elibio_edit2-2.jpgA Justiça Federal em Brasília autorizou, em decisão liminar, a comercialização de um mosquito transgênico produzido pela empresa Oxitec, companhia de origem britânica que desenvolve insetos modificados para atuarem no combate à dengue. Diretor da ABC, o pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Elibio Rech avalia como positiva a decisão da Justiça, mas faz ressalvas.

Segundo o cientista, a tecnologia desenvolvida pela Empresa Oxitec constitui um avanço significativo da C&T referente ao controle da população de mosquitos, vetores de vírus causadores de doenças como dengue, zika, chikungunya e febre amarela. “A aprovação de ‘liberação comercial’ no país foi emitido pela da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) em 2014. Em abril de 2016, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Brasil (Anvisa) anunciou que concederia um registro temporário especial para a tecnologia da Oxitec. Estudos requeridos pelas agências de regulamentação foram realizados pela empresa Oxitec. Os resultados apresentaram evidências, referente a eficácia da tecnologia e possíveis impactos na saúde humana, animal e ao meio ambiente”, diz Rech.

O pesquisador ressalta que o Brasil possui um arcabouço de sustentação regulamentar de alta competência, incluindo as agências CTNBIO e Anvisa e considero fundamental o cumprimento efetivo de todos os estudos requeridos pelas agências de regulamentação e apresentação das evidências. “Fato que deverá possibilitar a efetiva análise e parecer conclusivo sobre a importante tecnologia para o controle da população de mosquitos. Com a garantia da segurança para a população, antes que o produto possa chegar a aplicação comercial”, conclui Rech. Confira abaixo a matéria da Folha de S. Paulo sobre o assunto:

aedes_aegypti_edit-2.jpgUma decisão liminar da Justiça Federal em Brasília autorizou a comercialização de um mosquito transgênico produzido pela Oxitec, empresa de origem britânica. A companhia entrou com a ação em janeiro deste ano.

Em 2014, a Oxitec obteve licença da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, órgão responsável por verificar a segurança de novas biotecnologias no Brasil). O órgão aprovou a liberação dos seus insetos no ambiente, em larga escala (comercial), declarando a inexistência de perigo para a saúde humana, animal ou ambiental. Desde aquele mesmo ano, a empresa aguarda registro comercial da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para vender os mosquitos que combatem as doenças transmitidas pelo Aedes aegypti.

Na decisão, o juiz Renato Borelli, da 20ª vara, suspendeu o trâmite dos processos administrativos existentes no âmbito da Anvisa que tratam da regulação e liberação comercial do mosquito transgênico OX513A, produzido pela Oxitec.

Os insetos geneticamente modificados fabricados pela empresa são todos machos e têm um gene que faz sua descendência morrer antes de atingir a fase adulta. Assim, ao copularem com as fêmeas selvagens, eles tornam a prole inviável.

No despacho do dia 22 de março, o juiz levou em consideração o aval concedido ao inseto modificado pela CTNbio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança). “Assim”, escreve Renato Borelli, “não havendo riscos à saúde humana ou ao meio ambiente quando comparado à mesma espécie não geneticamente modificada, o órgão de registro e fiscalização [Anvisa] (…) deveria ter observado a decisão técnica da CTNbio e promovido o registro do produto”.

Para Borelli, a documentação trazida aos autos ‘dá conta de processo administrativo que se desenrola desde 2014 e que discutiu até o momento, basicamente, a competência da Anvisa para análise do feito’.

ANVISA
Para Jarbas Barbosa, diretor-presidente da Anvisa, a decisão judicial é equivocada. “A Anvisa não pode dar um registro baseada na avaliação de qualquer outro órgão, mas somente a partir de sua própria avaliação.”

Segundo ele, os parâmetros analisados pela agência de vigilância sanitária são diferentes dos analisados pela CTNbio.

“Na Anvisa nós vamos olhar fundamentalmente se o mosquito transgênico é seguro e eficaz para ser usado em saúde pública no controle dos vetores da dengue, zika e chikungunya. A CTNBio analisou outra coisa, se o inseto modificado traria riscos à biosegurança etc.”

Segundo Barbosa, a agência irá recorrer da decisão.

A reportagem questionou a Oxitec sobre quais são as consequências da decisão para os negócios da empresa e se a decisão permite que a empresa venda os mosquitos a prefeituras interessadas na estratégia.

Em nota, a empresa disse apenas que segue a legislação em todos os países onde se estabelece, agindo em conformidade com os parâmetros legais em vigor e que desde abril de 2014 possui autorização da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) — órgão responsável pela regulamentação de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) no Brasil– para liberação da linhagem OX513A em todo o território.