O impacto intelectual da ciência feita no Brasil tem sido baixo, de modo geral, e isso precisa mudar, se queremos ter universidades de classe mundial. Essa afirmação, feita pelo Acadêmico e diretor-científico da Fapesp Carlos Henrique de Brito Cruz durante Simpósio sobre Excelência em Educação Superior organizado em parceria pela Fapesp e a Academia Brasileira de Ciências (ABC), foi solidamente embasada em números.
Brito Cruz explicou que o impacto intelectual da ciência se caracteriza por ideias que criam ideias e que são muito citadas na literatura. “Não há descobertas brasileiras com dimensões semelhantes e citadas como a descoberta da estrutura e função do DNA, do transistor, da expansão do universo, do grafeno”, exemplificou o Acadêmico. Embora o crescimento da produção cientifica no Brasil venha crescendo muito, o numero de citações que esses artigos recebem ainda é menor do que a media mundial. O impacto da ciência feita no Brasil, portanto, tem sido limitado, como expresso no gráfico abaixo (clique na imagem para ampliá-la).
Brito fez algumas comparações numéricas. Comparando com a Espanha, por exemplo, o crescimento da produção cientifica de ambos os países foi semelhante entre 1981 e 2010. Mas, o impacto dos artigos espanhóis está acima da média mundial, ao contrário do Brasil. O crescimento numérico da produção cientifica argentina, em outro exemplo, é bem menor do que o Brasil, mas o impacto é maior. Já a China apresenta um crescimento de produção científica muito maior do que o Brasil, mas mostra problema semelhante ao do Brasil com relação ao nível de impacto.
Tratando de áreas específicas, Brito apresentou alguns dados interessantes. “Nas ciências agropecuárias, por exemplo, nossa produção científica é muito maior que a da Coreia, mas o nosso impacto é menor. O mesmo acontece nas ciências de materiais.” Ele destacou resultados positivos na física, cujo impacto cresceu muito nos últimos três anos. Além de contribuições individuais expressivas, esse crescimento do impacto na física, segundo ele, se explica pelo fato de nesse período terem sido publicados artigos de grandes cooperações internacionais, nas quais cientistas brasileiros tiveram papéis relevantes. Ele destacou que essas informações são resultantes de pesquisa feita pela Fapesp, que organizou dois workshops internacionais recentemente sobre esse tema.
Com relação ao impacto de sua produção científica, as universidades brasileiras estão abaixo da média mundial, comparando inclusive com universidades da Turquia. A produção por área, só está acima da media mundial em física, de acordo com o gráfico abaixo (clique na imagem para ampliá-la).

Os desafios para que o Brasil tenha universidades de classe mundial
Segundo Brito Cruz, os fatores determinantes de excelência numa universidade envolvem autonomia e governança, financiamento, excelência em ensino, excelência em pesquisa e excelência em relações com a sociedade.
“O impacto social envolve ideias que afetam políticas públicas. O impacto econômico é relativo às ideias que criam empresas, as que aumentam a competitividade de empresas e aquelas que criam setores industriais”, explicou Brito. Nossas universidades tem imenso impacto econômico evidente, segundo ele, pois sem a formação eficiente de pessoal de nível superior no país não existiria a indústria do petróleo, a indústria aeronáutica e outras que têm feito a diferença no Brasil.
O impacto econômico também é avaliado pela intensidade da pesquisa colaborativa realizada entre universidades e empresa. “Se diz que existe pouca interação com empresas em nível nacional, de modo geral. Mas algumas universidades são exceção. A porcentagem de recursos para pesquisa recebido de empresas pelas universidades estaduais paulistas – USP, Unesp e Unicamp -, por exemplo, as coloca no nível das maiores universidades norte-americanas. “Elas estão entre as 15 mais bem relacionadas com as empresas”, disse Brito.
Para aumentar o impacto intelectual da ciência feita no Brasil, Brito destacou alguns aspectos importantes: melhorar a infraestrutura na universidade, fornecer equipe de apoio para o pesquisador e ampliar a cooperação internacional. “Mais colaboração internacional aumenta o impacto”, disse ele, mostrando gráfico de 2012 da Royal Society. Acredita também que o programa Ciência sem Fronteiras vai ajudar a fazer esse índice crescer. “É importante manter o percentual de artigos publicados em colaboração em torno de 50%. Se esse índice for muito baixo, significa que ninguém quer conversar com você, então o que você faz não deve ser muito bom. Se for muito alto, significa que você não é capaz de ter nenhuma ideia própria original”, explicou o Acadêmico.