Nascido em Ipatinga, interior de Minas Gerais, o novo membro afiliado da ABC para o período de 2015-2019 Gustavo Batista de Menezes demonstrou vocação para a ciência desde cedo. Filho mais velho de uma industriária do setor siderúrgico e um corretor de imóveis, quando criança, costumava “operar” as plantas de uma pequena horta que tinha em casa.
Por tentar fazer “transplante” de folhas, enxertos e aplicar injeções nas taiobas, Menezes ganhou de sua mãe um microscópio e um kit de experimentação com tubos de ensaio e reagentes. Para não se queimar com as substâncias que, muitas das vezes, precisavam ser aquecidas, sua mãe o ajudava nas experiências. “Mesmo não tendo cursado o nível superior naquela época, ela foi a minha primeira orientadora de pesquisa e sei que minha paixão pela ciência começou ali”, rememora.
Gustavo Menezes foi um dos primeiros da família a estudar em uma universidade. A decisão de cursar odontologia foi baseada no gosto pelas ciências biológicas e na vontade de trabalhar em uma área na qual o ganho financeiro fosse mais rápido, pois precisava ajudar a mãe com os estudos do irmão. Por sugestão de um tio engenheiro, procurou a pesquisa assim que chegou à graduação.
Durante o período de graduação na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Menezes dava aulas de inglês à noite para ajudar no orçamento de casa. Apesar da rotina exaustiva, o futuro cientista ainda conseguia um tempo para se dedicar à pesquisa. Seu interesse pela ciência foi aguçado no segundo período da graduação, quando ganhou uma bolsa de iniciação científica em farmacologia – embora sua formação fosse odontologia, o cientista nunca fez uma pesquisa na área.
Terminado o bacharelado, Menezes emendou no mestrado em fisiologia e farmacologia também na UFMG, que terminou em apenas um ano. Depois, foram mais três anos de doutorado nos mesmos temas. O mineiro iniciou seu pós-doutoramento em patologia e biologia celular pela mesma instituição, e ficou um ano no Canadá se especializando em imunologia pela Universidade de Calgary.
O laboratório e a difusão da ciência
Gustavo Menezes desenvolve pesquisa na área de imunologia, buscando alternativas para o tratamento de doenças hepáticas. “O sistema imunológico é muito importante para a defesa do organismo e reparo dos órgãos danificados. Em situações extremas e descontroladas, como acontece em doenças hepáticas graves, o sistema imune provoca uma reação exacerbada que piora muito o quadro do paciente”, conta.
Seu grupo trabalha para entender como uma resposta descontrolada no sistema imunológico acontece e, a partir dessa informação, os pesquisadores procuram regular a parte maléfica da resposta imune que está prejudicando o paciente, mantendo intactas as funções de defesa. Os estudos da equipe liderada por Gustavo já geraram o registro de patente de um medicamento para controle de doenças hepáticas, baseado em inibidores de reconhecimento de produtos de células mortas.
Apaixonado pelo que faz, Menezes atualmente é professor adjunto da UFMG, diretor executivo da Sociedade Brasileira de Sinalização Celular (SBSC) e chefe do grupo de pesquisa em imunobiofotônica do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG. “O que me encanta é fazer o que mais gosto. Depois que entrei em um laboratório, não existe um dia em que eu não aprenda algo sensacional. Todos os meus dias são únicos.”
Formar novos cientistas é a missão pessoal do mineiro. Ele orienta alunos da iniciação científica ao pós-doutorado, e afirma que se esforça para que os seus orientandos sejam melhores que ele. Menezes espera que, ao olhar para trás, veja pesquisadores mais capazes e multiplicadores da ciência. O membro afiliado considera que ter conseguido montar um grupo de pesquisa tão unido seja um dos grandes presentes que teve durante a sua carreira científica. “O trabalho fica muito mais proveitoso quando se divide a maior parte do dia com pessoas tão especiais”, confessa.
Música: uma vida paralela
Aos 15 anos, Menezes se envolveu com a música, montou sua primeira banda de rock e até hoje leva sua paixão adiante. Apesar da intensa rotina de trabalho, tocar guitarra é algo que o faz relaxar. E ele não abre mão da diversão: é guitarrista de uma banda de rock clássico com dois médicos – sendo um deles também professor da UFMG – um biólogo e um arquiteto. A banda se chama Mr. Bison, e ele a considera sua “segunda família”.
Menezes é dedicado em todas as áreas de sua vida. Apesar de não ser músico profissional, ele acredita que o palco também deve ser levado a sério. Por isso, a banda faz ensaios semanalmente e o trabalho não é desculpa. “Muitas pessoas não acreditam, mas, horas antes de eu estar no palco de jeans rasgado e camisa preta, eu estava escrevendo um artigo científico ou operando um animal no laboratório”, conta.
Entrando na ABC
Um dos maiores sonhos do jovem cientista é ver a valorização do pesquisador e do professor no país. Menezes acredita que os investimentos em ciência e educação só geram efeitos a longo prazo, mas são fundamentais para a popularização da ciência e o desenvolvimento do Brasil.
Para Menezes, ser eleito membro afiliado da ABC é uma das maiores vitórias de sua carreira: “O título é uma grande conquista que traz grandes responsabilidades”. Ele espera levar as ideias da sua equipe para que sejam discutidas com os colegas da ABC. “Também quero dividir com meus alunos o aprendizado que certamente terei ao conviver com pesquisadores de todas as áreas, pois minha missão agora extrapola os muros do laboratório. Eu serei um representante do meu grupo e da minha instituição no maior órgão de ciência do país.”