O amazonense Eduardo Freire Nakamura teve uma infância muito boa, cheia de afeto incondicional. Seus pais, oriundos de famílias muito humildes, não mediram esforços para garantir aos filhos boas doses de diversão, com tempo para exercitar a criatividade, mas sem deixar de lado a formação educacional e o senso de responsabilidade e cidadania.

Ele conta que a avó materna, embora muito pobre, nunca deixou um filho passar fome e conseguiu que todos completassem o ensino superior. Sua mãe, a mais velha de 12 irmãos, tornou-se professora de ensino básico de início e, posteriormente, do ensino superior. Ela ajudou os irmãos e sempre valorizou muito os estudos, cobrando responsabilidade dos filhos.

O pai, segundo mais novo de sete irmãos, era filho de japoneses que migraram para os EUA para um casamento arranjado. Hoje com 82 anos, começou como agricultor, plantando batatas, até tornar-se professor de literatura inglesa na universidade. Entre uma coisa e outra foi confinado a um campo de concentração na Segunda Guerra, foi paraquedista do exército americano, desenhista profissional em Chicago e cozinheiro no seminário, onde entrou para tornar-se padre. Já exercendo a profissão, chegou em Manaus, onde conheceu a futura esposa e por ela decidiu largar a batina. Casaram-se. Daí para a frente, trabalhou numa usina termoelétrica, em restaurantes, foi sócio de uma rede de lanchonetes e entrou para o serviço público no INPA, onde se aposentou. Tornou-se então sócio de uma escola de inglês e professor voluntário de literatura inglesa na Universidade Federal do Amazonas.

“Me lembro de ter contado essa história numa aula de espanhol e o professor ter me cumprimentado por tanta imaginação e criatividade”, conta Eduardo Nakamura. Na escola, gostava mais de matemática. Na infância brincava muito em casa com os irmãos, mas gostava mesmo era da rua: de correr, jogar futebol e tocar violão com os amigos.

Quando entrou na graduação em engenharia elétrica na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), teve pouco contato com ciência, mas já pensava em fazer mestrado e doutorado, em função da iniciação científica em matemática. Na pós-graduação, cursada na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é que começou a lidar com pesquisa e diz que se encontrou, começando a galgar os primeiros passos como cientista em computação.

Nakamura é pesquisador e professor da Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi) e do Instituto de Computação da UFAM, trabalhando atualmente com redes de sensores para aplicações ambientais. “A ideia geral é utilizar sensores diversos – de luz, temperatura, umidade, pressão, presença, fumaça – para monitorar o ambiente e permitir a identificação de eventos importantes como, por exemplo, queimadas, inundações e alterações climáticas”, explica o Acadêmico. Atualmente, está utilizando a tecnologia de redes de sensores na Amazônia para monitorar populações de sapos em uma dada região. “Esse acompanhamento da população de sapos, em longo prazo, nos permite identificar alterações no meio ambiente em estágios ainda iniciais. Assim, temos tempo de agir e evitar danos ambientais”, ressalta.

Ele acredita que o uso da tecnologia em aplicações multidisciplinares como esta é fundamental para o avanço da ciência e para repercutir a importância desta para a sociedade. “Nossas pesquisas avançam o estado da arte em ciência da computação, engenharias, biologia e ecologia, buscando o desenvolvimento sustentável da nossa Amazônia”, ressalta Nakamura. Como efeito colateral positivo, seu grupo de pesquisa está formando recursos humanos de alta qualidade. “Hoje temos um excelente programa de pós-graduação em informática no Amazonas. Isso ajuda a reduzir as diferenças entre a Região Norte e as demais regiões do país.

Eduardo Nakamura ama o que faz. “A geração de conhecimento novo é o motor da ciência, a descoberta do novo é fantástica. Não consigo me ver em uma atividade repetitiva”. Ele diz que a ciência proporciona a oportunidade de renovação contínua, de aprender coisas novas e de formar jovens talentos, que identifica pela curiosidade e que forma batendo nas teclas da dedicação, responsabilidade e honestidade.

O cientista foi contemplado com o Grande Prêmio Capes de Tese na área de Ciências Exatas e Engenharias em 2009, ano em que também recebeu o IEEE Latin America Region Young Professional Award, da maior sociedade de engenharia internacional, e ainda foi o segundo colocado no Prêmio Prof. Samuel Benchimol, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Em 2010, foi co-orientador do vencedor do Prêmio Capes de Tese, na área de Ciência da Computação. Neste mesmo ano, foi finalista do Microsoft Research Faculty Fellowship, que anualmente reconhece os melhores pesquisadores do mundo na área de Ciência da Computação.

Nakamura diz que se sentiu honrado com a indicação para Membro Afiliado da ABC e que a considera uma forma de reconhecimento dado pelos seus pares de que está fazendo seu trabalho com seriedade. “Pretendo continuar garimpando cientistas para o país, lutando para dar oportunidades aos jovens talentos da região Norte e para ampliar o espaço ocupado pela ciência da computação no país”, conclui o Acadêmico.