A presidenta da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e membro titular da ABC Helena Nader, participou, no final da tarde de terça-feira (14), da Sessão Magna “Desafios da Ciência na América do Sul – Clima, Saúde e Alimentos”, em Porto Alegre, durante o 6º Encontro Preparatório ao Fórum Mundial de Ciências (FMC) 2013, que será realizado no Rio de Janeiro, nos dias 25 e 26 de novembro.

Ela falou sobre o próprio Fórum e sobre os avanços e desafios da ciência brasileira. Ao lado de Helena, também participou da sessão o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Jacob Palis. De acordo com o presidente da ABC, o Fórum Mundial de Ciências 2013 é uma oportunidade ímpar para colocar o Brasil no centro da ciência internacional. “Só o fato de ele ser realizado no nosso país implica nisso”, disse Palis.

“Com a vinda desse evento para cá, o respeito pela ciência brasileira fica carimbado. Caso contráio não teríamos o fórum aqui.” Segundo ele, com a decisão de realizar o FMC no Rio de Janeiro, os seus organizadores da Hungria reconhecem o Brasil como um país que está deixando de ser uma potência emergente para ter status de primeira linha na ciência internacional.

Em sua participação na Sessão Magna, a presidenta da SBPC, por sua vez, começou elogiando e agradecendo o esforço de Palis para trazer o FMC para o Brasil. “Ele foi o grande batalhador para isso”, reconheceu. “O professor Palis lutou muito para convencer a Academia de Ciências da Hungria a realizar o Fórum aqui.” Em relação aos encontros preparatórios, Helena disse que eles estão servindo para reverberar o FMC. Sem eles pouca gente ficaria sabendo da existência dele. Além disso, os eventos preparatórios também servirão para “tirar” a cara do Brasil, que será apresentada no Fórum do Rio de Janeiro.

A presidenta da SBPC aproveitou sua participação da Sessão Magna para destacar alguns pontos positivos e desafios da ciência brasileira. “Nossa ciência é algo de que tenho orgulho”, disse. Em seguida, Helena citou alguns marcos do avanço científico do país, como a criação da Academia Brasileira de Ciências ABC, em 1916 e da própria SBPC, em 1948. Depois, vieram o CNPq e a Capes, ambos em 1951, o Ministério da Ciência e Tecnologia, em 1985, hoje com a palavra Inovação incorporada ao seu nome, e o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, em 1996.

Ela também ressaltou o papel que a Capes tem desempenhado em prol da educação e da ciência e tecnologia. “Nosso sistema de pós-graduação com avaliação levou a um aumento considerável do número e da qualidade dos programas de mestrado e doutorado”, elogiou. “Hoje, temos cerca 70 mil alunos de doutorado e 120 mil de mestrado, número que, apesar de crescente, ainda está abaixo do que o Brasil precisa. O que não quer dizer que nós devemos baixar a qualidade para elevar os números. O padrão de qualidade é fundamental.”

Helena lembrou ainda que hoje o país é responsável por 2,7% da produção científica mundial, o que o coloca na 13ª posição no ranking do planeta. Em algumas áreas do conhecimento, no entanto, a ciência brasileira está acima desta média. “Em agricultura, por exemplo, estamos em primeiro”, lembrou. “E em algumas áreas da medicina somos o segundo ou terceiro colocado.” A presidente da SBPC ressaltou que não é só no número de publicações científicas que o Brasil tem se destacado, mas também pela qualidade delas, o que é atestado pelo quantidade cada vez maior de citações desses artigos.

Entre as suas preocupações com a ciência brasileira, Helena citou o fato de o Brasil, apesar estar entre as oito maiores economias do mundo, ser o quarto país com maior desigualdade da América Latina. “Isso não pode ocorrer”, disse. “E também a nossa educação vai mal. É péssima.” A presidente da SBPC disse que os resultados dos estudantes brasileiros no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) “são horrorosos”. “Nós estamos significativamente abaixo da média dos países da OCDE”, destacou. “Além disso, os dados do ENEM mostram que o desempenho dos nossos alunos em ciências vem caindo. A nota média caiu nos últimos três anos. Isso é preocupante. Por isso, se o Brasil quiser ocupar um lugar de destaque na economia mundial e deixar de ser um país que vende commodities, terá que investir pesado em educação e ciência.”