Bruno Duarte Gomes teve uma sólida base familiar. Os pais, que não fizeram curso superior, trabalhavam fora e eram assalariados, mas sempre ficaram de olho nos estudos dos três filhos. “Agradeço a eles por todo o apoio, em especial à minha mãe, a quem tenho especial gratidão por ter alcançado tudo o que consegui”, conta. Bruno é o mais velho dos irmãos: a irmã do meio é farmacêutica e o mais novo é engenheiro da aeronáutica pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA).

Quando criança, o menino adorava os jogos eletrônicos. “Eu era péssimo em esportes e fui completamente viciado em videogames por toda a minha infância”, revela. No colégio, gostava das matérias relacionadas às ciências naturais: biologia, química e física. Ele acredita que seu interesse pela ciência tenha surgido devido aos filmes de ficção científica, como “Star Wars” e “Jornada nas Estrelas”. Cultivava um fascínio por assuntos ligados ao espaço sideral, alienígenas e afins.

Gomes se graduou em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e optou pela iniciação científica sob a orientação da Acadêmica Maria Paula Cruz Schneider, geneticista e pesquisadora da UFPA. “Foi por essa época que não quis mais parar”, explica. Obteve os títulos de mestre e doutor em Neurociência e Biologia Celular pela mesma universidade. O primeiro, sob orientação do professor Manoel da Silva Filho, foi desenvolvido no laboratório de Biofísica Celular do então Centro de Ciências Biológicas e o doutorado foi cursado sob orientação do Professor Luiz Carlos de Lima Silveira. “As linhas de pesquisa desse laboratório e do laboratório de Neurofisiologia Eduardo Oswaldo Cruz concentravam-se em estudos do sistema visual de animais, roedores e primatas e, também, no sistema visual de humanos”, relata.

Seu trabalho consiste em verificar a função da retina e da área do cérebro responsáveis pelo processamento da visão. Essa verificação analisa a resposta elétrica das células. Uma determinada resposta significa que a área está funcionando de modo adequado. “Outra vertente é estudar como as cores e a visão de detalhes é processada pelo cérebro e pela retina”, explica o pesquisador, complementado que pesquisas nessa área são a base para as aplicações ópticas de auxílio na função visual e outros aparatos.

Além disso, iniciou, recentemente, pesquisas na área de interface entre cérebro-máquina, uma das abordagens de fronteira da neurociência com muitas aplicações na reabilitação de pacientes com déficit motor, de fala e auditivo. “Essa nova linha de pesquisa me traz muita alegria pela beleza e clara aplicação em pessoas com deficiências. Acredito que somos o primeiro grupo na Amazônia que inicia pesquisas nessa área e muito me anima estar em um grupo com jovens pesquisadores paraenses que saíram do estado – e às vezes do país – para retornarem e se fixarem em nossa região”, acrescenta Gomes, dando como exemplo os pesquisadores Schubert Carvalho, do Instituto Tecnológico Vale, e Givago da Silva Souza, da UFPA, seu colaborador desde os tempos de pós-graduação.

Aos olhos de Gomes, a humanidade tem grandes realizações, como a pintura, a música, a arquitetura, o estado de direito e a democracia. Mas a maior de todas, diz ele, é a ciência. “Encanta-me ver como a área permeia todos os aspectos da nossa vida, em grande parte por meio da tecnologia. O computador, por exemplo, é uma máquina incrível cuja existência só foi possível depois de muitos anos de pesquisa árdua e apaixonada”, observa. “Além disso, ela nos leva a uma compreensão mais ampla da realidade. A ciência é como um microscópio que nos permite enxergar todo um universo outrora oculto e fascinante”.

O Acadêmico afirma que a Neurociência tem um aspecto singular muito interessante, que é o fato de se estudar o ser humano com base nele mesmo. Ou seja, “usamos o cérebro para estudar o cérebro”. Para ele, outro ponto intrigante é o quanto a área mostra que o mundo tal como é vislumbrado e sentido é apenas uma representação adequada da realidade. “Adequada à nossa sobrevivência: uma representação moldada por milhares de anos de seleção natural”.

Ser um cientista, segundo Gomes, é uma profissão que envolve uma série de conquistas pessoais e de revelações incríveis, mas que não é comum. A seu ver, as duas palavras que se encaixam com as características fundamentais de um cientista são a teimosia e a disciplina. “Não importa o quanto você seja inteligente e tenha facilidade para entender. Se não for teimoso e disciplinado…”, sublinha.”Não é como ser um gerente de banco ou qualquer outra profissão na qual o indivíduo sai do trabalho e esquece completamente de tudo. Um cientista leva seu legado consigo, na mente e no coração, o tempo inteiro”, pontua. Por isso, o Acadêmico aconselha aos jovens interessados em ciência que se preparem e estejam dispostos a encarar esse cenário. “Em nosso país, os pesquisadores são muito mais que cientistas: eles exercem múltiplas funções para ver seu trabalho evoluir. Mas, com tudo isso, o prazer da descoberta é indescritível. Vale à pena.”

Gomes avalia que o título de Membro Afiliado é uma premiação pelo trabalho e dedicação, significando também um novo e importante compromisso. “Além de gostar de trabalhar como cientista, sempre me interessei pela divulgação científica. Grandes divulgadores, como Carl Sagan, Richard Dawkins, Stephen Jay Gould, entre outros, tiveram um papel muito importante em minha vida”, enfatiza. Deste modo, ele acredita que a área possa ser um ponto de contribuição à sociedade através da Academia. “Nós, como Membros Afiliados, devemos trabalhar nisso.”