‘Ciência e tecnologia é hoje o outro nome de independência’, diz Ciro Gomes em visita à ABC

A Academia Brasileira de Ciências (ABC) recebeu em sua sede na quinta-feira (13) o candidato à Presidência pelo PDT, Ciro Gomes, para debater propostas para as áreas de ciência, tecnologia e inovação no Brasil com o presidente da Academia, Luiz Davidovich. Desde junho, a ABC já recebeu o presidenciável João Goulart Filho (PPL) e os candidatos à vice-presidência Manuela D’Ávila (PCdoB) e Christian Lohbauer (Partido Novo). Além de discutirem a situação da ciência no país e apresentarem suas perspectivas sobre o setor, os candidatos recebem o projeto elaborado pela ABC para tratar de ciência, tecnologia, economia e qualidade de vida no Brasil.

Antes de se dirigir ao auditório lotado, onde o esperavam  representantes da comunidade científica, Ciro participou de uma breve coletiva de imprensa na sala de reuniões da Academia, acompanhado do presidente da ABC. Perguntado sobre o repasse de verbas para as áreas de ciência e tecnologia, o candidato disse que proibirá o contingenciamento de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).

“O problema nosso é que destruímos as contas públicas brasileiras. Tecnicamente, temos condição de virar o jogo rapidamente com as propostas que eu tenho. Uma tributação mais progressiva sobre os mais ricos, uma tributação que tire o ônus pesado sobre os mais pobres e a classe média, uma revisão das renúncias fiscais ociosas que não correspondem a estímulos estratégicos ao país para gerar emprego” completou o candidato.

Luiz Davidovich: “o poder do conhecimento é muito maior que o poder das armas”

Dando início ao debate no auditório, que ficou ainda mais cheio com o deslocamento dos jornalistas para lá, o presidente da ABC abriu  a sessão ressaltando que a Academia Brasileira de Ciências é apartidária, mas não é apolítica. “Convidamos todos os candidatos de todos os partidos para que venham aqui conversar conosco e reforçar o apoio à ciência, tecnologia, inovação e educação em seus programas”. Ele destacou, a seguir,  as conquistas e os desafios da ciência brasileira. ”

Davidovich apontou que a ciência brasileira já deu demonstrações consistentes de que serve à sociedade brasileira. “Há pouquíssimos anos as pessoas diziam que o pré-sal seria uma aventura, que não ia dar certo, que era caro demais. Agora o pré-sal é responsável por mais de 50% do petróleo produzido no Brasil. Não foi mágica, foi ciência”. Falando sobre a área da saúde, apontou demonstrações evidentes. “Tivemos a epidemia recente da Zika, onde a ciência brasileira brilhou intensamente, não só através de publicações importantes nas melhores revistas internacionais, mas também mostrando à sociedade que os cientistas estão aí para enfrentar os problemas que afetam a sociedade brasileira” lembrou o presidente da ABC.

Ele destacou uma pesquisa recente que mostrou que saúde e educação são os problemas prioritários para os cidadãos brasileiros, temas estreitamente ligados à ciência e à tecnologia. Davidovich relatou que além da dificuldade em inovação, o país também sofre com a desigualdade na educação básica e que estes obstáculos devem ser superados para o desenvolvimento e avanço da ciência brasileira. “Os outros países estão levantando voo e nós estamos patinando”, alertou o presidente.

Neste contexto, a ABC, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e as sociedades científicas no geral têm lutado arduamente pela ciência, tecnologia, inovação e educação brasileiras. “Fazemos isso porque acreditamos que no mundo contemporâneo o poder do conhecimento é muito maior que o poder das armas”.

Ciro Gomes: 2% do PIB para investimento em ciência e tecnologia

O candidato deu início a sua fala expondo sua abordagem econômica e pontuou propostas para o investimento em ciência e tecnologia. “Trata-se de desenhar estruturalmente uma compreensão do Brasil, do seu papel no mundo e a relação complexa do Estado nacional brasileiro, falido, com a nossa economia. E com as inerências dessa economia, entre elas e especialmente, a inteligência nacional: a ciência, a tecnologia e a inovação”.

Ciro Gomes também reconheceu o papel fundamental da ciência e da educação no desenvolvimento social. “Não há como se pensar em ciência, tecnologia e desenvolvimento sustentável com evasão de 60% nas três séries do ensino médio. Não há chance nenhuma. Não há como um país ter produtividade com 700 mil casos de malária na Amazônia. Não há como se ter produtividade com 600 mil casos de dengue, com a volta do sarampo, da poliomielite, da mortalidade infantil. Não dá pra pensar em desenvolvimento com escolarização média de nove anos”.

“Ciência e tecnologia é hoje o outro nome de independência. É nesse plano que eu compreendo a questão da tecnologia (…) Se você tem [ciência e tecnologia] você é uma nação independente, se você não tem, se torna um protetorado alheio” afirmou Gomes.

O presidenciável explicou que quer destinar, por meio de ferramentas do Estado e das empresas, 2% do PIB para o investimento em ciência e tecnologia. Ele informou também que deseja descontingenciar, de forma obrigatória, deixando inclusive para seus sucessores o imperativo legal que o Fundo Nacional de Ciência e Tecnologia não possa ser contingenciado e que pretende presidir pessoalmente o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia.

Ciro Gomes encerrou fazendo um apelo aos cientistas e pesquisadores presentes: “Eu vou estressar a comunidade técnico-científica pra me explicar e superar a contradição de sermos o 13º país do mundo em publicação de papers de ciência e sermos o 76º país do mundo em produção de inovação. Isto não é mais razoável. Nós somos um país muito pobre que precisa dar utilidade prática para vida do nosso povo para anteontem”.

Assista abaixo a transmissão na íntegra da visita do candidato a ABC:

Veja a repercussão em outras mídias:

G1

TV Globo, Jornal Hoje, 13/9 – a partir de 16:22

TV Globo – Jornal Nacional 

Reuters

Valor Econômico

Estadão