Completando três meses de sua inauguração no final de outubro, o primeiro Curso de Extensão em Biociências para Surdos – uma iniciativa do Laboratório de Imunologia Tumoral do Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IbqM-UFRJ) em parceria com o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) – está a pleno vapor.

A Acadêmica Vivian Rumjanek, idealizadora e responsável pelo projeto, salientou o caráter pioneiro e agregador da iniciativa. Em seu discurso inaugural na cerimônia realizada no Centro de Ciências da Saúde da UFRJ, ela lembrou os artigos 26 e 27 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, segundo os quais todo o homem tem direito à instrução e à participação na vida social da comunidade.

O evento teve um tom informal e a mesa foi trazida para a frente, abaixo do tablado, visando proporcionar uma maior proximidade com o público e acessibilidade para os cadeirantes. Além de da Profª Vivian, compunham a mesa a pró-reitora de Extensão da UFRJ, Laura Tavares Ribeiro Soares; a diretora do IBqM, a Acadêmica Débora Foguel; o diretor do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), Marcelo Ferreira de Vasconcelos Cavalcanti, o vice-presidente da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis), Paulo André Martins de Bulhões e o diretor-científico da Faperj, o Acadêmico Jerson Lima, representando a entidade financiadora do projeto.

A acessibilidade e integração foram os termos chave em todas as apresentações. Entre os 188 milhões de brasileiros, 2,5 milhões são portadores de deficiência auditiva e 50.000 são surdos profundos. Rumjanek – que desde 2005 coordena cursos experimentais em biociências para surdos – comparou a dificuldade de comunicação de um surdo à dificuldade que um ouvinte tem de se comunicar com um estrangeiro cujo idioma não domine. Ela contou que a idéia do curso surgiu em viagem que fez à China, onde ela se sentiu perdida por não entender os símbolos gráficos.

Para facilitar a comunicação durante as aulas, o curso conta com três interpretes que traduzem a fala dos professores para a linguagem de sinais (LIBRAS). Entretanto, isso não é suficiente, pois, como ressaltou a professora, muitos desses alunos não sabem ler português e grande parte dos termos científicos não tem equivalente em LIBRAS. Por isso, este projeto utiliza-se de um método experimental que se baseia na observação: os alunos produzem seus próprios experimentos e aprendem com seus erros.


Projetada ao fundo, a frase Bem Vindos em LIBRAS

Para a Profª Vivian Rumjanek, “compreender ciências é um processo e não um produto; a informação, o conhecimento é o produto, ciência é o processo da descoberta”. Além disso, durante as aulas os próprios alunos estão criando um glossário de termos científicos em LIBRAS que está sendo divulgado por todo Brasil.

O curso teve início no dia 3 de agosto e terá duração de um ano. Espera-se que ele seja apenas uma primeira experiência e que, posteriormente, a UFRJ possa abrir cada vez mais espaço para alunos com deficiências. O projeto prevê a transformação desse curso de extensão em um curso profissionalizante de nível médio para formar técnicos capacitados, que poderão atuar nos laboratórios da universidade.