Primeira da família a entrar na faculdade, Angélica Thomaz Vieira podia não ser a melhor da turma na escola, mas sempre foi boa aluna e nunca teve dúvidas de que se tornaria bióloga. Hoje, a nova afiliada da Regional Minas Gerais & Centro-Oeste da Academia Brasileira de Ciências, para o período de 2019 a 2023, tem a imunologia como foco do seu trabalho de pesquisa.

Nascida em Belo Horizonte, Angélica passou sua infância entre a capital e a cidade de Gororós, na fazenda dos avós. Aos 11 anos, teve que lidar com a morte do pai, e sua mãe e seu irmão mais velho tiveram que se readequar para o sustento da família. Agradecida, a bióloga ressalta: “Minha mãe nunca mediu esforços, mesmo contra toda a minha família, para me ajudar a estudar e sempre apoiou a minha carreira de cientista, desde a iniciação científica”.

Quando criança, adorava brincadeiras comuns como pique-esconde, pular corda, escorregar de papelão nos morros, mas também era fascinada pelos jogos de alquimia, que eram caros demais para ela, mas aproveitava quando uma colega de turma levava para a escola.

Em 2002, Angélica iniciou a graduação em ciências biológicas na Famih – Faculdades Metodistas Integradas Isabela Hendrix. Logo na primeira semana de faculdade, ficou sabendo dos laboratórios de pesquisa na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e foi prontamente “bater de porta em porta” em busca de um estágio voluntário.

Em sua busca, teve a sorte de ser recebida no laboratório de Imunofarmacologia, coordenado pelo Acadêmico Mauro Teixeira, que acabou por se tornar seu orientador durante toda sua vida acadêmica.

Em 2007, Angélica começou o mestrado em bioquímica e imunologia na UFMG e, no ano seguinte, ingressou no doutorado em bioquímica e imunologia, com período sanduíche no Garvan Institute, na Austrália.

De 2011 a 2016, realizou quatro programas de pós-doutorado: três na UFMG e um no Centre National de la Recherche Scientifique, na França.

“Não posso deixar de destacar o papel dos meus orientadores, Mauro Teixeira e Charles Mackay, pelos quais tenho uma admiração muito grande. Adoro a frase de Isaac Newton: ‘Se vi mais longe é porque estava sobre o ombro de gigantes’”.

Como pesquisadora, Angélica tem focado nos efeitos que uma má alimentação, baseada em uma dieta pobre em fibras, pode provocar sobre bactérias que vivem no intestino humano. Ela estuda como isso pode impactar nas doenças infecciosas causadas por super bactérias, resistentes a antibióticos. Por outro lado, ela tem investigado se uma alimentação balanceada, rica em fibras, pode servir como terapia para tratar de infecções e tem buscado entender como isso seria possível, explorando os efeitos nas bactérias da microbiota intestinal.

Professora adjunta do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, aos 37 anos Angélica já foi agraciada com alguns prêmios importantes, como o Young Woman in Science, o Prêmio Thereza Kipnis e o Para Mulheres na Ciência.

E como mulher, cientista e mãe, a bióloga conta que a maternidade se revelou como o principal desafio para sua carreira atualmente. Mas, ela vê nisso uma oportunidade de servir de exemplo e mostrar a todas e todos que é possível conciliar as duas coisas.

“Eu pretendo contribuir imensamente, atuando junto aos meus pares na luta pela defesa da nossa carreira e também de servir de exemplo e estímulo para novas gerações de cientistas, principalmente de mulheres cientistas”, declara a nova afiliada da ABC.