Nascido em Belém e crescido em um município no nordeste do Pará chamado Peixe-Boi, o biólogo Anderson Herculano Oliveira da Silva apaixonou-se pelo desafio de fazer ciência no Norte do país. “Tenho a convicção de que ser cientista é a melhor forma que eu tenho e posso contribuir para a melhoria da vida do povo da minha região”, diz o recém-eleito membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC), para o período 2016-2020.

Herculano teve uma infância difícil por conta de questões financeiras e do local afastado em que morava, mas sempre esteve rodeado de amigos. “Minhas brincadeiras foram ao ar livre, tomando banho de rio e sempre envolvendo muita imaginação. Adorava ouvir histórias”, diz o cientista que, no colégio, nunca teve preferência por matérias: sempre se interessou por tudo.

Sua mãe era professora primária, então, desde o seu primeiro ano de vida, Herculano frequentava o ambiente escolar. Enquanto a mãe dava aulas, as serventes e vigias da escola cuidavam do futuro cientista. “Não sei dizer o que despertou meu interesse pela ciência, mas, depois que ingressei na carreira, fui influenciado por agentes revigorantes do espírito de ser cientista, como os Acadêmicos José Antunes Rodrigues (USP-RP), Fernando Garcia de Mello (Biofísica-UFRJ), Maria Paula Schneider (Universidade Federal do Pará – UFPA) e Luiz Carlos de Lima Silveira (UFPA), [falecido recentemente].”

Na UFPA, Herculano fez a graduação em biologia e a iniciação científica. “Ingressei no melhor laboratório de genética da universidade, o LPDNA, capitaneado pela Dra. Paula Schneider. Depois, como todo amor, ele se foi, e tratei logo de arrumar outro amor: o Laboratório de Neuroquímica Molecular e Celular, do Dr. José Luiz Martins do Nascimento. Com este amor vivi até o final de minha formação e lá resolvi dedicar minha vida para fazer pesquisas.”

Ainda na UFPA, o afiliado seguiu no mestrado em ciências biológicas e no doutorado em neurociências e biologia celular. “Não na graduação, mas na pós-graduação, o marcante foi conhecer a beleza e a maravilha do método científico”, conta Herculano. Hoje, ele é professor adjunto na UFPA, onde coordena o Laboratório de Neurofarmacologia Experimental do Instituto de Ciências Biológicas e o Programa de Pós-Graduação em Neurociências e Biologia Celular.

Herculano dedica-se a entender como a química do cérebro controla o comportamento associado ao transtorno da ansiedade e à síndrome do pânico. “Eu faço neuropsicofarmacologia experimental e, com meu modelo, procuro desvendar que sistema de neurotransmissão pode ser manipulado farmacologicamente para minimizar ou controlar esses transtornos.” Mas a curiosidade do cientista vai além. Ele também estuda o sistema visual e tenta demonstrar que moléculas antioxidantes podem atuar como neuromoduladores da função visual.

Para Herculano, o encantador na ciência é a possibilidade de desvendar os fenômenos naturais: “É um presente que ganhamos no curso da evolução. Tudo me encanta nas diversas áreas da ciência, mas o funcionamento da neuroquímica cerebral é o que hoje me chama mais atenção”. Quando deixa o laboratório, o cientista gosta de ler poesias, livros de divulgação científica e jogar videogame, “uma das maravilhas inventadas pelo homem”.

Ele considera que o título de membro afiliado da ABC é um reconhecimento inesperado. “Sempre quis ser membro titular da ABC, uma vez que ali é o Elísio onde se concentra o que temos ou tivemos de melhor no que tange aos cientistas brasileiros. Estar próximo a eles, mesmo que temporariamente, é uma honraria imensurável; para quem veio de Peixe-Boi então, nem se fala!”

O novo afiliado – na foto, com o presidente da ABC – conta que tentará atuar de forma proativa para divulgar em sua região a importância da ciência para o engrandecimento do homem, além de conscientizar sobre a importância do cientista amazônida para o desenvolvimento regional. “Ou seja, divulgar a ciência para que, quem sabe, o tempo minimize as assimetrias que existem entre as regiões do Brasil. Tudo isso com o estandarte da ABC.”