Graduada em ciências biológicas pela UFC, Raquel Carvalho Montenegro acredita que, apesar de difícil, sua carreira é muito gratificante. Eleita Membro Afiliado da ABC em 2012, para o período 2013-2017, a pesquisadora estuda tratamentos para o câncer que maltratem menos os pacientes.
Laureada com duas Menções Honrosas – uma do 5th International Congress of Pharmaceutical Sciences, em 2005, e outra da Sociedade Brasileira de Farmacologia Experimental e Terapêutica, em 2008 – Raquel Carvalho Montenegro conta que sua infância foi tranquila e feliz. Irmã mais velha de um menino, seu pai trabalhava fora e sua mãe passava a maior parte do tempo em casa, cuidando dos filhos. Quando pequena, seu interesse pela ciência foi despertado pela curiosidade que tinha em entender fenômenos cotidianos que não apresentavam quaisquer explicações aparentes e óbvias. E já gostava de biologia na época do colégio.
Antes de prestar vestibular e passar pelo árduo processo de escolha de carreira enfrentado por qualquer adolescente, Raquel realizou um intercâmbio de um ano de duração nos Estados Unidos. Segundo ela, a viagem possibilitou sua familiarização com a ciência, especialmente na área de genética. “Assim, quando chegou a hora de escolher, o curso que me oferecia a possibilidade de estudos nessa área era o de ciências biológicas”, conta. Raquel, então, cursou a graduação na Universidade Federal do Ceará (UFC), instituição pela qual também obteve seus títulos de mestrado e doutorado em farmacologia e de onde já foi professora visitante.
Além de monitora de farmacologia, a partir do segundo ano de faculdade ela começou a envolver-se na área de pesquisa e entrou para a iniciação científica no Laboratório de Oncologia Experimental, que contava com a orientação do Dr. Manoel Odorico de Moraes Filho. “O laboratório ficava na Faculdade de Medicina, fora do campus da UFC. Na época, não existia nenhum aluno de biologia no departamento de fisiologia e farmacologia, sendo eu a primeira a abrir essa porta para outros alunos de meu curso”, lembra Raquel. “Ao termino da graduação, fiz seleção para mestrado e fui aprovada. Desenvolvi o meu trabalho em câncer de estômago. No doutorado, resolvi mudar um pouco de abordagem, pois queria muito entender o motivo pelo qual um mesmo medicamento causava respostas distintas em pessoas diferentes”, explica.
Foi então que a bióloga iniciou uma busca por estudiosos cujas pesquisas dessem ênfase a drogas antitumorais. Deparando-se com os estudos do Dr. Mark Ratai, da Universidade de Chicago, Raquel Montenegro inscreveu-se imediatamente para o doutorado-sanduíche. No ano de 2005, ela viajou outra vez para os Estados Unidos. “Em Chicago, eu fui muito feliz. Desenvolvi toda a minha tese em inibidores da proteína tirosina quinase e fiz amizades que duram até hoje, com pessoas de diferentes nacionalidades”, conta.
Em seguida, Raquel realizou um estágio de pós-doutorado com duração de três meses no Cutaneous Biology Research Center, na Harvard Medical School, em Boston. Nesse período, a bióloga dedicou-se a desenvolver um projeto que fazia uso de drogas contra o melanoma, tipo de câncer que atinge o tecido epitelial. “Há mais de dez anos venho trabalhando com a descoberta de novos produtos que combatam o câncer. Hoje em dia, ele é a segunda causa de morte por doença no mundo e as pessoas que o possuem sofrem muito com o tratamento. Assim, tento descobrir novos produtos que possam tratá-lo sem maltratar tanto os pacientes”, explica.
As pesquisas da Acadêmica podem levar ao desenvolvimento de um novo remédio de combate à doença totalmente brasileiro. De acordo com ela, o câncer de estômago – alvo de seus estudos mais recentes – é um tipo de câncer que, apesar de silencioso, mata muitas pessoas, principalmente nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. “Nesse caso, tentamos encontrar novos produtos e também marcadores genéticos capazes de descobrir o câncer mais rápido”.
Outro foco de suas pesquisas é o câncer de colo de útero, uma das variações da doença que mais mata mulheres na região Norte, ainda que possa ser prevenida. “Nesse estudo, nós temos o apoio do Instituto Nacional do Câncer do Rio de janeiro (INCa-RJ) e iremos traçar um perfil das mulheres que têm câncer de colo uterino – passando por tópicos tais como onde moram, idade, primeira consulta e exames anteriores – e classificar o tipo de vírus associado”, destaca a bióloga. Segundo Raquel, o intuito desse levantamento de dados é tornar possível a identificação da idade com que essas mulheres adquirem o vírus, bem como que tipo de vírus é esse, para escolha da vacina que será liberada pelo Ministério da Saúde. “Além disso, queremos entender por que essas mulheres chegam aos serviços de saúde tão tardiamente, o que diminui suas chances de cura”, completa.
Para Raquel Montenegro, que atualmente é professora adjunta da Universidade do Pará, um cientista deve ser curioso, perspicaz, estudioso e perseverante. Além disso, é necessário que saiba interagir e transmitir conhecimento a outras pessoas. Ela acredita que a possibilidade de melhoria de vida em um contexto amplo é algo muito próprio da ciência, capaz de encantá-la. “Na minha área, o que me fascina é a possibilidade de dar um alívio a pessoas acometidas com câncer, seja com um diagnóstico precoce ou com um tratamento mais eficaz”, comenta.
Raquel ainda aconselha jovens interessados no campo da ciência, dando seu parecer sobre a profissão: “Trata-se de uma carreira que é ao mesmo tempo difícil e gratificante quando vemos que, ao final do dia, produzimos conhecimento a ser usado no futuro para o benefício da humanidade”.
O título de membro afiliado da Academia é, para ela, um reconhecimento à sua dedicação à ciência e a seus sacrifícios em prol dos estudos. “Os maiores benefícios que a ABC me traz são a oportunidade de conhecer outros pesquisadores e a possibilidade de expandir as colaborações, com o intuito de crescer sempre”, alegra-se. “Além disso, meus alunos também ficaram muito envaidecidos, o que me deixa pessoalmente muito feliz”, conta Raquel, afirmando que pretende contribuir não só com a organização e participação em eventos acadêmicos, mas também no desenvolvimento da ciência e da tecnologia da região Norte.