Rodrigo do Tocantins Calado de Saloma Rodrigues nasceu e cresceu em Goiânia, capital do estado de Goiás. Filho de pai médico psiquiatra e mãe professora de música do Conservatório da Universidade Federal de Goiás (UFG), ele, que tem uma irmã mais nova, adorava esportes e costumava andar de bicicleta e brincar com videogames.


Seguindo os passos de seu pai

Na época do colégio, Rodrigo tinha especial preferência pelas disciplinas de ciências de biologia. Teve seu interesse despertado em relação ao funcionamento do corpo humano e, ao longo do ensino médio, essa curiosidade só fez crescer. Por conviver com a medicina desde menino, em razão da profissão do pai, foi possível adquirir maior familiaridade com a área. Familiaridade essa que, com o passar dos anos, viria a se tornar uma verdadeira paixão.

Após prestar vestibular, Rodrigues optou por mudar-se de estado e iniciou a graduação na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Sobre essa etapa de sua vida, ele comenta: “O interesse pela ciência e uma compreensão maior de seu significado surgiram durante o curso. Influenciaram-me os professores Mantovani, da bioquímica, e Passetto, da hematologia.” Ainda no primeiro ano de seus estudos, ingressou na iniciação científica – sob a orientação do professor Mantovani – e começou a realizar pesquisas com modelos animais sobre a função das células do sangue. “A partir do quarto ano passei à outra iniciação científica, dessa vez tendo o professor Passetto como orientador”, completa.

A residência médica em hematologia e hemoterapia, por sua vez, foi realizada no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Em seguida, ele buscou especializar-se ainda mais e obteve o título de doutorado em clínica médica também pela FMRP-USP. E não parou por aí: foi para o exterior e cursou um pós-doutorado nos National Institutes of Health, localizado na região de Maryland, nos Estados Unidos. Lá, Rodrigo atuou também como staff scientist do Hematology Branch.

Colhendo os frutos

Hoje em dia, Rodrigues está de volta à instituição pela qual obteve seus títulos de graduação e doutorado. Além de trabalhar como professor associado do Departamento de Clínica Médica da universidade, coordena o Programa de Mestrado Profissional em Hemoterapia e Biotecnologia e o Laboratório de Hematologia “Cássio Bottura”, ambos no Hospital das Clínicas da FMRP-USP. Revisor de inúmeros periódicos científicos internacionais, ele é também membro do corpo editorial de três deles: Blood (Philadelphia, EUA), ISRN Stem Cells e Journal of Translational Medicine.

Após um rico trajeto de especialização e muita experiência na área da medicina, teve seus empenhos profissionais reconhecidos: foi eleito membro afiliado da ABC. “Sinto-me honrado por receber esse título em um ambiente nacional no qual a atividade científica é pouco reconhecida”, agradece. Em mandato que irá de 2013 a 2017, Rodrigues acredita ser capaz de contribuir com a organização no que diz respeito não só ao desenvolvimento, mas também ao reconhecimento da ciência e do cientista no Brasil.

Na tentativa de explicar suas linhas de pesquisa de maneira simplificada, ele conta: “Meu trabalho é investigar como alterações nos telômeros”, que são as pontas dos cromossomos, “podem causar doenças em serem humanos. Em certas circunstâncias, eles podem estragar e perder a sua função de proteger os cromossomos, o que pode ocasionar anemia aplástica – uma doença na qual a medula óssea para de produzir as células do sangue – ou até mesmo leucemia.” Rodrigues também procura identificar mecanismos que possam corrigir telômeros que se estragaram, evitando doenças e tratando-as.

No Brasil, ser cientista não é fácil

É essa a opinião de Rodrigo. Para ele, ainda há muito a se fazer no que diz respeito à diminuição da burocracia, que ele considera excessiva no país. Ademais, o novo Membro Afiliado opina que os pesquisadores nacionais contam com pouco incentivo para realizarem seus trabalhos e partilha da visão de que a profissão deveria ser mais valorizada. “A carreira de cientista não é reconhecida pelo Ministério do Trabalho”, lamenta.

Apesar das dificuldades, Rodrigues não se arrepende do caminho escolhido e, a um jovem interessado em ciência, diria que ser cientista é uma atividade extremamente prazerosa. Segundo ele, o campo científico é fascinante e o que mais o encanta, sem sombra de dúvidas, é entender o funcionamento da natureza visando a descoberta de novos tratamentos.