre os colegas, que se desafiavam para saber quem a “pegaria” primeiro. Quando Carolina aconselhou que ela e as colegas se unissem para se fortalecerem, ela perguntou “Que colegas? Éramos 5 no início do curso e agora só sobrou eu!”. E ela está apenas no segundo semestre do curso…

Carolina chega no almoço contando esta história aos colegas. Um dos colegas rebate dizendo que lamentável é o fato de que as as mulheres não sabem mais receber elogios e que ele se sentiria valorizado caso mulheres apostassem para ver quem ficaria com ele. “O mundo está chato demais”, ele adiciona.

Marcia, usando a narrativa como estratégia de responder ao comentário inadequado do colega, conta que, durante a aula noturna de física para a engenharia, uma aluna começou a chorar. A estudante, uma mulher negra, trabalhadora e mãe, relatou que ao chegar atrasada na primeira aula da noite tinha sido humilhada pelo professor. Os colegas, igualmente negros, confirmaram que muitos docentes faziam brincadeiras constrangedoras com estudantes negros.

A ideia de que a universidade é livre de assédios ou sexismos é um mito. Recentemente o grupo HeforShe da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) realizou uma pesquisa sobre percepção de assédio moral e sexual. Com respostas de 25% dos docentes, 20% dos técnicos-administrativos e 13% dos estudantes, os resultados apontam para um enorme percentual de assédio em todas as categorias. Mostra também que assédio tem perfil: mulheres, pessoas negras e pessoas não heterossexuais são as principais vítimas de assédio moral e sexual.

(…)

O assédio é real e está ocorrendo do seu lado. Se nada for feito, a próxima vítima poderá ser você.

Leia o artigo na íntegra no jornal O Globo