Em cerimônia realizada na manhã do dia 27 de setembro, no auditório do Museu do Amanhã, o presidente da FAPERJ [e Acadêmico] Jerson Lima Silva, junto com o Secretário Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, Leonardo Rodrigues, o governador Wilson Witzel, e a vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) para o Rio de Janeiro, Lucia Previato, fizeram a entrega de 365 termos de outorga a pesquisadores contemplados em programas apoiados pela Fundação.

No total, serão destinados recursos superiores a R$ 55 milhões, distribuídos em bolsas mensais de R$ 3 mil a R$ 2,4 mil, durante 36 meses, a 200 Cientistas do Nosso Estado (CNE) e 158 Jovens Cientistas do Nosso Estado (JCNE), respectivamente, sendo R$ 32,3 milhões em custeio e capital a sete grupos de pesquisadores das Redes de Pesquisa Cooperativa em Nanotecnologia, além de bolsas de treinamento e capacitação técnica e de pós-doutorado.

“Hoje é um grande dia. Este é o começo de um investimento cujo resultado virá, apesar das dificuldades financeiras que o estado enfrenta e a burocracia de se fazer, por exemplo, o registro de uma patente, de se colocar no mercado um produto novo, competitivo”, disse o governador. “Não temos hoje tecnologia para competir com outros países. Enfrentamos um verdadeiro êxodo de cérebros. Nossos pesquisadores sem perspectivas no Brasil vão para países como o Canadá, Alemanha, China, Estados Unidos. Nossa economia precisa se reinventar”, completou Witzel. Ele lastimou que o Brasil continue a ser um produtor de commodities na agricultura em vez de gerar produtos com maior valor agregado. Garantiu que sua equipe de secretários continua buscando oportunidades de microcrédito para oferecer oportunidades e aplacar a crise econômica. Ele recomendou que os jovens percebam as mudanças nas relações de trabalho e emprego, que deverão ser cada vez mais focadas no empreendedorismo.

O governador lamentou que o Brasil tenha se tornado um País de burocratas, e que os cursos de Direito estejam voltados para o litígio, muitas vezes impedindo o desenvolvimento econômico. Disse que apesar de seu governo já ter discutido exaustivamente a desburocratização, os avanços não são visíveis. Ele espera que a reforma tributária contribua para reduzir para padrões internacionais as obrigações tributárias e acessórias, descomplicando o sistema tributário e as administrações privada e pública. Disse que em 2017 o Brasil registrou menos de 50 mil patentes, inferior ao registrado pelo Principado de Mônaco, e longe da China, que registrou 2,5 milhões de patentes. “A pesquisa é fundamental. Quisera eu cumprir o que está na Constituição”, disse Witzel, referindo-se à obrigatoriedade do repasse, garantido por Lei, de 2% da receita líquida do Estado do Rio à FAPERJ. “O resultado virá, apesar das dificuldades. Mas nesse momento não há espaço para aumento das despesas”, disse o governador, alegando que seu governo está priorizando investimentos que gerem receitas, como Pesquisa, Agricultura e Energia.

Fernando Lázaro, ao lado de Lucia Previato, recebe o termo de outorga das mãos de Witzel, na presença de Jerson Lima (Foto: Lécio A. Ramos)

“Hoje é um dia de festa para a Ciência, Tecnologia e a Inovação fluminense. Abrigados nesse espaço do amanhã, celebramos as outorgas de três editais muito importantes para o desenvolvimento científico tecnológico do nosso estado”, disse o presidente da FAPERJ [e Acadêmico],  Jerson Lima. Ele esclareceu que o programa Redes de Pesquisa Cooperativa em Nanotecnologia reúne sete redes que congregam 254 pesquisadores e mais de 600 pós-doutorandos e pós-graduandos associados, duas startups e duas empresas e diversos institutos nacionais. A rede receberá o aporte de recursos ao longo de três anos para realizar pesquisas no desenvolvimento de materiais com propriedades superiores aos convencionais, que permitirão impulsionar a economia e a indústria fluminenses. Os outros dois editais, Cientistas do Nosso Estado e Jovens Cientistas do Nosso Estado, premiam pesquisas de excelência desenvolvidas no estado.

