Uma das áreas que tem despertado um interesse recente dos estudiosos da ciência e educação é a das disciplinas STEM. O termo “STEM Education” – Science, Technology, Engineering and Math – compreende o ensino de ciências, matemática, física, química e biologia. O tema foi abordado na conferência “Como as ciências da aprendizagem podem melhorar o ensino de STEM”, do biólogo norte-americano Jay Labov, durante a 10ª edição da Reunião Magna da Academia Brasileira de Ciências (ABC). O evento comemorou o centenário da ABC e aconteceu no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, de 4 a 6 de maio.

Jay Labov é orientador-sênior de Educação e Comunicação das Academias de Ciências, Engenharia e Medicina dos Estados Unidos. Também supervisiona ações da Academia de Ciências dos Estados Unidos (NAS) para o ensino da evolução nas escolas públicas do país. Ele apontou que muitos estudantes que entram no ensino superior procurando seguir carreira em disciplinas STEM acabam desistindo ainda no início da faculdade.
Estudos dos Estados Unidos indicam que as razões para isso são o ensino pobre, o fato de a instituição de ensino se importar pouco com os alunos e a obrigação de aprender uma série de fatos desconexos e conceitos que têm pouca relevância para os seus interesses. “É importante ressaltar que muitos desses estudantes que decidem deixar as disciplinas STEM são academicamente capazes de completar esses cursos, de modo que uma grande quantidade de potenciais talentos está sendo perdida”, afirmou Labov.
Assim, o palestrante forneceu uma visão geral de algumas das importantes descobertas das ciências da aprendizagem e como elas podem ser aplicadas para a melhoria da educação STEM, especialmente para alunos de graduação. “As ciências cognitivas e de aprendizagem sugerem que muitas abordagens tradicionais de ensino não são embasadas por indícios de como as pessoas aprendem, por isso elas podem ser contraproducentes.”
Novas descobertas sobre as ciências do aprendizado
Labov citou uma pesquisa que revela diferenças marcantes nas formas de armazenar e aplicar o conhecimento por especialistas e novatos. Diferentemente dos novatos, os especialistas têm uma base de conhecimento rica que é hierarquicamente organizada. Eles também são capazes de observar e lembrar-se de grandes quantidades de informações complexas em seu domínio de especialização após exposições curtas a uma nova situação.
“Quanto mais se sabe sobre um assunto, mais fácil é aprender mais sobre o assunto”, afirmou Labov. “A transferência de informação é facilitada quando se conhece os vários contextos em que uma ideia se aplica. No entanto, a expertise em uma área não necessariamente se transfere para outras áreas.” Ou seja: “sabedoria” não pode ser ensinada diretamente, então o ensino deve ser orientado para a aquisição gradual de entendimento e experiência.
Mas ser um especialista em um tema não garante que a pessoa também seja eficaz em ensinar esse tema, informou o palestrante. Expertise em ensinar aquele assunto também é necessária. “Não adianta ensinar o conteúdo de uma disciplina sem ajudar os alunos a organizar esse conteúdo.” Por exemplo: procedimentos e equações usadas para resolver problemas em ciência e matemática são importantes, mas igualmente importantes são os princípios e conceitos dessas equações e como e onde eles podem ser aplicados posteriormente.
Segundo Labov, um novo aprendizado depende de aprendizados adquiridos anteriormente que, muitas vezes, acabam interferindo no que o professor pode estar tentando ensinar. “Quando um estudante fala besteira, você não pode dizer que ele está errado”, destacou. “É preciso deixá-lo pensar e se dar conta de que o que ele falou não faz sentido, para que ele veja por si próprio os fatos.”
Labov finalizou a palestra com uma citação atribuída a um anônimo por Albert Einstein, em sua obra “On Education”, coerente com o tema: “A educação é o que resta a uma pessoa depois de ela ter esquecido tudo o que aprendeu na escola.”