Leia o comentário do professor e pesquisador da UFRJ e Acadêmico Jerson Lima Silva sobre o prêmio Nobel de medicina de 2018:

“O câncer é um grave problema de saúde pública no mundo, correspondendo à segunda causa de morte. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), os diferentes tipos de câncer resultarão em cerca de 9,6 milhões de mortes. Por se tratar, na realidade, de várias doenças, algumas extremamente malignas, é extremamente importante a busca de novas estratégias terapêuticas. Os dois laureados deste ano com o Prêmio Nobel de Medicina fizeram contribuições científicas inovadoras, que estão abrindo a possibilidade de novas terapias.

Os pesquisadores fizeram descobertas baseadas no estímulo da habilidade inerente do sistema imune para atacar as células tumorais e que estão servindo como um novo princípio para terapia do câncer.

James P. Allison, professor do Centro de Câncer MD Anderson da Universidade de Texas, estudou durante anos uma proteína, denominada CTL4, proteína esta que funciona como um freio das células T do sistema imune. Esse freio é importante para evitar uma resposta exacerbada, como ocorre, por exemplo, nas doenças autoimunes.

Allison teve a grande ideia de fazer o contrário: encontrar uma maneira de liberar esse freio e fazer o sistema imune atacar a célula tumoral. E fez isso exatamente utilizando anticorpos que se ligam na CTL4, bloqueando a sua ação e estimulando o ataque a um tumor.

Em 1994, quando ainda estava na Universidade da California, Berkeley, ele teve sucesso em impedir o crescimento de um tumor em camundongos usando a estratégia do bloqueio do freio. Esses resultados mostraram, de forma inequívoca, a cura de animais com câncer quando tratados com anticorpos contra o freio, através da liberação da atividade de células T antitumorais.

Apesar do grande sucesso, os experimentos pré-clínicos não despertaram muito interesse da indústria farmacêutica. Alguns anos mais tarde, vários estudos em humanos confirmaram os resultados pré-clínicos e foram particularmente eficientes em pacientes com melanoma avançado.

Tasuku Honjo, da Universidade de Kyoto, foi o outro laureado pela descoberta de uma outra proteína, a PD-1, que também é expressa na superfície de células T. Honjo descobriu que a PD-1 também funcionava como um freio da atividade da célula T através de um mecanismo diferente da CTLA-4. Honjo e outros pesquisadores mostraram que o bloqueio da PD-1, em modelo de câncer animal, também levava à regressão do tumor.

O pesquisador japonês publicou vários trabalhos, muito elegantes, de como funcionava a proteína PD-1. Os trabalhos feitos durante quase duas décadas impulsionaram o uso da PD-1 como um alvo para o tratamento de pacientes com diferentes tipos de câncer. Resultados impressionantes foram obtidos na cura ou remissão de longo prazo de várias formas metastáticas de câncer revelados nos últimos seis anos.

O Comitê do Prêmio Nobel do Instituto Karolinska comentou que há quase cem anos, antes de Allison e Honjo, pesquisadores buscaram estratégias para engajar o sistema imune no ataque às células tumorais. Os trabalhos dos dois laureados mostram claramente a importância da pesquisa básica no entendimento dos mecanismos de ação de proteínas do sistema imune e de células tumorais.

Nos dois casos, duas abordagens diferentes, mas relacionadas, estão criando uma grande revolução no tratamento do câncer, que se aliam a outros tratamentos como a quimioterapia e a cirurgia.”

Veja a página original do Prêmio Nobel de Medicina 2018.