“Como assinalado diversas vezes pelo governador, o Estado do Rio precisa recuperar e avançar no seu PIB industrial, e a Ciência e a Inovação são elementos fundamentais para alcançarmos essa meta”, ressaltou Lima. Para ele, o fato de o estado fluminense ser o segundo em maior em produção de conhecimento e inovação científica do País é um patrimônio imensurável, e a missão da FAPERJ é fazer com que esses saberes gerem ciência de excelência e contribuam ativamente para o desenvolvimento sustentável e a recuperação econômica, social e ambiental do estado. Diante da quantidade e diversidade de temas abordados pelas pesquisas contempladas, o presidente da FAPERJ resumiu: “São pesquisas que visam contribuir para soluções dos problemas do Rio de Janeiro, do País e até do mundo”. Para Jerson Lima, por ser um farol, o Rio de Janeiro tem todas as condições de se projetar internacionalmente como estado 4.0 de produção com alta intensidade tecnológica. Ele acredita que com o apoio do governo do estado, que mesmo em recuperação fiscal apostou na C,T&I, da academia e de empreendedores, a FAPERJ está contribuindo para que o País seja cada vez menos dependente de commodities.

Representando os Jovens Cientistas do Nosso Estado, a pesquisadora Claudia Pinto Figueiredo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) [e membro afiliado da ABC] recebeu seu termo de outorga pelo projeto “Avaliação do papel da imunidade mediada por células T na doença de Parkinson” das mãos do governador Witzel, e falou em nome dos demais jovens contemplados.  Para ela, a entrega dos termos de outorga simboliza uma nova fase da FAPERJ, uma fase de recuperação, após um período de ausência de pagamento de recursos e atrasos no pagamento de bolsas.

Para explicar aos não cientistas a importância desses recursos para a pesquisa, Claudia fez uma analogia entre uma residência e um laboratório. “Em ambos os casos é possível manter as atividades com recursos que atendam às despesas correntes, mas, com o desgaste do tempo, são necessários gastos adicionais para reparos estruturais”, comparou. Diante disso, ela reconheceu a importância desse aporte de bolsas para custeio, mas lembrou que nos laboratórios é necessário investimento ainda maior, com aporte dos chamados “Auxílios” para infraestrutura e manutenção. Agradeceu o esforço da FAPERJ para a redução da desigualdade de gênero, ao incluir em seus editais a extensão em um ano do prazo para a avaliação da produtividade científica no caso de cientistas que se tornaram mães.

Em seguida, o Secretário Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, Leonardo Rodrigues, ressaltou a importância dos recursos da FAPERJ para fazer com que conhecimento gerado em C,T&I saia do papel e se converta em produtos inovadores para o mercado.

“Nós estamos virando o jogo, realmente, pois as ideias não estão somente no papel. É o momento em que começamos a sair da pesquisa para desenvolver produtos que realmente vão resultar no desenvolvimento econômico e social para o Estado do Rio de Janeiro”, afirmou.

Ao garantir que a pesquisa é importante tanto no meio acadêmico quanto para o cotidiano das pessoas, ressaltou que o Estado avançou nesse quesito, tendo investido R$ 6 milhões nos laboratórios da Rede Faetec, da Fundação de Apoio à Escola Técnica. Com sua experiência de empresário, lembrou que o investimento em ciência é igualmente importante para as empresas.

“Nós não estamos fazendo nada diferente a não ser aprender com vocês, pesquisadores”, admitiu Rodrigues.

Sigam em frente

Em seguida, foi a vez do pesquisador Mario Fritsch Toros Neves, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), discursar em nome dos Cientistas do Nosso Estado. Para ele, o número de inscrições para os editais de CNE e JCNE (1.167) está muito aquém do desejável e certamente reflete os tempos difíceis que o País atravessa.

Neves parabenizou os pesquisadores que se dispuseram a continuar na carreira acadêmica e estimulou aqueles que não foram contemplados: “Não desistam, vão em frente. Sempre há uma chance de você tropeçar em algo maravilhoso, pois nunca ouvi falar em ninguém que tenha tropeçado em algo enquanto estava sentado”.

Neves também destacou o crescimento da participação feminina em todos os cursos Biomédicos; deu o exemplo do curso de Medicina da Uerj, do qual é diretor, onde 70% dos ingressantes do primeiro ano são mulheres, e reconheceu como um passo importante a decisão da FAPERJ em ampliar em um ano o período de avaliação de produtividade no caso de pesquisadoras que tiveram filhos.

