Quando começou a cursar ciências biológicas na Universidade de São Paulo (USP), Adolfo Mota precisou abandonar sua carreira militar que já completava dez anos. O novo membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC) – Regional Norte para o período 2015-2019 era casado e tinha uma filha de seis meses em 2003, quando ingressou na universidade ainda sem saber muito bem o ramo que gostaria de seguir.
Entre a rua e a sala de aula
Durante o período escolar, talvez ninguém imaginasse que o hoje doutor em ciências biológicas seguiria o ramo da pesquisa científica.
Nascido em São Paulo, Mota foi criado no estado de Goiás e chegou a morar em várias cidades dentro do estado. A primeira delas foi Alto Paraíso de Goiás, na Chapada dos Veadeiros. Durante o ensino básico, não se dedicava tanto à escola, preferindo as brincadeiras na rua com os amigos. Chegou até a repetir a quarta série.
Durante a infância, se divertia fabricando brinquedos como carrinho de rolimã, pião, futebol de prego, pipa e jogando taco, futebol e basquete na rua. Na escola, começou a se interessar pelas aulas práticas de ciências. Recorda-se de ter dissecado uma minhoca no laboratório da escola e visto uma célula de cebola num microscópio. “Esses professores tinham bem menos do que temos hoje, mas conseguiam superar suas limitações e proporcionar alguns momentos interessantes que sobreviveram ao tempo”, recorda.
Caçula de três irmãos, os dois mais velhos cursaram letras.
Na biologia, uma nova paixão
Em 1993, Mota voltou a São Paulo onde se alistou no Exército. Lá era incentivado a estudar, fazer cursos, melhorar a capacidade técnica. “Mas certamente foi a graduação o marco da guinada que dei na minha vida”, afirma.
E essa guinada aconteceu no último ano da licenciatura, quando Adolfo Mota fez sua iniciação científica no Laboratório de Genética Molecular e Genomas dos professores Francisco e Marina Nóbrega, em São José dos Campos. “Tudo era fascinante: equipamentos, DNA, proteína, fungos, bactérias, engenharia genética”, recorda. “Aprendi que boa parte das minhas suposições sucumbiam frente ao método científico, mas as poucas que seguiam eram suficientes para manter meu ânimo quase que inabalável”.
Sempre servindo à população
Atualmente, Mota participa, em Manaus, de um grupo de estudos sobre as causas da diabetes Mody tipos 2 e 3. Esse tipo raro da doença, caracteriza-se por se manifestar precocemente e ter transmissão autossômica dominante, ou seja, ser transmitida geneticamente.
Mota explica que o mecanismo fisiológico pelo qual o paciente de Modys 2 e 3 tem hiperglicemia e outros sintomas da diabetes, são diferentes dos tipos 1 e 2, mais conhecidos. “É preciso socializar os avanços na genética dessa doença com a medicina clínica que lida diretamente com os pacientes atípicos, além de aumentar a capacidade do diagnóstico do Mody, cujo custo é elevado, principalmente para a população mais necessitada”, explica o biólogo.
Nas viagens, alguns vezes Mota é acompanhado por sua mulher, pela filha mais velha – nascida quando ele ainda estava no quartel – e pela mais nova, de dois anos.
Em busca de novos cientistas
Por ter entrado na vida acadêmica com quase trinta anos, Adolfo Mota considera modestos seus resultados como pesquisador. “Agora é que estou tendo oportunidade de começar um trabalho planejado e estabelecer uma linha de pesquisa”, reconhece. Porém a indicação para a ABC o faz crer que acertou na escolha da carreira.
Um de seus planos como membro afiliado é influenciar positivamente jovens da região Norte que ainda estão no processo de formação. Na opinião de Mota, há no Brasil um crescente desinteresse dos jovens em relação à ciência, bem como uma queda na qualidade da educação dos estudantes que chegam à universidade. Para reverter isso, pretende propor projetos que motivem os estudantes a seguirem a carreira acadêmica. “Talvez seja essa a contribuição realmente significativa para a ciência brasileira”, finaliza.