Novo membro afiliado da ABC na Regional São Paulo, eleito para o período 2015-2019, o astrofísico Rodrigo Nemmen passou a infância em uma cidade tranquila do Rio Grande do Sul chamada Passo Fundo. Sua mãe era professora da rede estadual de ensino básico e também na Universidade de Passo Fundo, a primeira universidade privada da cidade. Seu pai era representante de vendas de produtos agrícolas.
A infância foi tranquila e feliz, típica de uma cidade pequena, com muitas brincadeiras, bicicleta, bonecos e carrinhos, em companhia de sua irmã mais velha, que hoje é psicóloga. “Eu era uma criança muito arteira. Arriscaria dizer que eu era o tipo de criança que hoje chamam de hiperativa”, conta. O futuro cientista também gostava muito de videogame. “Comecei com o Atari 7600 e depois prossegui com os videogames SEGA que, na época, faziam muito sucesso.”
Seu interesse por ciência foi despertado ainda criança. “Eu gostava muito de mexer em tudo, de usar lupa, de brincar com pequenos laboratórios de química vendidos como brinquedos.” Na adolescência, o gosto pela leitura, sempre estimulado de maneira indireta pelos pais, que deixavam muitos livros espalhados pela casa, o levou a conhecer grandes filósofos e nomes da divulgação científica: Nietzsche, Sartre, Isaac Asimov, Carl Sagan. “A mistura explosiva de leituras e influências durante a minha adolescência – em particular, no ensino médio – fez eu me dar conta de que a carreira que me permitiria perseguir as minhas curiosidades sobre o universo seria a profissão de físico”, relembra Nemmen. Ele acreditou que, nessa carreira, poderia, talvez, elevar-se acima da “banalidade da vida cotidiana”, investigando as grandes questões da realidade de maneira quantitativa e, ao mesmo tempo, aplicando esse conhecimento. “Decidi, então, fazer o curso de bacharelado em física na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre.”
Nemmen diz que a iniciação científica (IC) desempenhou um papel fundamental durante a sua formação acadêmica. “Eu comecei na IC já no segundo ano do curso de física. Foi naquele momento, ainda durante a graduação, que comecei a trabalhar com astrofísica e, em particular, com buracos negros.” Uma figura essencial para ele nesse período foi a sua orientadora de doutorado, a Acadêmica Thaisa Storchi Bergmann: “Ela me ensinou coisas fundamentais sobre o fazer científico e o processo de colaboração, que é importantíssimo.”
Nemmen seguiu com o mestrado e o doutorado, com ênfase em astrofísica, na UFRGS. “Uma experiência muito importante foi o doutorado sanduíche que fiz nos Estados Unidos, onde expandi as minhas colaborações, conheci uma cultura científica diferente e fiz muitos amigos.” Ele também fez dois pós-doutorado na mesma área, um pela UFRGS e outro pelo NASA Goddard Space Flight Center. No Goddard, as pesquisas de Nemmen foram financiadas pela prestigiosa bolsa-prêmio de pós-doutorado da NASA, a NASA Postdoctoral Program Fellowship. Ele foi o primeiro brasileiro a receber esta bolsa-prêmio. Atualmente, Rodrigo Nemmen é professor na Universidade de São Paulo (USP).
Em seu trabalho, Nemmen tem tentado desvendar o mistério da gravidade ao redor dos buracos negros e o seu papel na evolução das galáxias. “Quero entender como esses objetos exercem uma atração gravitacional tão intensa a ponto de despejar gigantescas quantidades de gás para dentro do horizonte de eventos. Os buracos negros, paradoxalmente, também são a origem de violentas ejeções de gás que observamos a distâncias colossais no centro das galáxias. Quero desvendar a origem dessas ejeções e como elas são capazes de exercer um verdadeiro bullying cósmico nas galáxias hospedeiras.” Segundo o cientista, estas são algumas das grandes questões em aberto na astrofísica.
Para o membro afiliado da ABC, a ciência é capaz de grandes mudanças. “O que me encanta na ciência é o seu poder transformador, e a capacidade que ela tem de nos maravilhar com a estrutura do universo”, afirma. “Adoro a minha profissão de professor e educador. Quando estou dando uma aula, é um dos momentos nos quais experimento a sensação que os psicólogos chamam de flow.”
No tempo livre, Nemmen tem interesses variados. Ele gosta de tocar violão, ukulele e está aprendendo gaita. “Também sou um leitor ávido e geralmente leio dois ou mais livros ao mesmo tempo.” No momento, está lendo o livro “Inferno”, de Max Hastings, sobre a Segunda Guerra Mundial, e “The Stand” de Stephen King, sobre um supervírus que dizima grande parte da população mundial. “Ambos definitivamente não são leituras leves.” Como um bom cientista explorador, ele também gosta muito de viajar e descobrir lugares inusitados.
O título de membro afiliado da ABC significa, para Nemmen, um tributo aos esforços científicos e à dedicação dos vários membros agraciados com esta nomeação. “Pretendo contribuir para com a ABC com ideias, propostas e a minha energia para fazer avançar a ciência brasileira, de forma que ela beneficie a sociedade.”