Cristiano Fantini Leite nasceu e cresceu na cidade mineira de Belo Horizonte. Criado no Caiçara – que se localiza na região noroeste da capital – o menino freqüentou, durante a infância, a escola infantil do bairro. Seus pais trabalhavam foram: o pai como relojoeiro e a mãe como representante comercial. “Também tenho uma irmã 19 anos mais velha do que eu. No entanto, devido à grande diferença de idade e por ela ter se casado muito nova, não tínhamos muita convivência”, conta o físico, eleito Membro Afiliado da ABC para o período de 2013 a 2017.
A vida antes da física
Quando pequeno, como todas as crianças da região, Cristiano adorava brincar na rua: corria, jogava futebol, andava de bicicleta e soltava pipa. Dentro de casa, divertia-se com videogames e também com o Playmobil, um de seus brinquedos. Curiosamente, durante o ensino fundamental, ele teve algumas dificuldades com a matemática. “No ensino médio, entretanto, meu interesse pela disciplina cresceu muito e, então, passei a ter facilidade nos exercícios. E a física sempre foi minha matéria preferida”, explica.
O crescente interesse pela física foi, em parte, influenciado pelos livros da professora Beatriz Alvarenga, referência nacional e internacional na área, que eram adotados no ensino médio em sua escola. Fantini recorda: “A parte de ondas e óptica era a que mais me fascinava. As leituras complementares que vinham ao final de cada capítulo dos livros, contando com tópicos um pouco mais avançados, eram de leitura obrigatória para mim.” As aulas de laboratório, segundo ele, também contribuíram para aumentar sua dedicação e curiosidade.
A escolha de carreira não foi um momento de grandes indecisões para Cristiano – embora tivesse ficado em dúvida entre física e música. Ao mesmo tempo em que prestava vestibular, Fantini também realizou um exame de seleção para o Conservatório de Música da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Aprovado para o curso de física na mesma instituição, ele conta: “Durante o primeiro ano da graduação, dividi meu tempo com as aulas de música do conservatório. Depois, acabei me dedicando realmente ao estudo da física.”
Traçando seu próprio caminho
Durante os primeiros semestres, simultaneamente aos estudos, Fantini trabalhou dando aulas em cursos preparatórios para vestibular e também como monitor de graduação. Confessa que era um aluno mediano, não era de boas notas. Dando seqüência aos seus interesses do tempo de escola, Cristiano desejava trabalhar, ainda na graduação, com algum assunto que envolvesse o estudo da óptica. Nesse contexto, a professora Maria Sylvia o convidou a ingressar em uma iniciação científica relacionada à técnica de espectroscopia Raman para a caracterização estrutural de minerais. Ele também se envolveu, por um período, em outra iniciação científica, esta voltada ao magnetismo e às medidas de efeito Hall.
A opção de Cristiano Fantini por seguir carreira em pesquisa se deu quando o Acadêmico Marcos Assunção Pimenta lhe falou sobre os recém-descobertos nanotubos de carbono. Em face das inúmeras possibilidades de aplicação desses materiais em nanotecnologia, Fantini decidiu cursar o mestrado, também na UFMG, estudando a física – mais especificamente a espectroscopia Raman polarizada – em nanotubos de carbono. “Os resultados da minha dissertação geraram minha primeira publicação nesse assunto”, conta. No doutorado, por sua vez, Cristiano deu continuidade ao estudo das propriedades ópticas, eletrônicas e vibracionais desses materiais. “Da mesma forma, obtive resultados muito positivos, os quais renderam à minha tese menções honrosas nos prêmios de teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Sociedade Brasileira de Física”, orgulha-se.
Pós-graduado pela Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, nos EUA, Fantini atualmente é professor adjunto do Departamento de Física da UFMG e dedica-se ao estudo de interações da radiação com a matéria. “Basicamente”, explica, “fazendo um feixe de luz laser interagir com um material, é possível obter várias informações sobre suas propriedades físicas. O foco de minhas pesquisas continua sendo os nanomateriais – cujas dimensões extremamente reduzidas correspondem à aproximadamente um bilionésimo de um metro.”
De acordo com o cientista, esses materiais podem ser excelentes condutores elétricos e também são capazes de apresentar altíssima resistência mecânica e condutividade térmica. “Todas essas extraordinárias propriedades são conseqüências do confinamento quântico dos elétrons, efeito característico da pequena dimensão dos nanomateriais. O desenvolvimento de sensores de alta sensibilidade, dispositivos fotovoltaicos – os quais convertem luz em energia elétrica – e dispositivos emissores de luz são exemplos de aplicações que dependem dos estudos da interação da luz com os nanomateriais”, justifica.
Ciência: prazerosa e gratificante
Para Fantini, a beleza do campo científico está em entender os fenômenos naturais, traduzindo o conhecimento adquirido em avanços tecnológicos. Em sua visão, os jovens que se encontram em fase de escolher qual curso seguir, devem optar por carreiras que sejam para eles prazerosas e gratificantes. Em sua vida, Cristiano afirma, a ciência desempenha esse papel. Quanto às características fundamentais a um cientista, ele é enfático: “Pesquisadores devem ser, acima de tudo, curiosos e perseverantes.”
O especialista em física da matéria condensada, eleito Membro Afiliado da ABC para o período de 2013 a 2017, sente-se honrado pelo reconhecimento. “O título me motiva ainda mais não só para continuar realizando bons trabalhos de pesquisa, mas também a incentivar jovens estudantes a seguirem carreira científica”, diz. Fantini também ressalta seu interesse em participar de todos os eventos promovidos pela Academia, contribuindo com tudo o que estiver ao seu alcance.