O Acadêmico Isaac Roitman, professor titular da Universidade de Brasília (UnB), publicou artigo no Blog da Política Brasileira em que diz considerar a junção do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação com o das Comunicações um sinal de retrocesso e uma “medida artificial que prejudicaria o desenvolvimento científico e tecnológico e de inovação do país”.

Sustentando sua posição, Roitman cita falas de Jacob Palis e Luiz Davidovich, respectivamente, último e atual presidentes da Academia Brasileira de Ciências.

Confira o artigo na íntegra:

Em 2011, em uma entrevista, o então Presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Jacob Palis indagado sobre “Qual a dimensão de nosso atraso científico em comparação aos países desenvolvidos?”, respondeu: “Europeus e americanos descobriram séculos atrás o valor da ciência, algo que os brasileiros só recentemente começaram a perceber. Pode-se dizer que os países mais desenvolvidos foram moldados por esse DNA. Neles, a elite sempre reconheceu a importância da escola e da propagação do conhecimento, o que a motivou, no decorrer do tempo, a destinar grandes somas de dinheiro a instituições de ensino. Com base nas últimas décadas, dá para afirmar que o Brasil avançou de modo relevante, formando pesquisadores de alto gabarito em diversas áreas. Só que ainda precisa despir-se de certo conservadorismo para acelerar o passo.”

O físico Luiz Davidovich, recentemente empossado (maio de 2016) como Presidente da ABC respondeu à seguinte indagação: “Como a atual conjuntura política brasileira afetou o setor?”
“Essa é uma pauta urgente. Vamos ter uma posição muito determinada em relação à CT&I no país. Quero mencionar os cortes substanciais nos orçamentos do MCTI e do MEC. Esses cortes interrompem ou atrasam o trabalho de rede de pesquisa, da oferta de bolsas, acaba prejudicando a pesquisa, a inovação e a educação. O corte de bolsas é especialmente dramático, porque atinge estudantes que, de fato, serão os pesquisadores de amanhã, do futuro do Brasil. São aqueles que poderão ser os grandes criadores da inovação tecnológica de que o Brasil tanto precisa. Serão os cientistas que vão estar associados às grandes revoluções do conhecimento e as grandes revoluções tecnológicas. Esses cortes atingem em cheio o futuro do país. Nós vamos lutar contra isso. O investimento do Brasil em P&D, atualmente, é da ordem de 1,5%. A proposta da Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação e também da ABC era no sentido de alcançar 2% do PIB de investimento em P&D em 2020. No andar da carruagem, esse objetivo é uma quimera, não sei se será alcançado. A ciência é motor do futuro, então se você joga fora esse motor você não vai chegar ao futuro. Com ajustes fiscais você pode até estabilizar a economia por certo tempo até a próxima crise. Nós queremos evitar essa sucessão de crises, de uma economia fortemente baseada em exportação de commodities. Queremos que se aumente o valor agregado da produção brasileira de modo que o país possa ter protagonismo internacional na ciência, no comércio, nos produtos que colocar no mercado internacional. Não podemos continuar vivendo nesse perfil que vem desde os tempos da colônia. ”
Fusão de ministérios é retrocesso

A recente fusão do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCTI) com o Ministério das Comunicações é um sintoma de retrocesso. Várias entidades científicas se manifestaram contra essa fusão por considerarem uma medida artificial que prejudicaria o desenvolvimento científico e tecnológico e de inovação do País. Os pesquisadores brasileiros têm uma profunda e séria percepção de que o momento pelo qual passa o país é extremamente grave, devido à atual conjuntura político-institucional e econômica. Diante desse quadro, é necessário fazer uma análise, solidamente estruturada, para minimizar os reflexos oriundos de acordos políticos que podem ameaçar os avanços conquistados, ao longo de décadas, pelas instituições de ciência, tecnologia e inovação para o desenvolvimento da sociedade brasileira. É notória, cada vez mais e em todo o mundo, a preocupação com o crescimento sustentável dos países por meio do investimento em políticas públicas direcionadas à ciência e à tecnologia, englobando diversas áreas de atuação dos governos, como saúde, meio ambiente, educação e outras. Ciência e tecnologia são molas propulsoras do desenvolvimento, mas de um desenvolvimento sustentável, voltado para a paz e o bem da sociedade.
O corte de bolsas e os cortes de auxílios para a pesquisas das principais agências de fomento e a possibilidade de paralização de atividades do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), instituição que tem o reconhecimento internacional de qualidade, são sintomas de estarmos caminhando para o fundo do poço. É preciso que toda a sociedade clame: “Não ao Retrocesso”. É importante relembrar Oswaldo Cruz que dizia: “Não esmorecer para não desmerecer. “