O “Relatório Unesco sobre Ciência”, publicado de cinco em cinco anos, traz em sua versão 2010 um capítulo dedicado ao Brasil. Escrito por Carlos Henrique de Brito Cruz e Hernan Chaimovich, especialistas em política científica e tecnológica, o texto apresenta indicações preocupantes.

O diagnóstico de que o país vai bem em produção científica, mas avança pouco na capacidade de transferir conhecimento para o setor produtivo (inovação), tem uma década. A novidade está em que o esforço inovador parece ter alcançado um ponto de saturação, se não de retrocesso.

Um dos objetivos da Lei de Inovação, de 2004, era aumentar o número de pesquisadores nas empresas. Apenas 38% estão empregados no setor privado; cifra similar (45%) alcança a participação empresarial no gasto nacional com pesquisa e desenvolvimento (P&D), contra a média de 65% na União Europeia.

Após alguns anos de progresso, em que o contingente de cientistas no ramo empresarial passou de 35 mil em 2000 para 50 mil em 2005, o país viu essa vanguarda da inovação retroceder para 45 mil pessoas, em 2008.
Outros indicadores também apontam para relativa estagnação. O número de doutores formados a cada ano no país estacionou em torno de 11 mil. Em 2008, menos pessoas se formaram em universidades federais do que em 2004 -e só 16% dos jovens de 18 a 24 anos estão matriculados no nível superior.

A parcela do PIB aplicada em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), que o presidente Lula havia prometido elevar a 2%, ainda vegeta ao redor de 1%. Em valores absolutos, é o equivalente ao que gastam Espanha e Itália.

O Brasil entretanto conta com apenas 1,3 pesquisador por grupo de mil integrantes da força de trabalho, contra 5,53 na Espanha e 9,17 na Coreia do Sul.

Cerca de 60% da produção científica nacional se origina de sete universidades, quatro delas paulistas. Concentram-se no Estado de São Paulo, aliás, 45% do gasto em P&D.

As estatísticas demonstram que o sistema de inovação brasileiro ainda está muito longe de alcançar a capilaridade necessária para tornar a indústria do país mais competitiva em escala mundial. Os casos que podem ser considerados de sucesso -cultivo de soja, prospecção e exploração de petróleo, biocombustíveis e indústria aeronáutica- só reafirmam a dependência de políticas indutoras do Estado.

Note-se, além disso, que os três primeiros tópicos evidenciam o fato de a economia brasileira restringir seu melhor desempenho no comércio internacional aos mercados de commodities.

Não se trata de um destino inexorável, como provou a Coreia do Sul no passado e prova hoje a China -dois países que desempenham papel de destaque na área tecnológica.

Para avançar, é preciso que o governo e o setor de ciência e tecnologia entendam porque o diagnóstico de uma década atrás e as políticas adotadas desde então foram incapazes de engendrar a cura da atrofia inovadora no país.