Leia o obituário do Acadêmico e farmacêutico Angelo da Cunha Pinto, que faleceu no dia 7 de outubro, escrito pelo também membro da ABC Vitor Francisco Ferreira, químico da UFF. A missa de sétimo dia acontecerá no dia 14 de outubro, às 19h, na Paróquia Nossa Senhora das Dores – R. Pres. Pedreira, 185 • Ingá, Niterói/RJ.
(1948-2015)
“É com grande tristeza que hoje escrevemos mais uma página da história da ciência no Brasil. Faleceu em Niterói no dia 7 de outubro o Professor Angelo da Cunha Pinto, 66 anos, professor titular do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Seu pioneirismo na síntese orgânica e na química de produtos naturais no Brasil o coloca para sempre na história da ciência brasileira.
Nascido na província de Marco de Canavezes em Portugal em 02 de dezembro de 1948, Angelo da Cunha Pinto bacharelou-se em Farmácia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1971, obteve mestrado em Química pelo Instituto Militar de Engenharia (1974) e doutorado em Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1985). Era pesquisador 1A do CNPq e Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências desde 1997. As suas linhas de pesquisa de interesse se estendem em vários domínios da Química Orgânica. Mas, a sua grande paixão sempre foi a Química de Produtos Naturais atuando principalmente nos seguintes temas: croton cajucara, velloziaceae, isatin, trans-dehydrocrotonin e diterpenos.
Angelo Pinto sempre foi um excelente aluno em história e só tirava nota 10. Daí veio seu gosto sobre a história da Ciência. Ele gostava reunir os amigos e contar estórias de plantas, bruxarias, religião, naturalistas e as poesias relacionadas aos produtos naturais. Dizia que para se conhecer os segredos e os mistérios das plantas é necessário conhecer o seu metabolismo secundário. Isto significa descobrir as suas micromoléculas e os seus papéis na vida dos vegetais. Por coincidência, a comissão do Nobel o homenageou, premiando a área de medicina que utilizou os produtos naturais para tratar as doenças parasitárias negligenciadas.
Angelo foi um pesquisador muito atuante dentro da comunidade química e um grande articulador da ciência nas agências de fomento. Na Sociedade Brasileira de Química atuou em diversos cargos executivos, como por exemplo, presidente da Sociedade Brasileira de Química no biênio 1986-1988. Na sua militância pela SBQ, um dos grandes prazeres foi ter ocupado a editoria do Journal of the Brazilian Chemical Society, período em que o periódico passou ter reconhecimento nacional e internacional e ter se tornado um dos principais periódicos da América Latina, e ser um dos mentores da criação da Revista Virtual de Química. Dizia Angelo: “vale a pena se dedicar de corpo e alma àquilo que se faz”.
Em colaboração com muitos colegas e alunos produziu uma longa série de trabalhos sobre síntese orgânica e produtos naturais. Foram 328 artigos científicos, 7 capítulos de livros e 6 patentes. Em termos de formação de recursos humanos orientou 49 mestres e 34 doutores. Esses números apenas retratam parte do trabalho de uma vida do cientista Angelo da Cunha Pinto.
Seu trabalho e militância pela ciência brasileira foram reconhecidos através de inúmeros prêmios e distinções, como a Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico – Presidência da República do Brasil – 1998, Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico – presidência da República do Brasil – 2004, Químico do Ano e Retorta de Ouro – Sindicato dos Químicos e dos Engenheiros Químicos do Rio de Janeiro – 1995, Químico do Ano, Conselho Regional de Química do Rio de Janeiro – 1995, Medalha Simão Mathias da SBQ – 1997, Prêmio Rheimboldt-Hauptmann, Rhodia – 1997, Medalha Paulo Carneiro, UNESCO-Academia Brasileira de Ciências e Academia Brasileira de Letras – 2001, Diploma de Amigo do Instituto Militar de Engenharia – 2007, homenagem nos 30 anos da SBQ – 2007, dentre muitas outras distinções acadêmicas recebidas.
Recentemente, ele escreveu em um texto uma frase que dizia “tenho a SBQ em meu DNA”. Essa frase traduz sua paixão pela sociedade de química que ele adotou e defendeu como sendo interlocutora da química brasileira.
Angelo deixa esposa, Maria Domingues Vargas, também acadêmica, os filhos Alice, Mariana e Manuel, os netos Maria Carolina e Luca, a mãe, D. Adelaide e o irmão, Carlos Alberto e família.
Hoje a ciência brasileira perde um grande cientista e o País perde um grande português que viveu como brasileiro de coração.”