A educação científica é tema recorrente em eventos e grupos de estudo promovidos pela Academia Brasileira de Ciências. Na Reunião Magna 2016, realizada entre 4 e 6 de maio no Museu do Amanhã em comemoração aos 100 anos da instituição, foi o tema da palestra proferida pelo bioquímico estadunidense Bruce Alberts.

Após 27 anos confinado em um laboratório estudando mecanismos de hereditariedade, Alberts foi eleito presidente da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos (NAS) em 1993, precisando se mudar para Washington D.C. para assumir o cargo que ocuparia até 2005. Ele afirma que foi nessa época que se educou. “Esta foi a lição central de meus 12 anos em Washington: é de fundamental importância que professores e cientistas alcancem níveis cada vez maiores de influência em seus países e no mundo”, recordou.
A dedicação à educação científica pautou boa parte da carreira de Alberts durante sua gestão na NAS e após deixar o cargo, tendo realizado expedições em países como Índia e Quênia, levando propostas de divulgação científica ao público em geral e difundindo o site de Imprensa da NAS, com mais de 5 mil obras disponíveis.
Para disseminar o conhecimento científico, Alberts propõe que o ensino de ciências seja iniciado aos cinco anos de idade. “As crianças entram na escola muito curiosas, são todas pequenas cientistas”, diz Alberts, “mas com o tempo elas perdem esse interesse, porque percebem que só precisam decorar informações. Então, outras fontes como TV e internet acabam se tornando mais interessantes.”
Autor principal do livro “Biologia Molecular da Célula“, referência no estudo de citologia, Alberts foi requisitado ao fim de sua palestra por vários estudantes da área de biologia para fotos, rápidas conversas e autógrafos. Após uma das alunas abraçá-lo e se colocar ao seu lado, posicionando o celular à frente, o palestrante exclamou: “Eu jamais seria capaz de tirar uma selfie!
Pouco familiarizado com redes sociais, Alberts comentou que esse é um dos motivos pelos quais aprecia e incentiva a participação de jovens cientistas, inclusive em tomadas de decisões, mas acredita que a sua popularidade ajuda pouco na divulgação científica. “As pessoas precisam se sentir estimuladas a estudar ciências. Para crianças de cinco anos é muito estimulante compreender algo, resolver um problema. Nós precisamos lhes dar a chance de explorar”, disse o professor. “Nos Estados Unidos, por exemplo, as crianças aprendem sobre células com pouquíssima informação, apenas memorizando dados, o que torna o aprendizado entediante. E isso é triste, porque células são a coisa mais incrível do universo”, completou, rindo.
Para Alberts, o conhecimento científico não é necessário apenas para as pessoas que pretendem seguir a carreira de pesquisador.Ele destaca que precisamos fazer diversas escolhas em nosso cotidiano e a cultura científica nos ajuda a tomar as melhores decisões. Ou seja, é uma questão de cidadania.
“O mundo hoje é um lugar diferente”, reflete Alberts. “Não importa fazer a criança decorar informações que ela pode obter na internet em segundos. Nós precisamos ensinar as crianças como aprender, como usar corretamente a internet. É perigoso para um país quando as pessoas não conseguem pensar por si mesmas”, concluiu, sempre sorridente, esperando pela próxima pergunta.