Notícias sobre o coronavírus estão pipocando em todas as mídias. O que é falso ou verdadeiro deve ser investigado com cuidado, pois nem o alarmismo nem a negação são boas opções para lidar com o problema. Assim, fontes qualificadas e confiáveis fazem toda a diferença quando a questão é ciência.

A ABC entrevistou o Acadêmico Amilcar Tanuri, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde chefia o Laboratório de Virologia Molecular do Instituto de Biologia. Tanuri é médico, com mestrado em biofísica e doutorado em genética. Atualmente é consultor da Organização Mundial da Saúde, coordenador da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), pesquisador associado da Universidade de Columbia, no EUA, e consultor do Núcleo Estadual do Ministério da Saúde/RJ.

Em sua avaliação, a disseminação do vírus no Brasil vai depender da situação climática. Até hoje foram confirmados nove casos no Brasil sendo seis na cidade de São Paulo. A chegada do inverno no hemisfério sul aumenta as chances de transmissão das doenças respiratórias.

Tanuri apontou diz que o país precisa estar preparado tanto para a parte diagnóstica, quanto para a parte de tratamento.

Para o diagnóstico correto da doença, o equipamento mais utilizado é o termociclador ou máquina de PCR (sigla que em inglês quer dizer Reação em Cadeia de Polimerase), equipamento que automatiza o processo de amplificação de uma sequência específica de DNA a partir de uma pequena amostra. O Brasil é bem equipado em termos de máquinas de PCR e, portanto, tem condição de diagnosticar os casos agudos.

Tanuri destaca que os kits diagnósticos que a Fiocruz está produzindo, por encomenda do Ministério da Saúde, desenvolvido no Institutos de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/RJ) e de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) serão distribuídos para todos os Lacens [Laboratórios Centrais de Saúde Pública], o que vai ampliar a capacidade diagnóstica no país. “Mas temos que começar a fazer diagnósticos clínicos, ou seja, nos consultórios, a partir dos sintomas, para caso haja uma epidemia muito grande”, alertou.

Ele diz que o Brasil vai ter que aprender a lidar com a doença. Seu nível de virulência, até agora, dá chance de manobrar casos positivos, com quarentena domiciliar. “Não tem como internar todas as pessoas com PCR positivo, só quem tiver sintomas graves que precisem ser corrigidos com ventilação, intubação, etc.” Sua maior preocupação é com a infraestrutura para internar pessoas com comportamento grave da doença, caso o vírus se espalhe entre a população idosa, por exemplo.

Tanuri relata que o Hospital Universitário da UFRJ está se organizando para receber casos graves. Foi criado um grupo técnico do coronavírus, que conta com clínicos, epidemiologistas e virologistas.

O grupo vai trabalhar em várias vertentes. Tanuri explica que o sequenciamento do vírus é fundamental, para que sejam vistas suas características e sua dispersão. “Os estudos de variabilidade genética desse vírus são importantes, para conhecer um pouco mais a origem daqueles que entrarem no Brasil. Isso faz diferença nas medidas de controle”, esclareceu. O desenvolvimento de testes sorológicos e antigênicos, que são mais rápidos do que o PCR, é também muito importante para auxiliar os médicos no diagnóstico. “E temos que estudar a imunologia do hospedeiro, para entender porque alguns pacientes têm a doença agravada e outros não”, completou.

O Acadêmico avalia que a chance do coronavírus evoluir é muito alta, pois é um vírus RNA, mais propenso a sofrer mutações genéticas. “Então isso pode acontecer e tem que ser monitorado”, apontou. “A comunidade científica vai ter um papel nesse sentido, de conseguir dar essas respostas”, concluiu.