Aos 35 anos, Gabriel Silveira Denicol observa a carreira que construiu até agora e reconhece os desafios enfrentados como pesquisador brasileiro e os privilégios adquiridos por ter recebido uma educação de qualidade. Como novo membro afiliado da Regional Rio de Janeiro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), para o período de 2019 a 2023, Gabriel quer atuar em defesa da ciência e da educação, e mostrar para a sociedade a importância da pesquisa desenvolvida no Brasil.

Nascido na cidade do Rio de Janeiro, o cientista passou a maior parte de sua infância em Macaé, no interior do estado, e morou dois anos em Londres, na Inglaterra, quando seu pai foi cursar o mestrado em geologia. Ele destaca que teve uma infância privilegiada, “principalmente se tratando de um país como o Brasil”. Sempre estudou em boas escolas e seus pais tiveram condições financeiras de dar tudo o que precisava.

Durante o período escolar, nunca teve muito interesse nas ciências da natureza. Suas matérias favoritas eram história e matemática. Mas, depois de ler “Uma breve história do tempo”, do físico Stephen Hawking, decidiu que precisava aprender mais sobre mecânica quântica e relatividade. Foi assim que, em 2003, ingressou no bacharelado em física na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Já no segundo período da graduação, Gabriel começou a fazer iniciação científica em física nuclear de altas energias, sua área de atuação até hoje, sob a orientação do Acadêmico Takeshi Kodama.

“Antes de entrar para a faculdade, jamais imaginei que trabalharia em algo relacionado a física nuclear, que considerava chata, mas mudei completamente de ideia. Minha interação com o Kodama certamente moldou a minha carreira”, conta o afiliado da ABC. De fato, ele explica que foi também graças ao professor Kodama que foi aceito para um programa de doutorado na Universidade de Frankfurt, na Alemanha. Em 2009, após concluir o mestrado, Gabriel Denicol foi para a Alemanha fazer o doutorado em física teórica, orientado pelo professor Dirk Rischke.

Sobre esse período, o cientista lembra: “Percebi, pela primeira vez, como o Brasil é um país isolado cientificamente e como as informações sobre os temas de pesquisa mais relevantes demoram para chegar. Além disso, ficou muito claro para mim o quão pouco o Brasil investe em ciência: na Alemanha, tinha dinheiro para fazer qualquer coisa, enquanto, no Brasil, era difícil obter dinheiro até para as atividades mais básicas”, completa.

Ainda assim, Denicol ressalta que sua carreira só se concretizou em razão da existência de universidades públicas e de qualidade, tanto no Brasil quanto na Alemanha.

A partir de 2012, quando concluiu o doutorado, o físico realizou ainda três programas de pós-doutorado: dois na McGill University, no Canadá, e um no Brookhaven National Laboratory, nos Estados Unidos.

Professor adjunto da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, é lá que Gabriel Denicol conduz sua pesquisa na área da física nuclear relativística. A investigação acontece a partir do plasma de quarks e glúons (um precursor da matéria como é conhecida hoje) criado pelos maiores aceleradores de partículas do mundo (o RHIC, nos Estados Unidos, e o LHC, na Europa). Em sua pesquisa, Gabriel busca entender teoricamente as propriedades da nova fase dessa matéria nuclear (com a menor viscosidade cinemática observada na natureza) e explicar as observações feitas pelo RHIC e o LHC.

Sobre sua nova posição como membro afiliado da ABC, o físico declara: “Se perguntado há um ano, eu diria que a minha expectativa era a de contribuir para melhorar a pesquisa que é desenvolvida no Brasil e ajudar a aproximá-la do patamar europeu e norte-americano. Hoje, a minha expectativa é ajudar a evitar o desmanche da ciência e educação no Brasil e tentar conscientizar a nossa sociedade sobre a importância da pesquisa que é desenvolvida no nosso país”.

Gabriel Silveira Denicol

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