A Academia Brasileira de Ciências reuniu na quarta-feira, 6 de agosto, o diretor do Programa SciELO/Fapesp Abel Packer e a Comissão Editorial dos Anais da ABC (AABC) para compartilhar ideias sobre a publicação e sobre aspectos mais gerais da divulgação de trabalhos científicos. O evento foi organizado pelo editor-chefe do periódico da ABC e paleontólogo, o Acadêmico Alexander Kellner.
Editores de área dos Anais da ABC
Na reunião, o diretor Packer anunciou alterações no serviço prestado pela SciELO e comentou sobre as três novas linhas de ação do programa, que visam avançar e fortalecer a profissionalização da gestão e da operação editorial, ampliar a inserção internacional dos periódicos e desenvolver modelos de financiamento sustentáveis.

Com 16 anos de existência, a Scientific Electronic Library Online (SciELO) é uma biblioteca eletrônica que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros. É resultado de um projeto de pesquisa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), em parceria com o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (Bireme). Desde 2002, o Projeto conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

O Projeto tem por objetivo o desenvolvimento de uma metodologia comum para a preparação, armazenamento, disseminação e avaliação da produção científica em formato eletrônico e publica coleções nacionais de periódicos nos países da América Latina e Caribe, Espanha, Portugal e África do Sul. O programa também opera coleções temáticas em saúde pública, ciências sociais e biodiversidade.

Para Packer, o mecanismo tradicional de publicação de periódicos científicos foi rompido, havendo uma priorização da edição on line na Web. “A tendência é a publicação dos artigos tão logo sejam aprovados e editados, sem esperar a composição dos números”, declarou. O objetivo é maximizar a visibilidade das pesquisas.

Segundo Kellner, existem algumas normas editoriais que os AABC devem seguir. “Artigos que citam uma nova espécie, por exemplo, precisam ser em papel. É certo que ainda precisamos mudar e trabalhar mais com a internet, mas já avançamos bastante”, afirmou.

A incorporação do uso das redes sociais pelo meio acadêmico possibilitou outra maneira de trabalhar as referências bibliográficas. Os dispositivos móveis também são bastante utilizados para a pesquisa. Ter um bom aplicativo para smartphones e um portal online vai se tornar o caminho para a divulgação e publicação dos artigos. Assim, haverá um novo modelo de artigo para se adequar aos smartphones e tablets.

O download é outra referência que está sendo considerada para indicar a influência dos artigos. Dados da própria SciELO mostram que são feitos em média 500 mil downloads diários no site. O programa também concluiu que entre os periódicos indexados, os de ciências humanas e ciências aplicadas são os mais baixados, e áreas que têm maior fator de impacto são as de ciências exatas, biológicas e da saúde.

Uma nova ferramenta para ampliar a comunicação científica é o blog “SciELO em Perspectiva“. O blog compartilha informação dos periódicos, das coleções nacionais e do Programa e Rede SciELO. Como parte da nova plataforma de atividades, além da geração automática de PDF e ePUB dos artigos, o sistema disponibilizará o serviço de “computação em nuvem” para seus usuários a partir de 2015.

Desafios

A citação é ainda, relativamente, um dos principais desafios para a evolução dos periódicos do Brasil. Artigos em inglês e com coautores estrangeiros têm maior probabilidade de serem citados do que os de apenas autores brasileiros.

De acordo com Kellner, a fraude de artigos científicos ainda é um problema que precisa de atenção. Mas, para Packer, o que mais preocupa os editores é a chamada “salami science”, situação em que uma única pesquisa é desdobrada em diversos artigos científicos, criando a impressão de maior produtividade. Segundo Kellner, essa questão é diretamente relacionada ao mundo científico no qual vivemos, que resultou no “efeito padaria” (bakery effect), onde existe uma necessidade de publicar novos artigos o tempo todo.

Publicações

Sobre a distribuição da publicação de periódicos no Brasil, dados da própria SciELO mostram que 51% são veiculados por universidades, 47% por instituições científicas e 2% por editoras comerciais.

Ao todo, no ano de 2012 foram mais de 35 mil artigos brasileiros originais e de revisão indexados no Web of Science Core Collection (WoS), principal serviço de indexação baseado em assinatura online mantido pela Thomson Reuters. Destes, 30% foram publicados em periódicos do Brasil.

Para o diretor Abel Packer, as mudanças na comunicação científica e as promovidas pelo SciELO abrem oportunidades importantes que o Conselho Editorial da Academia deve considerar para ampliar a liderança dos Anais.