Pablo Javier Blanco nasceu na Argentina, na cidade de Mar del Plata, numa família de classe média simples e feliz. O pai era empresário, dono de uma distribuidora de produtos alimentícios. A mãe cuidou dos filhos até quando Pablo, o mais velho de quatro, fez 13 anos. A partir de então, ela passou a trabalhar fora, no comércio.
Em casa, Pablo gostava de blocos de construir e de quebra-cabeças. Na escola, de matemática. Até os 16 anos, o menino queria seguir alguma carreira na área de ciências da computação, pela atração que tinhapor “criar coisas”, como ele diz. Depois, sua inclinação para a engenharia foi predominando, devido à versatilidade da carreira em relação ao mercado de trabalho. Planejava desenhar e construir aviões e, para tanto, foi cursar engenharia aeronáutica. Mas a faculdade era a mil quilômetros de distância e ele já era noivo, na época, da atual esposa. Então, optou pelo que encontrou de mais parecido em sua cidade, na Universidade de Mar del Plata: engenharia eletromecânica.

Escolha pela ciência – e no Brasil
No terceiro ano da faculdade, Blanco cursou uma disciplina de mecânica dos fluidos com o professor Santiago Urquiza, que depois seria seu orientador do trabalho de conclusão de curso e, atualmente, é seu colega de trabalho. “Ele me introduziu no mundo científico. Se dedicou a me formar em diversos temas relacionados com a modelagem e simulação numérica, em particular em problemas relacionados com a modelagem computacional em medicina. A partir daí o objetivo de fazer um doutorado se definiu, eu já sabia que meu destino era fazer ciência”, conta o Acadêmico.
Na época do doutorado, Blanco pretendia ir para a Espanha. Mas surgiu a possibilidade de cursá-lo no Brasil, no Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC/MCTI), que apresentava um programa acadêmico com ingredientes que atendiam às suas expectativas, coisa que não acontecia nem na Argentina, nem na Espanha. Ali, sua referência foi o Acadêmico Raúl Feijóo, que foi seu orientador de doutorado e atualmente é colega de trabalho. “Ele me passou uma maneira de ver a pesquisa em modelagem computacional que junta o melhor do universo teórico e do mundo aplicado, de forma a poder contribuir de diferentes formas para o país.”
Pesquisa aplicada à saúde
Seu foco é o desenvolvimento de ferramentas de modelagem computacional para realizar pesquisas em medicina, em particular para o estudo do sistema cardiovascular humano. O objetivo de Blanco é auxiliar a medicina com modelos computacionais que estão baseados em leis físicas. “Com isso, pretende-se dispor de tecnologias capazes de predizer, com alto grau de acurácia, como se comporta o sistema cardiovascular em condições normais e de doença”, explica o cientista. O desenvolvimento de um modelo de paciente virtual com tais premissas, ele acrescenta, permitiria entender o funcionamento do sistema, o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, a melhoria em planejamentos cirúrgicos e o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas, dentre outras possibilidades.
Os resultados mais importantes que vem obtendo têm sido alcançados na simulação computacional da circulação do sangue, permitindo entender como é esta dinâmica dentro do corpo humano. “Isto tem um altíssimo impacto nas principais doenças cardiovasculares, tais como aterosclerose e acidentes vasculares cerebrais, sendo estas as duas principais causas de morte no Brasil e no mundo, com tendência a se acentuarem no futuro”, explica Blanco.
Multidisciplinaridade e divulgação científica
O Acadêmico declara que do que mais gosta em ciência é do cotidiano. “Poder discutir temas que se encontram na fronteira do conhecimento e criar conhecimento para resolver novos problemas é uma recompensa contínua para o pesquisador.” Dentro de sua área, Blanco gosta de trabalhar com equipes de pesquisadores de diferentes disciplinas – matemáticos, programadores, biólogos, fisiologistas e, obviamente, médicos. “É muito desafiador. Isto coloca um desafio no emprego da linguagem técnica no trabalho, que deve ser continuamente adaptada para que se consiga uma comunicação efetiva”, aponta.
O título de membro afiliado da ABC significa, para Pablo Blanco, reconhecimento. Ele pretende contribuir par a ABC advogando pelo enfrentamento dos desafios e obstáculos que a interdisciplinaridade requer. “Isto é fundamental para que os avanços científicos possam trazer benefícios reais à população”, destaca o pesquisador, ressaltando que pesquisa científica hoje é um trabalho de equipe. Nesse sentido, Blanco fez questão de reconhecer e agradecer o empenho de todos que contribuem para que o grupo de pesquisa que lidera (http://hemolab.lncc.br) esteja na vanguarda do conhecimento.
Pablo Blanco diz que leva uma vida tranquila, em família, curtindo o casal de filhos. Mantém a corrida como atividade física principal e gosto de viajar, especialmente no inverno, para praticar snowboard. Em termos de leitura, sua preferência vai para livros de divulgação científica na área de física teórica. Ou seja, nem no tempo livre ele se afasta da paixão pela ciência.