Durante o Simpósio Internacional sobre Excelência no Ensino Superior, realizado na Academia Brasileira de Ciências entre os dias 22 e 24 de setembro, o diretor do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e Acadêmico, César Camacho, e o conselheiro da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (CNE), Luiz Roberto Liza Curi, debateram sobre as mudanças necessárias à educação superior no Brasil.

Cesar Camacho iniciou sua palestra apresentando o Impa e suas características como instituto de ensino superior. Criado em 1952 como instituto do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Impa teve diversos formatos administrativos, mas partir de 2001 passou a ser uma organização social vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O instituto não oferece curso de bacharelado ou licenciatura, apenas pós-graduação. Ao todo, são formados por ano 20 doutores e 170 mestre

Considerado internacionalmente um centro de excelência em matemática, o Impa é uma instituição que tem se destacado em várias métricas de desenvolvimento, como em sua gestão, que conta com um plano de metas com parâmetros que medem o desempenho da instituição. Em relação aos recursos humanos, a instituição tem autonomia total na contratação de professores, através de concursos internacionais, currículos e cartas de indicação de pesquisadores. Ao todo, são nove níveis no plano de carreira. Para progredir profissionalmente no Impa, é necessária avaliação de um professor do exterior – um sistema semelhante ao empregado nas universidades e institutos de pesquisa dos Estados Unidos.

De acordo com o Camacho, esse modelo de gestão tem ”agilidade administrativa e autonomia para renovar a estrutura física da instituição e seu quadro científico. Além disso, o sistema permite doações pelo setor privado, o que é importante para manter os projetos da instituição”.

Com a conquista da Medalha Fields pelo pesquisador brasileiro do Impa e Acadêmico Artur Avila, o Instituto tem ganhado repercussão na mídia e notoriedade internacional. No último Congresso Internacional de Matemática (CIM), quatro palestrantes eram do Impa. Até hoje, o Brasil teve 14 pesquisadores convidados a proferir palestras no CIM – sendo 13 pesquisadores do instituto e um da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

Segundo Camacho, ”a matemática brasileira está muito bem cotada no cenário internacional. O Brasil é o único país latino-americano que faz parte do grupo 4 na lista criada pela União Matemática Internacional”. Os grupos são divididos em cinco, de acordo com ordem crescente de importância. Países mais desenvolvidos na área da matemática, como Estados Unidos, França, China, Alemanha e Japão, encontram-se no Grupo 5.

 

Projetos do Impa

Organizadas pelo Impa, a Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM) e a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) são projetos que visam estimular o estudo da matemática e revelar talentos na área.

Cerca de 20 milhões de alunos – 10% da população brasileira – participaram da OBMEP 2013, que foi realizada em quase todas as cidades do Brasil com alunos da faixa etária de 10 a 16 anos. Em 2014, a OBMEP comemora a sua décima edição. Com grande adesão e apoio das escolas, professores, pais e alunos, o programa frutificou e novos projetos foram iniciados, como o ”Portal da Matemática”. Com vídeo-aulas e aplicativos, o ”Portal da Matemática” é mais uma iniciativa para facilitar o acesso a conteúdos de alta qualidade em matemática. De acordo com Camacho, até julho de 2015, serão postados no site mais de mil vídeos, que tratam de temas variados no campo da matemática e que fazem parte do currículo escolar do sexto ano do ensino fundamental ao terceiro ano do ensino médio.

Além da OBM, OBMEP e do Portal da Matemática, o Impa promove programas como as Oficinas de Formação (PROF) – para treinamento de professores do ensino médio – e os Polos Olímpicos de Treinamento Intensivo (POTI) – cursos gratuitos de matemática para os estudantes de todo o Brasil.

