“Nós podemos realizar um balanço bastante positivo do que foi a reunião, tanto do ponto de vista da Conferência, quanto da própria Assembleia Geral”. Foi essa a impressão final de Marcos Cortesão, assessor técnico da ABC e integrante do Comitê Organizador da VII Conferência e Assembleia Geral da Rede Global de Academias de Ciências (IAP), que aconteceu entre os dias 24 e 26 de fevereiro de 2013, no Rio Othon Palace Hotel. O Acadêmico Marcello Barcinski, co-presidente do Comitê Científico da conferência, compartilha dessa opinião. “Foi um sucesso muito grande, a julgar pelas manifestações recebidas durante e após o evento”, opina o especialista em imunologia celular, que esteve à frente da organização da reunião.

Marcello Barcinski e Marcos Cortesão

A conferência reuniu 160 cientistas de 55 países, que debateram o potencial papel da ciência nos esforços em prol da erradicação da pobreza e do desenvolvimento sustentável. Na visão de Barcinski, pesquisador da Fiocruz, a oportunidade proporcionada pela conferência para que as Academias fizessem uma reflexão sobre o papel da Ciência e de sua própria atuação em assuntos tão relevantes, mostrou que a escolha do tema foi absolutamente acertada.

Apesar das dificuldades encontradas na organização de um evento de tamanho porte, Cortesão afirma que o resultado foi um encontro de padrão internacional. “As reuniões internacionais organizadas pela Academia têm tradicionalmente primado pela excelência, tanto no aspecto de conteúdo como no que diz respeito à organização”, declara. “A ABC tem sido reconhecida, no cenário internacional das Academias de Ciências, como uma referência quando se discute a organização de grandes fóruns científicos internacionais. Isso é afirmado pelos dirigentes das principais Academias e organizações científicas”, afirma Cortesão.

Laboratórios de desafios

Ainda segundo ele, uma das inovações apresentadas nessa edição do evento foi a implementação de um novo formato de conferência, os “Challenge Labs”. Rompendo com os modelos tradicionais de reuniões científicas, onde o palestrante conta com um tempo maior de exposição, nos “Challenge Labs” cada um dos três conferencistas dispunha de apenas cinco minutos para apresentar sua temática à plateia. Em seguida os participantes se dividiam em três grupos, onde eras discutidas, em maior profundidade, as teses defendidas por cada expositor.

De acordo com Barcinski, a inovação atingiu resultados excelentes. “Realmente, trata-se de um formato que propicia muita discussão, podendo gerar idéias e soluções muito criativas e inovadoras para os temas abordados”, declarou. “Esse modelo, que já é utilizado no Fórum Econômico Mundial, representou uma experiência muito positiva, mas, desde o início, foi enxergado como um desafio para os organizadores, por não fazer parte da tradição das Academias ou da IAP.” A novidade foi um sucesso também na visão de participantes estrangeiros e de brasileiros presentes. O Acadêmico Elíbio Rech, por exemplo, comentou ter achado um modelo muito interessante e, elogiando sua dinâmica, recomendou que a Academia o adotasse em suas reuniões. “Além de permitir o envolvimento de um número maior de pessoas nos debates, esse formato as estimula a exercitarem o poder de síntese, estimulando a objetividade”, comentou Cortesão.

Diálogos para o Desenvolvimento

Outro aspecto destacado pelo assessor da ABC foi o esforço desenvolvido para estimular a interlocução com a sociedade. Isso se deu através da iniciativa denominada “Diálogos para o Desenvolvimento”. No âmbito desses diálogos, a Assessoria de Comunicação da ABC organizou três coletivas de imprensa que, mediadas por jornalistas de três veículos brasileiros diferentes e contando com a presença de ilustres participantes, foram bastante ricas em conteúdo. Foram abordadas as mudanças climáticas e desastres ambientais, a saúde e segurança alimentar e o estímulo à cultura científica na sociedade. Para Marcello Barcinski, “a mídia, em todas as suas formas, é inquestionavelmente um elemento fundamental para a divulgação científica”. Em relação às dinâmicas promovidas, o Acadêmico elogiou não só sua organização, mas também a atualidade dos temas tratados e a escolha dos entrevistados.

De acordo com Cortesão, um balanço extremamente positivo nesse contexto foi a atuação da SciDev.Net, coordenada no Brasil e América Latina pela jornalista Luisa Massarani, que realizou uma cobertura especial durante a VII Conferência da IAP, divulgando o evento na escala global. “Eu espero que o saldo positivo que nós tivemos da relação com a SciDev.Net nessa reunião tenha desdobramentos, resultando numa frutífera parceria”, destaca o assessor, que acredita que uma parceria com a ABC pode ajudar a intensificar a presença da ciência brasileira e latino-americana no site.

Agenda pós-2015

Do ponto de vista da agenda das Academias, ambos os membros do Comitê Organizador do evento acreditam que a discussão realizada na conferência contribuiu para sensibilizar as Academias para que se envolvam no processo de construção da agenda pós-2015. Segundo eles, a IAP sai da reunião mais comprometida com o assunto. “A missão agora é manter esse engajamento em relação ao compromisso com a erradicação da pobreza e o desenvolvimento global sustentável. E isso se faz através do input da ciência para problemas críticos na sociedade, sejam esses ligados às mudanças climáticas ou à saúde humana”, exemplificou Barcinski. “Um dos compromissos assumidos na reunião é que o próximo Comitê Executivo da IAP discutirá a proposta do nosso ministro de CT&I, endossada pela ABC, de se criar um Comitê que proponha formas e alternativas de atuação das Academias de Ciência, para que estas efetivamente contribuam para a erradicação da pobreza”, explicou.

Conforme Cortesão, “o novo Comitê Executivo, que realizará sua primeira reunião no segundo semestre de 2013, terá a responsabilidade de discutir como as Academias podem desenvolver ações mais efetivas para implementar as recomendações dessa conferência”, recomendações essas que, em sua maior parte, estão expressas na “Carta do Rio”, a qual terá sua versão final divulgada até o final da semana que vem.

Brasil eleito quase por unanimidade para Comitê Executivo da IAP

A Assembleia Geral, fechada para a imprensa, aconteceu no dia 27 de fevereiro. Foi eleita não só a nova co-presidência, mas também o novo Comitê Executivo da organização. Ainda no fim de seu primeiro mandato, o co-presidente da IAP Mohamed Hassan (Sudão) se reelegeu e, no lugar do canadense Howard Alper, foi eleito o ex-presidente da Academia Alemã de Ciências Leopoldina, Volker ter Meulen (na foto ao lado). Apesar de ter pouco contato com o alemão, Barcinski conta que, de acordo com diferentes pessoas que o conhecem bem, Vol
ker é um pesquisador muito competente e comprometido com a Rede Global de Academias.

O Comitê Executivo, por sua vez, é constituído por 11 Academias, sendo seis oriundas de países em desenvolvimento e outras cinco de países industrializados, explicou Marcos Cortesão. “Dentre os países em desenvolvimento, foram eleitas as Academias do Brasil, México, África do Sul, China, Índia e Cuba. No caso dos países industrializados, entraram no Comitê Executivo as Academias dos Estados Unidos, Itália, Japão, Canadá e França”, enumerou. Vale ressaltar que a ABC foi a mais votada: dos 55 países presentes, recebeu 51 votos. “Achei importante o Brasil ter sido eleito com essa larga margem de votos. Isso demonstra não só o prestígio da nossa Ciência e da ABC entre as Academias que integram a IAP, mas também confirma o sucesso da Conferência”, finalizou Marcello Barcinski.