Tema recorrente em debates científicos no mundo todo, a “química verde”, ou seja, a reutilização ecologicamente correta de materiais, inclusive recursos energéticos, e o depósito apropriado de material tóxico, foi o tema da palestra do químico americano Roger Sheldon na Reunião Magna 2016, comemorativa dos 100 anos da Academia Brasileira de Ciências, realizada entre os dias 4 e 6 de maio no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro.
Economia linear x economia circular
“As gerações atuais não estão tirando proveito dos recursos naturais, estão pegando emprestado”, disse Sheldon, explicando que devem ser pensadas maneiras de repor aquilo que é tirado da natureza, de maneira que esses recursos não faltem às próximas gerações. Ele ressaltou também a importância de se pensar em maneiras sustentáveis de depositar e eliminar os produtos da química industrial, surgidos do lixo das indústrias farmacêutica e metalúrgica. “Resíduos não devem ser produzidos além daquilo que a natureza é capaz de assimilar”, disse Sheldon.
O que se tem hoje em dia na indústria, segundo o professor, é uma economia linear, em que se produz, utiliza e deposita, sem pensar na sustentabilidade. Em uma economia circular, os recursos seriam manufaturados e, após o uso, coletados e reciclados, reduzindo a produção de resíduos.
Uma das alternativas, segundo Sheldon, é a biocatálise, em que enzimas são produzidas a partir da reutilização de recursos e estas podem ser utilizadas para outros fins, ou depositadas no solo, pois são biodegradáveis.
Sheldon argumentou que, com as tecnologias atuais, seria possível fazer a derivação das enzimas a partir dos resíduos industriais em menor tempo e com custos menores. “O problema são as taxas [de poluição]. Precisamos equilibrar este ciclo, por exemplo, refinando a biomassa das plantas em açúcares”, disse o pesquisador, citando uma forma biocatálise.
Lembrando a obra fotográfica “Beleza intolerável” de Chris Jordan, que registrou imagens impressionantes de depósitos de lixo de consumo urbano no Estados Unidos, o professor cita as “plantbottles“, algo como “garrafas plantas”, fabricadas no Estados Unidos e recicláveis, embora não biodegradáveis, por serem feitas com materiais que permitem reações químicas que possibilitam a derivação de enzimas. Outro exemplo é a chuteira “Bio-TPU“, da Nike, produzida sob os mesmos critérios.
“A gente se pergunta: por que as coisas são tão difíceis de reciclar? A resposta é simples: elas não foram pensadas para isso”, diz professor Sheldon. É a hora de mudar essa mentalidade.