Lázaro Aurélio Padilha nasceu e foi criado em uma pequena cidade do interior de São Paulo, de nome Socorro. Seus pais trabalhavam fora: a mãe era professora do ensino fundamental e o pai trabalhava no antigo Banco Nacional. Depois que Lázaro – filho do meio, com duas irmãs – fez cinco anos, o pai se tornou comerciante.
Como a maioria dos meninos no Brasil, Lázaro adorava jogar futebol. “Não que eu fosse bom nisso, mas era persistente”, brinca o cientista. Por outro lado, gostava muito de inventar coisas. Essas invenções eram desenvolvidas em parceria com seu avô Antônio, um tipo de professor Pardal, na garagem de casa. “Inventamos, por exemplo, uma máquina de ralar milho para fazer pamonha”, relembra Lázaro. Na escola, o menino era bom aluno, detestava tirar notas baixas. Dentre as disciplinas, a matemática e as ciências – especialmente a física no ensino médio – eram suas favoritas, seguidas por história.
Por ter sempre gostado da área de exatas, Lázaro sempre soube que queria seguir nessa direção. Todavia, não tinha certeza de que curso seguir e escolheu a física ser um estágio passageiro, até descobrir qual engenharia escolher, mas começou a gostar muito da perspectiva da física na ciência – e resolveu continuar. No final do segundo ano do curso de física na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), resolveu fazer iniciação científica (IC) e optou pela área teórica. No entanto, sentiu que faltava algo, “aquela curiosidade de apertar um parafuso e ver o que acontece com o resultado”, recorda o Acadêmico. Foi então que, com apoio do orientador de IC, decidiu mudar e se tornar um físico experimental.
Na área experimental, a confiança depositada em Lázaro Padilha por seu orientador de doutorado – também realizado na Unicamp – foi fundamental para que ele pudesse criar a independência de pensamento que todo cientista deve ter. O orientador deixou Padilha responsável pelo laboratório, o que no começo lhe causou certa insegurança, mas foi importante para que o jovem pesquisador pudesse se desenvolver de forma independente.
Atualmente professor doutor no Instituto de Física Gleb Wataghin da Unicamp, sua pesquisa é voltada para o uso de lasers pulsados para entender o comportamento do elétron em sistemas nanoestruturados. “Essas nanoestruturas são cerca de mil vezes menor que a espessura de um fio de cabelo”, esclarece Padilha. Quando o semicondutor é feito pequeno suficiente, de modo que esteja no regime do que se chama de “confinamento quântico”, suas propriedades ópticas e eletrônicas são fortemente modificadas. Os pulsos lasers são ultracurtos: um único pulso do laser dura cerca de dezenas de femtosegundos e um femtosegundo é a bilionésima parte de um microssegundo. “Esse tempo ultracurto do pulso nos permite observar as alterações nas dinâmicas eletrônicas fundamentais para o entendimento de física fundamental e, também, para direcionar nossa pesquisa para aplicações práticas”, explica o Acadêmico. Dentre as aplicações práticas, ele destaca o uso desses materiais como base para o desenvolvimento de células solares e de LEDs mais eficientes.
Lázaro Padilha vê a ciência como um desafio diário, no qual o pesquisador tenta entender como a natureza se comporta. Quando vai para o laboratório, na visão de Padilha, o cientista tem uma ideia do que espera observar, mas nunca sabe o que irá observar realmente. “Especificamente na minha área de pesquisa, a comunhão entre ciência básica e aplicação prática é muito atraente. Os desafios são vários, já que usamos luz que não vemos – afinal, muitos desses lasers estão no infravermelho, invisível ao olho humano -, para estudar materiais que também não vemos, em escala de tempo que não podemos perceber.” Todavia, misturar nanociência, óptica e fotônica, segundo Padilha, gera um grande leque de aprendizado em ciência básica e novas aplicações, transformando os desafios apenas “num tempero especial para esse prato cheio de novas descobertas.”
A notícia da eleição para membro afiliado da ABC surpreendeu Lázaro Padilha, que considerou uma grande honra ser adicionado a esse seleto leque de jovens cientistas. Ele vê na ABC a oportunidade de interação com outros jovens pesquisadores, nas mais diversas áreas do conhecimento, no intuito de promover um contínuo desenvolvimento da ciência no Brasil, não só através de trabalhos acadêmicos, mas também de discussões sobre novas políticas de ciência e tecnologia que ajudem a alavancar o país. “Afinal, acredito que o crescimento de um país passa pelo seu desenvolvimento e independência científica e tecnológica”, concluiu o físico.