Desde os dois anos de idade, Jorge José Leite Noronha Junior queria ser cientista. Filho único de um técnico de eletrônica e uma professora de alfabetização, o físico da Universidade de São Paulo (USP), eleito membro afiliado da ABC na Regional São Paulo para o período 2015-2019, cresceu no Rio de Janeiro, e tinha como disciplinas favoritas ciências e matemática.
“Meu pai sempre gostou de ficção científica, e seu gosto por séries famosas, como Star Trek, me fez pensar bastante em ciência”, conta o jovem cientista. “Eu me lembro de meu pai me contar sobre anti-matéria já aos seis, sete anos de idade. Na adolescência, eu tive um professor de matemática excelente chamado Rubens, que era formado em física e me incentivou bastante a investir na carreira científica.” Noronha costumava ler muitos livros de divulgação científica, entre eles “Uma breve história do tempo”, de Stephen Hawking.
Quando menino, também jogava bastante videogame e brincava com comandos em ação. Mas, no momento de escolha da carreira, ele não teve dúvidas de que deveria fazer física na faculdade. “Nunca cogitei outra opção”, revela Noronha.
Na graduação em física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o membro afiliado fez duas iniciações científicas, ambas em física teórica. A primeira foi sobre mecânica estatística e sistemas fora do equilíbrio, com a Profª Monica Bahiana, que teve início no terceiro semestre da graduação e durou dois anos. A segunda foi feita no último ano de graduação, com o Prof. Clovis Wotzasek, sobre teorias quânticas de campo. “As duas iniciações científicas foram muito importantes para minha carreira.” Ele conta que, além destes professores, o Acadêmico Takeshi Kodama teve uma influência muito grande no seu entendimento de física como um todo e também do papel do cientista na sociedade.
Após a graduação, finalizada em 2003, Noronha seguiu com o mestrado no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e o doutorado na Universidade Johann-Wolfgang Goethe Frankfurt/Main, na Alemanha. Também completou o pós-doutorado na Universidade Columbia, nos Estados Unidos.
Partículas fundamentais
Desde a Grécia antiga, a ideia de que a matéria que nos cerca poderia ser entendida usando elementos mais fundamentais já existia. A pesquisa de Noronha trata da física dos quarks e dos glúons, que são as partículas fundamentais do modelo padrão de física de partículas, responsáveis por aproximadamente 97% da massa de todo o universo visível, embora suas massas sejam, de fato, desprezíveis.
Além dessa capacidade de “gerar massa sem possuir massa”, quarks e glúons também formam um novo estado da matéria (estudado através de colisões de núcleos pesados que se movem aproximadamente na velocidade da luz), chamado plasma de quarks e glúons que, por sua vez, se comporta como uma espécie de líquido cuja viscosidade é a menor já observada experimentalmente. “Esse fluido existe em escalas de comprimento 100 mil vezes menor do que um átomo e tem uma temperatura 100 mil vezes mais quente do que o centro do nosso sol”, informa Noronha.
O que o encanta na ciência – e em sua pesquisa, particularmente – é, justamente, o fato de que, a cada dia, uma nova propriedade da natureza que nos cerca pode ser descoberta. Nas horas vagas, o físico gosta de tocar guitarra e de conhecer outros países e culturas. Ou seja, a paixão pela novidade vai além da carreira.
Sobre ter recebido o título de membro afiliado da ABC, Noronha se disse bastante honrado e falou sobre a missão que ele traz: “Agora, eu gostaria de ajudar a ABC a popularizar mais a ciência como um todo no Brasil.”