Na época do vestibular, o gaúcho Emílio Streck quase escolheu a física, mas queria mesmo era estudar astronomia – cuja graduação, em 1994, só existia no Rio de Janeiro. Foi parar no curso de farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) por gostar muito de química, física e matemática, e construiu sua carreira na área de erros inatos do metabolismo.
Streck diz que sua curiosidade foi fundamental para a entrada no mundo científico e, independentemente do curso superior escolhido, fosse física ou história, acabaria sendo pesquisador. Sem dúvida, o exemplo familiar contribuiu para isso: “Meus pais são formados em teologia. Quando eu era criança, lembro do meu pai cursando o mestrado e sendo professor. Anos mais tarde, minha mãe fez o doutorado e hoje também é professora. Ou seja, estou numa família de professores e pesquisadores, que são os que mais me incentivam”.
Filho único, Streck estava sempre com os joelhos ralados de tanto jogar futebol com os amigos e o pai, com quem ia aos jogos do Internacional. Com sua mãe, ele brincava em casa e fazia as tarefas do colégio. Também gostava muito de andar de bicicleta e era muito próximo dos primos, que considera irmãos.
O início da trajetória
No terceiro semestre da graduação, o futuro pesquisador começou a iniciação científica no Departamento de Bioquímica, área pela qual acabou se interessando bastante. Entrou no grupo de pesquisa sobre erros inatos do metabolismo, e foi orientado pela professora Angela Wyse, que também foi sua orientadora no doutorado.
Streck destaca alguns professores, além de Wyse, que tiveram importância na sua formação, como a sua orientadora no trabalho de conclusão de curso, Teresa Dalla-Costa, além de outros três do seu grupo de estudo: Carlos Dutra Filho, Clóvis Wannmacher e o Acadêmico Moacir Wajner. “Outro professor que me ajudou muito durante o doutorado foi o João Sarkis, que infelizmente faleceu há alguns anos.”
Eleito membro afiliado da ABC para o período 2014-2018, o jovem cientista não fez mestrado – após a habilitação em análises clínicas, ele foi direto para o doutorado em bioquímica, ambos cursados na UFRGS. Atualmente, Streck é professor titular da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc) e docente permanente do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde.
Combatendo o inimigo: erros inatos do metabolismo
Os erros inatos do metabolismo são um grupo de doenças genéticas raras que, como têm um diagnóstico difícil, acabam sendo subdiagnosticadas. “Ou seja, não conseguimos detectar e identificar todos os indivíduos com essas doenças”, explica o pesquisador. Grande parte desses erros inatos é diagnosticada pelo teste do pezinho. “De uma forma geral, essas doenças provocam problemas no cérebro, principalmente por atrapalhar o seu desenvolvimento. Se não tratadas adequadamente, a chance de óbito e/ou sequelas graves é muito grande.”
Existem muitos erros inatos do metabolismo, mas, atualmente, Streck trabalha com dois tipos: Doença do Xarope do Bordo e Tirosinemia. “São doenças do metabolismo de aminoácidos, e geralmente começam a apresentar sinais e sintomas dias após o início da amamentação. O dano neurológico e problemas no desenvolvimento do cérebro são eventos comuns nessas doenças.”
Seu estudo foca em compreender como as doenças ocorrem, ou seja, de qual maneira os danos acontecem. Ao se saber o mecanismo de uma doença, pode-se pensar em estratégias para enfrentá-la. “Para combater o inimigo, precisamos conhecê-lo. Dessa forma, tento desvendar essas doenças com o objetivo de propor alternativas terapêuticas para as mesmas.”
A ciência no DNA
É justamente essa parte – o descobrimento – que Streck considera a mais encantadora da ciência. “É trazer aos nossos olhos um conhecimento novo. Se ele puder ajudar a vida das pessoas, nem que seja de uma somente, já vale o esforço.” O tempo livre que tem, ele dedica à família – casado com uma cientista, tem uma filha de seis anos e um filho recém-nascido – e a uma de suas maiores paixões, o futebol.
Revisor de mais de 40 periódicos científicos, o gaúcho considera uma honra pertencer ao seleto grupo de jovens cientistas da ABC. “Representa o maior reconhecimento que já tive na minha vida. Motiva-me a trabalhar ainda mais pela ciência e pelas pessoas que pretendemos ajudar com os nossos trabalhos.”
Ele afirma que vai contribuir com a Academia participando dos eventos, interagindo com as pessoas e trabalhando por melhores condições para a ciência, tecnologia e inovação brasileiras. “A ciência está gravada no meu DNA.”