Outro projeto em andamento é a construção do museu ”Casa da Matemática”, uma parceria do Impa com o Serviço Social da Indústria (Sesi). Também conhecido como Casa Sesi Matemática, o museu vai explorar novos olhares sobre a disciplina por meio de exposições temporárias e permanentes. A sede do projeto será na Barra da Tijuca, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Além de mostras, o espaço de 9.300 metros quadrados deve contar também com áreas para formação de educadores. A previsão é que o museu seja inaugurado no próximo ano.

Para Camacho, o Impa é um exemplo de instituto que deve ser seguido pelas universidades brasileiras, pois vai além da pesquisa e visa maior integração com a sociedade.

”É sempre preciso fazer mais pela matemática brasileira. Por isso, o Impa tem uma missão nacional, a de disseminar a matemática para a população. O instituto não só cultiva pesquisas, mas também estimula programas”, declarou.

 

Resultados do Censo da Educação Superior

O representante do Conselho Nacional de Educação (CNE) Luiz Roberto Curi deu continuidade à sessão sobre Mudanças no Ensino Superior, em que tratou de aspectos como a expansão no número de matrículas e a avaliação das políticas públicas na educação superior no país.

Segundo dados do Censo da Educação Superior (CES), divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o Brasil registrou cerca de sete milhões de estudantes matriculados em cursos de graduação no ensino superior. Os números são referentes ao ano de 2013 e apontam um crescimento de 3,8% em relação a 2012. O censo mostrou também que o número de formandos caiu pela primeira vez desde o ano passado.

O total de estudantes que ingressaram no ensino superior somente em 2013 ultrapassou dois milhões, um número 76% maior do que o registrado há dez anos. Já a quantidade de alunos que concluíram os estudos nesse segmento da educação foi de cerca de um milhão.

Uma das metas do Plano Nacional de Educação (PNE) é dobrar o número de matrículas. O país também precisa elevar a taxa de escolarização bruta
identifica se a oferta de matrícula no Ensino Fundamental é suficiente para atender a demanda na faixa etária de 7 a 14 anos] para 50% e a taxa da escolarização líquida
identifica a parcela da população na faixa etária de 7 a 14 anos matriculada no Ensino Fundamental] para 30%, ambos para a população entre 18 e 24 anos. Para o alcance destas metas a taxa de crescimento de matrículas na educação superior deverá ser superior a 7% ao ano.

Segundo Curi, a expansão deve ser mediada por políticas públicas, para que não seja um problema para a educação superior no país. Curi também acrescentou que o censo e a mídia valorizam mais o aumento no número de matrículas do que as deficiências que a expansão causa, como a própria evasão.

”Não há valor para questões como a ausência de qualificação do egresso e a evasão. No caso da engenharia, a evasão é de mais de um terço dos alunos. No próximo ano, as evasões no país podem chegar a um milhão. Mais matrículas não significam sucesso no processo de conclusão”, relatou Curi.

Luiz Roberto Curi acredita que a educação superior no Brasil vive um paradoxo. ”Existe uma concentração de matrículas na região sudeste, mas cerca de 60% dos municípios brasileiros ainda não têm nenhuma oferta de educação superior.” Para Curi, esses dados exibem uma estagnação econômica e uma deficiência de políticas públicas para cidades do interior.

 

Educação a distância

Curi também destacou o crescimento da educação a distância (EAD) no país. Segundo o conselheiro, a EAD alcança um número maior de alunos do que o ensino presencial, o que se torna relevante no aumento de matrículas no ensino superior no Brasil.

A EAD representa 13% do total do número de matrículas. Entre 2002 e 2011, o ensino a distância cresceu cerca de 2800% partindo do zero. Para o conselheiro do CNE, a maior aderência da EAD é na educação privada nas regiões do sul do país, o que significa um interesse comercial nesse sistema de ensino.

”É um absurdo a EAD não ter significativa expansão nas regiões do norte. O ensino a distância é justamente para a inclusão de estudantes de regiões de difícil acesso. Isso representa uma disfunção ou ausência de políticas públicas. A EAD é uma filha pouco honrada pelas universidades públicas e uma expectativa de negócio pelas instituições privadas”, declarou.