A segunda sessão do evento “Desafios da Educação Técnico-Científica no Ensino Médio”, realizado entre os dias 30 de novembro e 1º de dezembro na sede da Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Rio de Janeiro, contou com dois palestrantes internacionais e focou no tema “Desafios da Educação STEM – Perspectivas Internacionais”.

Aplicação da Educação STEM

Cientista Chefe do New York Hall of Science (NYSCI, museu científico localizado na metrópole americana), Stephen Miles Uzzo apresentou as propostas da obra “STEM Integration in K-12 Education“, para a aplicação do ensino das disciplinas de ciências, tecnologia, engenharia e matemática (contempladas na sigla STEM) no ensino básico, desenvolvido por instituições americanas voltadas para a ciência.

A premissa do livro é promover o ensino integrado e interdisciplinar, sugerindo métodos de estudo e de ensino para os professores e aplicações do modo de ensino de STEM para os alunos do K-12, termo em inglês que engloba o ensino fundamental e médio.

Entre outras coisas, o livro recomenda que se observe o contexto educacional da instituição e do grupo onde a Educação STEM será aplicada e, a partir desse mapeamento, se estabeleçam metas para a aprendizagem escolar e objetivos mais concretos a longo prazo.

Segundo o modelo, ao se adotar esse método, os objetivos mudarão o contexto do grupo e do local onde se ensina e possibilitará o estabelecimento de novas metas, a partir de um novo desenho.

De acordo com Uzzo, a Educação STEM começou a ser proposta na década de 1950, quando a tecnologia entrou na vida das pessoas e exigiu mudanças na forma de ensinar. “O estudo das ciências passou a levar em conta temas como sustentabilidade, ambiente social e a influência do homem no meio ambiente”, disse o professor. “Isso transformou a nossa forma de ver a natureza e a nós mesmos. “

Um dos fatores que mais alterou nossa forma de aprender e produzir conhecimento foi a possibilidade de acesso a vários temas, de forma mais rápida e integrada, graças ao avanço dos meios de comunicação, de acordo com o palestrante. “O conhecimento interdisciplinar possibilitou ao homem estudar assuntos complexos em várias áreas”, diz o pesquisador, tomando como exemplo o uso de computadores e processamentos de dados em áreas como economia e contabilidade. “Algumas vezes, decisões são tomadas com o mínimo de intervenção humana. “

“Um consenso entre os maiores pesquisadores em educação é que nós temos que mudar o sistema de ensino”, afirmou Uzzo. Pensando nisso, e baseado nas diretrizes estabelecidas na obra “STEM Integration in K-12 Education“, o professor afirmou ser necessário elevar a compreensão sobre a mente humana e repensar como o fenômeno do aprendizado acontece.

“Aprender Fazendo”

O último palestrante da sessão foi Yuankui Yang, que falou sobre o grupo de pesquisa “Learning by Doing” (LBD, “Aprender Fazendo”), desenvolvido na Southeast University, na China.

Segundo Yang, a principal dedicação do LBD é o estudo das formas de aprendizado como forma de proteger a curiosidade das crianças e inspirar a iniciativa de aprender ciência. “A educação precisa acontecer”, diz o pesquisador. “Precisamos ajudar nossas crianças a desenvolver suas habilidades e conciliar diversos tipos de conhecimentos. “

Fundado em 2002, o “Learning by Doing” já estava em um processo de preparação desde 1994, quando os pesquisadores estudaram o panorama da educação na China e buscaram referências internacionais de projetos semelhantes ao que gostariam de desenvolver.

Em 2004 o grupo publicou seu primeiro livro, “Learning by Doing in China” onde sugeriam cinco modelos de aprendizado. Em 2006 fizeram um manual para professores explicando o conceito de “Science Education”.

Com publicações frequentes e avanços nos estudos sobre ensino e aprendizagem, o LBD conseguiu notoriedade entre os anos de 2006 e 2010, quando seu fundador, Dr. Yu Wei ganhou prêmios e reconhecimento pelo mundo.

Entre as propostas do grupo estava a criação de uma tabela onde eram estabelecidas as disciplinas (ciências físicas e de matérias; ciências da vida; ciências da terra e do meio ambiente e desenho e tecnologia) e quais temas seriam tratados em cada fase da vida escolar da criança.

Yang chama a atenção para o estudo das ciências da terra e do meio ambiente durante a pré-escola, focado apenas em um tema: o ar. É que, em inglês a palavra que designa o ar é a mesma usada para se referir ao nada, ao vazio. “É muito interessante ensinar isso às crianças, pois elas não entendem o que significa estudar o nada e é desafiador explicar para elas que, onde não há, supostamente, nada, na verdade está o ar. “

Atualmente, segundo Yang, o LBD está em um novo estágio de seu trabalho, pois mudaram o sistema de “Science Education” para o de “STEM Education”, desenvolvendo cursos e instruindo professores sobre maneiras de ensinar essas disciplinas.

Uma das principais inovações incorporadas nesta nova fase está a mudança do foco, da sala de aula para as atividades práticas. Agora o sistema proposto pelo LBD estabelece o foco na resolução de problemas, pensando no mundo atual; o estudo centrado na iniciativa do aluno, na cooperação e na aceitação de que, para cada pergunta, pode haver mais de uma resposta correta.