Coordenador científico do Scielo Brasil, biblioteca eletrônica que reúne uma seleção de revistas científicas brasileiras, Rogerio Meneghini (na foto ao lado) é professor titular aposentado do Instituto de Química da USP e membro da Academia Brasileira de Ciências. Em 24 e 25 de maio, ele participou do 2.º Ciclo de Debates do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), da Unesp, que reuniu professores e representantes de Unesp, USP, Unicamp, MEC, Fundação Getúlio Vargas, Uerj e outras instituições, na capital paulista. (Oscar DAmbrosio)

Jornal Unesp (JU): Instituições de todo o país se encontraram no 2º Ciclo de Debates do PDI da Unesp para refletir sobre índices nacionais e internacionais que definem qualidade da produção do sistema universitário. Qual foi a sua percepção desse evento?

Rogério Meneghini: Foi um ótimo evento, tanto no que diz respeito aos colegas palestrantes quanto à plateia, que interagiu bastante com perguntas e pontos de vista interessantes.

JU: Como a avaliação é vista hoje na comunidade científica?

Meneghini: O maior interesse na avaliação científica é um fenômeno global, pois, no início, era restrito a uma parcela da comunidade. Agora, essa preocupação se espalha de forma significativa, não só em áreas de Exatas. Hoje não é possível escapar da prática dessas avaliações. Além disso, a imprensa tem olhado bastante para essa questão.

JU: E como os professores se sentem diante desse tipo de avaliação?

Meneghini: Havia uma reação negativa com respeito a isso, mas desapareceu nas décadas de 1980 e 1990. Antes disso, o docente universitário não apresentava publicamente o seu currículo a não ser nos grandes concursos, e a própria produção científica era bem escassa. Atualmente, é uma obrigação divulgar as pesquisas à comunidade.

JU: Há distorções nos mecanismos de avaliação?

Meneghini: Os rankings universitários não são exatamente uma forma de avaliação científica, mas um processo de levar aos interessados aquilo que uma universidade pode prover em termos de ensino. Existe uma diversidade de rankings, mas, se pegarmos 20 ou 30 universidades internacionais de renome, elas estão em todos. No caso brasileiro, o CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico informa que cerca de 40% dos docentes cadastrados fizeram doutorado no exterior. É um nível excelente, mas países como China e Coreia do Sul têm números bem maiores.

JU: A presença de professores brasileiros cursando doutorados e pós-doutorados no Exterior, porém, vem crescendo, não é mesmo?

Meneghini: Sim. Há uma correlação muito forte entre a colaboração internacional e os valores atingidos em citações de artigos. Infelizmente, nos últimos seis anos, houve uma queda nessas ações no Brasil. O Brasil está nesse quesito em 36º lugar, atrás de países latinos como Argentina, Chile e México. Do mesmo modo, está numa posição equivalente em citações de artigos. É um número muito baixo.

JU: E quais são os caminhos para o Brasil subir nesse índice?

Meneghini: Investimento governamental é fundamental e mostra interesse oficial pela ciência. Existem ainda iniciativas privadas, como bancos que emprestam valores a juros baixos para fazer ciência. Por tudo isso, há uma esperança na melhora nos próximos três ou quatro anos.

JU: Os professores de Humanidades ainda apresentam maior resistência em ter a sua produção avaliada?

Meneghini: Sim, mas devagar isso está mudando. A resistência é mais forte na Europa. Nos EUA, praticamente já não existe. Como os recursos para financiamentos de pesquisas não são tão necessários para a área de Humanidades em relação a outras ciências, alguns docentes de setores como Letras, História ou Ciências Sociais não sentem uma necessidade tão grande de competição por recursos.

JU: De modo geral, para onde nós estamos caminhando?

Meneghini: O número de índices vem crescendo. Há cada vez mais indexadores e empreendimentos novos, e os periódicos especializados fazem um esforço muito grande para divulgar novos trabalhos. No Brasil, isso ainda é feito sem uma visão comercial, mas nos países de Primeiro Mundo essa questão já é bem lucrativa.

O áudio completo desta entrevista está disponível sob o número 1170 em <http://aci.reitoria.unesp.br/radio/perfil_literario>.