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Em matéria publicada na revista Nature, o jornalista Quirin Schiermeier relata que partidos políticos da Alemanha parecem próximos de formar um governo de coalisão que pretende investir pesado em ciência. O orçamento da área pode passar de 3 para 3.5% do PIB até 2025, se a coalisão se confirmar. Isto corresponde ao investimento de dois bilhões e meio de dólares a mais por ano na área de ciência, tecnologia e inovação (CT&I). Este aumento colocaria a Alemanha em terceiro lugar no mundo em termos de investimentos em CT&I, atrás apenas da Coreia do Sul e de Israel.
Nos 12 anos em que Angela Merkel liderou o governo, o investimento na área dobrou. Um acordo de 2005 ainda garantiu um aumento de ao menos 3% para todas as principais organizações científicas do país, incluindo a Sociedade Max Planck, a Associação Helmholtz de Centros de Pesquisa da Alemanha e a Fundação Germânica de Pesquisa. Esta coalisão demonstra que o apoio à pesquisa continua sendo uma das prioridades do governo. Os partidos também acordaram investir no aumento da capacidade de geração de energia solar e eólica em 10% até 2020.
Para o presidente da Academia Brasileira de Ciências Luiz Davidovich, o acordo alcançado pela nova coalisão política da Alemanha em torno do orçamento para pesquisa supera a resolução da União Europeia de, até 2020, aplicar em pesquisa 3% do produto interno bruto (percentual já alcançado pelo Suécia).
“A Alemanha procura, com isso, posicionar-se na nova geopolítica do planeta, considerando que no mundo contemporâneo a pesquisa científica e tecnológica é um poderoso e necessário ingrediente para o protagonismo internacional”, afirmou, em entrevista exclusiva para a NABC. Disse ainda que, no cenário atual, desperta atenção o forte investimento da China em ciência e inovação tecnológica. O país pretende alcançar os níveis já atingidos por países como a Coreia do Sul e Israel, que aplicam mais de 4% do PIB em pesquisa e desenvolvimento (P&D), de acordo com o físico.
Davidovich chama atenção para o lugar do Brasil no mundo. “O Brasil não pode ficar indiferente a essa movimentação internacional, um verdadeiro jogo de xadrez, visando ocupar espaços comerciais e mesmo territoriais. O percentual próximo de 1% do PIB, aplicado atualmente em P&D, está levando o país à posição de espectador dessa disputa de trilhões de dólares. E, nesse jogo, os espectadores sempre perdem”, afirmou.
O presidente da Academia reafirmou que o país precisa reverter com urgência a atual política de financiamento às atividades de P&D, condição necessária para o bem-estar de sua população e para o seu protagonismo internacional.