O Acadêmico Alexander Kellner (de camisa azul-clara), que foi homenageado, entre participantes da PALEO RJ/ES 2016. No canto direito, de camisa azul-escura, o membro afiliado Leonardo Avilla, coordenador da reunião, e o Acadêmico Diógenes Campos, ao centro, de camisa cinza, que fez um depoimento sobre a relação de pai e filho científico entre ele e Kellner

No dia 9 de dezembro, aconteceu na sede da Academia Brasileira de Ciências (ABC) a Reunião Anual do Núcleo Rio de Janeiro/Espírito Santo da Sociedade Brasileira de Paleontologia (PALEO RJ/ES 2016). O evento foi organizado pela equipe do membro afiliado da ABC Leonardo Avilla, coordenador do Laboratório de Mastozoologia do Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências (IBIO) da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). A PALEO RJ/ES 2016 foi um evento abrangente, de forma que foram representados todos os grupos de pesquisa atuantes em paleontologia nos dois estados envolvidos. Veja o livro de resumos para conferir todas as áreas de estudo que foram abordadas no encontro.

A reunião incluiu dez apresentações, duas sessões de pôsteres e duas palestras especiais. A primeira intitulava-se “Os desafios e avanços recentes no conhecimento sobre a árvore evolutiva dos lepidossauros”, apresentada pelo paleontólogo Tiago Simões, doutorando em ciências biológicas do programa Evolution and Systematics pela University of Alberta (Canadá), com pesquisa na área de paleozoologia. A segunda palestra foi sobre “250 anos de Paleontologia de Vertebrados na América do Sul – O Melhor Está Por Vir”, ministrada pelo Dr. Pedro de Luna (conhecido como Peter Moon), jornalista especializado nas áreas de ciência e tecnologia e doutor em História da Ciência pela Universidade de São Paulo.

 
“Com a apresentação dos trabalhos, ficamos sabendo o que cada um está fazendo na comunidade do Rio e Espírito Santo”, disse. “Vimos várias pesquisas interessantes; por exemplo, um achado na Antártica envolvendo amonitas, que são parentes dos polvos e lulas. Já o meu grupo falou sobre uma descoberta que fizemos de uma lança dentro de um crânio de um mastodonte filhote, localizado em Minas Gerais nos anos 40. Conseguimos encontrar esse artefato usando técnicas mais modernas de tomografia.”

Ao final do evento, foi feita uma homenagem ao Acadêmico Alexander Kellner, paleontólogo do Museu Nacional/UFRJ e editor-chefe do periódico científico Anais da ABC. A homenagem, promovida pela Sociedade Brasileira de Paleontologia, teve a participação de colegas, alunos, amigos e familiares de Kellner, que o surpreenderam com uma apresentação que incluía depoimentos em vídeos, fotos e informações sobre sua carreira.

Com uma trajetória na paleontologia de mais de 30 anos e uma paixão especial por pterossauros (répteis voadores), Alexander Kellner já produziu mais de 220 artigos originais e quase 850 publicações. Também organizou diversas exposições (como a aclamada mostra “No tempo dos dinossauros”, que atraiu mais de 200 mil pessoas no Museu Nacional, em 1999, e foi um divisor de águas para tornar a paleontologia mais conhecida do grande público) e orientou dezenas de monografias, dissertações e teses.

“Fiquei muito comovido”, afirmou Kellner, que se emocionou com os depoimentos que lembraram de histórias pitorescas e detalhes da personalidade marcante do paleontólogo. “Procurei orientar meus alunos em momentos complicados de suas carreiras, sobretudo nas situações que vivemos nesse admirável mundo novo das publicações, tão influenciado pelo bakery effect, com declarações e afirmativas fortes tais como: você pode mentir para quem quiser, mas não para si mesmo! Ainda considero essa uma questão interessante que merece reflexão.”

Kellner acrescentou: “É bem bacana poder olhar para trás com o sentimento de ter influenciado, de forma positiva, o desenvolvimento da pesquisa de fósseis no nosso país – seja na formação de recursos humanos, seja na popularização da pesquisa, ou seja na produção de conhecimento científico”. Ele afirmou que excelentes orientadores o auxiliaram muito nessa jornada, como o Acadêmico Diógenes Campos. “Ele começou como orientador e se transformou em um verdadeiro amigo, não apenas pela amizade, mas, sobretudo, pelos conselhos em momentos decisivos de minha carreira. Não teria chegado aonde cheguei sem o apoio daquele baiano de Irará – nem teria conhecido um monte de bares pés-sujos por esse Brasil afora!”

Diógenes Campos comentou que foi o primeiro orientador de Kellner, quando ele ainda era estudante de graduação. “Você pode ensinar o cozinheiro a cozinhar, mas o churrasqueiro já nasce feito. Alex é um paleontólogo que já nasceu feito. Meu mérito foi apenas descobrir isso.”

O Acadêmico destacou, ainda, que a PALEO RJ/ES 2016 trouxe à lembrança reuniões semanais de apresentações de trabalhos que a Academia Brasileira de Ciências realizou por muitos anos, até a década de 80. “Sempre no final do ano, o Acadêmico Cândido Simões Ferreira [já falecido] organizava sessões de paleontologia, que geravam resumos que eram publicados nos Anais da ABC e, muitas vezes, acabam virando trabalhos. Hoje, a Vice-Presidência Regional do Nordeste & Espírito Santo da ABC continua realizando esses encontros, em Recife.”

Leonardo Avilla ressaltou que a realização do evento na ABC visou aproveitar o gancho do centenário da Academia, celebrado em 2016, e, por isso a homenagem a Alexander Kellner, um membro titular, era pertinente. “Ele é o maior paleontólogo do Brasil, uma das pessoas que mais divulgam a ciência brasileira no mundo, então faltava essa homenagem. Ele não esperava e ficou emocionado.”

O coordenador da reunião disse que o tributo buscou não apenas mostrar o reconhecimento dos pares de Kellner enquanto um cientista, mas também explorar um aspecto mais pessoal. “Todo mundo que conhece o Alex sabe que ele parece frio, mas não é, e isso ficou claro na homenagem, o carinho dele pelos alunos. Em um mundo em que esse lado emotivo é algo que fica muito distante, acho que ter um momento assim é bacana.”