Vinicius do Nascimento Carrasco, eleito Membro Afiliado da ABC e com mandato a ser exercido de 2013 a 2017, é filho de pai engenheiro mecânico e mãe dona de casa. Seu pai fez carreira na indústria de embalagens. Primogênito da casa, Carrasco perdeu seu irmão mais novo, publicitário, há seis anos. Sua irmã, graduada em educação física, dá aulas de dança para crianças. A experiência em carreira científica, portanto, foi inédita na família.
O amor pelo futebol
“Durante meus primeiros 15 anos de vida, nada me interessou mais do que o futebol.” Segundo Vinícius, ele só começou a dar atenção a outras atividades quando percebeu que, embora fosse um bom jogador, não teria sucesso garantido caso seguisse carreira no esporte.
Suas disciplinas preferidas no colégio eram matemática e história. Tirando o futebol da jogada e dado o seu crescente interesse pela possibilidade de combinar matemática com questões relativas ao comportamento humano, quando chegou o momento de escolher um curso de graduação, Carrasco optou pela economia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Outro fator ao qual ele credita sua escolha é o contexto histórico de sua infância. “Tendo crescido em um ambiente econômico bastante adverso, em meio à hiperinflação do final dos anos 80 e início dos anos 90, sempre presenciei debates diários a respeito das melhores formas de se colocar o país de volta aos trilhos”, explica.
Trajetória profissional
Recordando as pessoas que o influenciaram durante o ensino superior, Carrasco logo destacou o professor Marcelo Savino Portugal, seu orientador na iniciação científica. “Ler seus papers de econometria de séries de tempo e não entender absolutamente nada do que tratavam me estimulava muito a estudar”, brinca. Ele ainda completa: “Quando passei a entender sua produção, o estímulo aos poucos me transformou de consumidor em produtor de conhecimento.” Para finalizar – além de seu acompanhamento e tutoria constantes – Vinícius ressalta a importância do curso de microeconomia ministrado por Portugal em sua formação, classificando-o como “absolutamente iluminador para um jovem de 18 anos”.
Após a graduação, Carrasco obteve seu título de mestrado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). De acordo com ele, esse período somente confirmou a assertividade de sua escolha e a paixão pela economia só fez crescer. “Minha preocupação com a formalização e disciplina metodológica começou na PUC. Embora muitas pessoas tenham sido importantes nessa fase de minha formação, Márcio Garcia, Rogério Werneck e Humberto Moreira – orientador de minha tese – merecem especial menção”, conta.
O doutorado, por sua vez, foi cursado na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. De acordo com Vinícius, a oportunidade de estudar com “gigantes da área” como Susan Athey, Jon Levin, Ilya Segal e Paul Milgrom foi única. Tê-los como orientadores, então, foi uma grande sorte. “Os quatro desempenharam papel fundamental em minha especialização. Junto com Roger Myerson – com o qual tive breve contato durante visitas a Chicago – eles são referências intelectuais indeléveis e tudo o que faço tem alguma conexão com suas pesquisas”, reconhece.
Foi também durante sua estadia na Califórnia que Carrasco começou a dedicar-se ao estudo dos desenhos de mecanismo, alvo de suas pesquisas até os dias atuais. Nessa área, o cientista desenha diferentes instituições econômicas – mecanismos ou “regras do jogo” – capazes de atingir um determinado objetivo. “Por exemplo: diferentes regras de votação – tais como maioria simples, maioria qualificada e decisões por unanimidade – geram, potencialmente, resultados diversos. Dentre todas as possíveis regras, qual induz resultados desejáveis em uma determinada votação? Qual delas minimiza a chance de se condenar um acusado quando ele for inocente?”, explica.
Para melhorar o entendimento a cerca de seu campo de pesquisas, ele exemplifica: “Imaginemos que o governo queira conceder o direito de exploração de blocos de petróleo na camada pré-sal. Qual é o tipo de leilão que gera maior receita para o governo? Um leilão de primeiro ou segundo preço? Um leilão no qual os pagamentos sejam feitos em dinheiro ou através da cessão de participação ao Estado nos resultados?”.
Ser cientista
A ciência, na visão de Vinícius do Nascimento Carrasco, é muito encantadora. O fato de dedicar-se, na maior parte das vezes, a questões para as quais inicialmente não tem a mais remota ideia de qual seja a resposta, é o que mais o cativa. Ele observa que, ao longo de sua relação com a questão, as respostas vão se delineando: em alguns estágios se aproximam e, em outros, se distanciam. “Depois de um tempo, eu sou o problema com o qual estou trabalhando, viro seu refém. Assim, a ordem só será reestabelecida quando, ao encontrar a resposta, o problema voltar a se subordinar a mim. Poucas coisas são mais prazerosas que esse processo de descoberta proporcionado pela ciência, que envolve perder-se no meio do caminho um sem número de vezes”, aponta.
De acordo com ele, um cientista precisa ter muita paciência, perseverança e, é claro, algum talento. A um jovem interessado pelo campo, Vinícius recomendaria a experimentação. “Se o processo lhe der prazer, vá em frente. Caso contrário, talvez a vida de pesquisador não seja a mais apropriada”, opina o especialista em teoria microeconômica, que atualmente é professor assistente da PUC-Rio.
No ano de 2012, Carrasco foi eleito membro afiliado da ABC. “Trata-se de uma grande honra”, disse. O cientista afirma estar esperançoso de que sua relação com os outros Acadêmicos gere benefícios diretos e indiretos a suas pesquisas – ele ainda espera poder recrutar alguns matemáticos interessados em ajudá-lo a provar seus resultados. O inverso, para ele, é também muito válido. “Pretendo dar minha contribuição às pesquisas de outros membros que tenham interesse em interagir comigo”, finaliza.