A visão estereotipada que a maioria dos europeus tem da Amazônia prejudica o apoio internacional à construção de políticas de desenvolvimento sustentável para a região. Embora parta de alguns fatos ou impressões verdadeiras, a imagem da Amazônia nos grandes meios de circulação cultural (mídia, filmes, livros etc.) da Europa tende a assumir caráter mítico.

Segundo o físico, jornalista e especialista em sociologia da ciência Yurij Castelfranchi, doutor pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), essa visão está longe da realidade e abre espaço para uma abordagem paternalista ou imperialista dos países europeus em relação à preservação da Amazônia.

Castelfranchi é italiano e apresentou sua experiência na mesa-redonda Amazônia: um olhar externo estrangeiro, na Reunião Anual da SBPC, no dia 14 de julho. Por dez anos, o jornalista viajou pela Amazônia, produzindo reportagens e livros.

Numa pesquisa de análise de conteúdo de grandes jornais europeus, Castelfranchi constatou a predominância de discursos estruturados em clichês, normalmente maniqueístas. Assim, a Amazônia é normalmente representada de forma ambivalente, em histórias com bons e maus, heróis e vilões.

“Quando na mídia se vê aparecendo elementos e histórias, muitas vezes repetidos, como clichês, em narrações que se representam em opostos, é sinal de que aquele lugar não é um lugar, mas um símbolo. Na Europa, a Amazônia é símbolo”, afirmou Castelfranchi.

Isso acaba por deixar de fora das imagens construídas sobre a Amazônia uma série de abordagens sobre a região. Segundo Castelfranchi, nada é dito na imprensa europeia sobre os 25 milhões de habitantes não índios da região amazônica e faltam notícias sobre os debates políticos brasileiros sobre a Amazônia – assim como fica de fora quase tudo que é feito aqui em prol do desenvolvimento sustentável. “Como dar conta disso? Contando as historias de vida reais, concretas, de quem vive, estuda e trabalha na Amazônia”, conclui Castelfranchi.