A segunda coletiva dentro da programação dos Diálogos para o Desenvolvimento reuniu a jornalista Claudia Collucci, da Folha de São Paulo, e os entrevistados Elibio Rech (Embrapa) e Protásio Lemos da Luz (Incor) para debater sobre segurança alimentar. A primeira questão apresentada foi sobre o dado do IBGE, que aponta que 35% dos domicílios brasileiros estão em insegurança alimentar.
A jornalista Claudia Collucci, com Protásio da Luz
à sua direita e Elibio Rech à sua esquerda

Para Rech, os dados revelam o problema. “Há uma ligação direta com o ganho anual, a percentagem de crianças na escola e o acesso à saúde. Minha sugestão é uma função de transformação nessa equação: conhecimento ecológico local para produção de alimentos, pois a manutenção da biodiversidade interessa a quem produz. O segmento pobre pode ser mudado com esforços e políticas públicas, mas esses esforços são vulneráveis e não atingem os segmentos mais necessitados. Não basta dar água para aumentar ganho anual, a tecnologia não garante mudança de classe, mas a soma de todos os fatores, dos quais o central é a educação infantil. É inaceitável ter crianças em plantios de sementes e colheitas. De acordo com dados do Censo Agropecuário de 2006, o cenário mudou pouco desde 1995, quando foi realizado o primeiro censo. Sustentabilidade passa pela redução de desigualdade”, revelou.
O cardiologista Protásio da Luz apontou a doença cardiovascular como a maior causa de mortes no mundo. “Os fatores de risco são iguais nos países pobres e ricos e têm influência direta na doença arterioesclerótica, que se manifesta como doença cardíaca, cerebral. As implicações dessa doença são de caráter humano e econômico. Uma alimentação com muito sódio, gorduras em excesso, a obesidade infantil são algumas das causas. Mas o que as universidades podem fazer? Como enfrentar a doença coronária? A resposta está nos remédios e nas mudanças no estilo de vida. Hoje vivemos uma epidemia global de doenças cardiovasculares – nos países mais pobres, se ingere muito carboidrato, se consome muito sal e cigarro. No mundo ocidental há menos fumo, menos hipertensão, mas muito consumo de carboidratos. Um em cada quatro habitantes do mundo tem obesidade. Em determinados locais, é preciso regionalizar e buscar modificar o estilo de vida, é muito difícil, mas é possível”, relatou.
Ainda segundo ele, um exemplo de uma ação bem sucedida aconteceu na Finlândia, onde um esforço conjunto envolvendo escolas, universidades e mídia conseguiu uma redução expressiva no índice de doenças cardiovasculares. “A campanha focou na redução do consumo de manteiga e o resultado foi uma queda de 85% de doenças cardiovasculares só com essa mudança na alimentação”, revelou Protásio.
A VII Conferência da IAP se encerra hoje, dia 26, com um debate principal que tem como tema “Academias de Ciências trabalhando em conjunto para enfrentar o Grande Desafio da Erradicação da Pobreza e Desenvolvimento Sustentável”. E duas mesas de discussões sobre os Grandes Desafios e Inovação Integrada: Lições da experiência; e os Grandes Desafios e Inovações integrados com a Erradicação da Pobreza e Desenvolvimento Sustentável. Encerrando a série de coletivas Diálogos para o Desenvolvimento, a editora do Ciência Hoje On-line, Carla Almeida será a mediadora da mesa com as entrevistadas Maggie Koerth Baker (Boing.Boing.net) e Petra Skiebe Correte (Freie Universitat Berlin), que debaterão sobre como melhorar a alfabetização científica.