“A ciência é como um sonho de criança, onde você está sempre próximo do que deseja. E como criança, todos os dias você deslumbra um sonho mais belo que o anterior”. É por causa desse encantamento com a ciência que o Membro Afiliado da Região Nordeste & Espírito Santo Severino Alves Júnior, eleito para o período 2010/2011-2015, diria para um jovem que tem interesse pela carreira científica “seguir os seus sonhos”. E foi isso que fez o Acadêmico que, quando criança, era apaixonado por Biologia, Física e tinha facilidade com Matemática – ele brincava com um amigo de não estudar para a prova e ver qual dos dois tirava a maior nota. Mas engana-se quem pensa que o sonho de Júnior era estudar uma dessas disciplinas na faculdade: ele acabou optando pela Química. “Esta matéria une os conceitos da Matemática e da Física”, explica.
E o gosto de Júnior pelos estudos não deve ter sido à toa: durante a infância, seus pais trabalhavam fora o dia todo – ele era comerciário e ela funcionária do Departamento Nacional de Trânsito (Detran) – e não tinham dinheiro para pagar uma babá. Por isso, o futuro cientista estudava em uma escola pública pela manhã e em outra de tarde. O Acadêmico, que não gostava de carrinhos de brinquedo e preferia jogar futebol e bonecos do tipo forte apache, com os quais brincou até começar a graduação, tem quatro irmãos mais novos, mas foi o único a estudar em uma universidade pública federal.
A infância que o levou à Química
Vários fatores influenciaram o interesse de Júnior pela ciência. “Lia bastante as revistas de Perry Rhodan (um periódico semanal de ficção científica criado em 1961, na Alemanha) e passei muitas férias na casa dos meus avós paternos em Angicos, no Rio Grande do Norte, onde eu tinha que usar a criatividade para brincar com meus primos”, conta o pesquisador. Para incrementar sua diversão, ele usava desde sementes de pau-pereira e gravetos até ossos de animais, além de tentar entender como flotava água de uma cacimba doce, de onde vinha o abastecimento da casa dos avós. A admiração pelos professores que teve – em especial os de Física, Matemática, Química e até mesmo História – também foi importante na sua escolha.
Assim que ingressou no curso de Química da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o Afiliado tomou conhecimento do Programa de Educação Tutorial (PET) do Ministério da Educação (MEC). Após o primeiro semestre da graduação, ele participou de uma seleção e ficou entre os quatro melhores da sua turma. “A oportunidade de fazer parte da segunda turma do PET de química da UFRN me fez crescer bastante. Desde então, não passei nenhum ano sem bolsa – fiz iniciação científica, doutorado, pós-doutorado e agora sou pesquisador”, comemora.
Júnior conta que sua graduação foi muito inspiradora, pois teve aulas excelentes e conheceu grandes profissionais. “Tive a oportunidade de estudar com os professores Otom Anselmo, Bartolomeu de Melo e Hélio Scatena Júnior, que me incentivaram a ter uma formação multidisciplinar desde o início de minha graduação.” Logo, ele estudou disciplinas eletivas e complementares na física e farmácia, que foram de importância fundamental para o seu crescimento e, principalmente, para a escolha da área em que iria desenvolver seu doutoramento. “O ponto mais importante dessa trajetória foi durante minha pós graduação, pois, neste momento, o professor Gilberto Sá (Membro Titular da ABC) me proporcionou a liberdade de pensar e desenvolver qualquer ideia que viesse a ter.”
O título de doutor em Química, com foco em Físico-química inorgânica, Júnior conquistou na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Um dos pós-doutorados foi concluído na Divisão de Tecnologias In Vitro do Cis Bio International, na França, e o outro ele fez na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, em Portugal.
As aplicações de sua pesquisa
Atualmente professor-adjunto da UFPE, onde também é vice-coordenador do Programa de Pós-graduação em Química, Júnior pesquisa na área de Campos de Coordenação, cuja aplicação vai desde a indústria de eletrônicos até a medicina. “Nossa linha consiste em sintetizar compostos, substâncias, que apresentem multifunções que possam ser aplicadas em monitores para TV, materiais que armazenem gases, sensores térmicos e de umidade, entre outros”, explica o Afiliado. “Além disso – e principalmente -, sintetizamos substâncias que diminuem os efeitos adversos dos fármacos utilizados em tratamento de câncer, dando mais qualidade de vida aos pacientes acometidos por esta doença.”
Para Júnior, não seria possível escolher outra carreira senão a científica, na qual, em sua opinião, a versatilidade e a facilidade de ver as aplicações do seu trabalho são pontos positivos: “O que mais me encanta é a possibilidade de estudar qualquer assunto que eu tenha vontade e, principalmente ver minhas ideias funcionando. Também é importante para mim a oportunidade de dar uma contribuição efetiva para a sociedade.” Para o pesquisador, as características mais importantes na sua profissão são a criatividade, a persistência e, especialmente, a coragem. “O cientista não pode ter medo de errar”, revela.
Júnior diz que é difícil avaliar os benefícios que a designação de Membro Afiliado da ABC trará para a sua carreira: “Sinceramente, não tenho palavras para descrever esse título. Sei que as oportunidades que terei vão além de reconhecimento dos meus colegas. Agora, pretendo divulgar mais a ciência para que mais jovens tenham interesse em ingressar nessa área.”