Neves disse que verificou os títulos dos trabalhos vencedores e ficou impressionado com a diversidade de temas, áreas e aplicabilidades, e seus diferentes impactos sociais, culturais e científicos a serem alcançados. Diante disso, o pesquisador questionou como será o futuro.

“Hoje estamos vivendo a chamada 4ª revolução industrial. Vamos ouvir cada vez mais alguns termos como internet das coisas, sistemas integrados, computação nas nuvens, cenário de simulação, realidade aumentada, big data, entre outros. Muitas profissões não existirão mais em 20 anos e outras desconhecidas aparecerão. Mas algumas delas permanecerão, entre elas o professor e o pesquisador”, disse.

Em sua opinião, para acompanhar essas mudanças é necessário dar início à Educação 4.0 como uma nova forma de ensino, e também a Pesquisa 4.0, aproximando-a mais da sociedade, e a sociedade dos pesquisadores. Nesse sentido, Neves considera excelente a recomendação da FAPERJ para que os cientistas realizem palestras ou atividades em escolas públicas durante a vigência do projeto.

Ao final, deixou uma mensagem para os colegas pesquisadores: “Em todos os caminhos, encontraremos algumas dificuldades, mas você é que decide se ela será maior do que sua vontade de superá-la”. E voltou-se ao governador e ao secretário de C,T&I, reconhecendo as dificuldades do governo, mas afirmando que os pesquisadores não são o problema, mas parte da solução.

Equipes multidisciplinares

Fernando Lázaro, Mario Fritsch e Claudia Figueiredo: discursos enfatizaram a importância da FAPERJ no fomento à ciência, tecnologia e inovação no Estado do Rio de Janeiro (Fotos: Lécio A. Ramos)

Em nome dos 254 pesquisadores das sete redes de pesquisa em Nanotecnologia, o físico Fernando Lázaro Freire Junior, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), afirmou que os recursos aplicados em C&T são investimentos indispensáveis para o desenvolvimento e a redução de desigualdades no País, e não gasto.

Ele lembrou que os recentes cortes e suspensões de bolsas por parte de agentes federais, embora em parte revertidos, têm um impacto negativo sobre as expectativas de jovens que estão prestes a entrar no sistema de pós-graduação. Elogiou o fato de a FAPERJ ter assumido o pagamento das bolsas dos medalhistas fluminenses das Olimpíadas Brasileira de Matemática, e agradeceu o apoio do secretário Leonardo Rodrigues nesse sentido, mesmo diante das dificuldades fiscais enfrentadas pelo governo.

“Mais do que gerar avanços tecnológicos que nos permitem conhecer a estrutura da matéria, a nanotecnologia é revolucionária porque rompe conceitos antigos e passa a ser um amplo guarda-chuva que pode abrigar diversas equipes e conhecimentos”, afirmou.

Para ele, a estrutura de rede de pesquisa é amplamente adequada à nanotecnologia por permitir, naturalmente, a formação de equipes multidisciplinares. Destacou que dos 254 contemplados, nas áreas de saúde, materiais nanoestruturados e nanodispositivos, 110 possuem bolsa de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Lázaro lembrou que as redes têm como objetivo a geração de conhecimento básico, a formação de recursos humanos e a geração de produtos e pequenas empresas de base tecnológica (startups), que certamente levarão inovação a diversos setores da sociedade e contribuirão para o desenvolvimento do estado do Rio.

Entre as 25 instituições contempladas na edição 2019 dos editais Cientista do Nosso Estado (CNE) e Jovem Cientista do Nosso Estado (JCNE), as que receberam um maior número de bolsas foram a UFRJ (119); Universidade Federal Fluminense – UFF (48), Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Uerj (42), PUC-Rio (26), Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz (22), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ (11) e Universidade Estadual do Norte Fluminense – Uenf (8), além de outras 19 instituições sediadas no Estado. As grandes áreas do conhecimento que receberam o maior número de bolsas no CNE e JCNE, em ordem decrescente, são: Ciências Biológicas (80), Ciências Exatas e da Terra (60), Ciências Humanas (53), Engenharias (41), Ciências da Saúde (36), Ciências Sociais Aplicadas (27).