Uma divulgação científica profícua depende de dois atores fundamentais: cientistas e jornalistas. A dita difícil relação entre ambos tem progredido nas últimas décadas, com a melhor formação dos profissionais da comunicação e a compreensão por parte dos especialistas de que a divulgação de suas pesquisas pode render frutos para si próprios, para sua instituição e para a sociedade.

Dentro das atividades da 61a Reunião Anual da SBPC, na tarde do dia 13 de julho, a diretora do Museu da Vida (Fiocruz) e jornalista Luisa Massarani anunciou a criação de uma agência nacional de notícias de ciência e tecnologia para facilitar o acesso de jornalistas à pesquisa brasileira. O projeto tem apoio do Ministério da Saúde e da Ciência e Tecnologia. “É preciso desenvolver estratégias para tornar a ciência brasileira mais visível e levar o melhor das pesquisas para a mídia”, afirmou.

A agência, a ser lançada até o ano que vem, seguirá os moldes de agências internacionais de fôlego, como o Eurekalert e o Alpha Galileu, iniciativas norte-americana e britânica, respectivamente. A estratégia é disponibilizar informações ágeis, enfatizando os comunicados e temas mais interessantes, assim como um banco de fontes, fotos, gráficos, entrevista, além de ser um canal de discussão direto com jornalistas.

A iniciativa, há tempos requisitada por profissionais da comunicação, exigirá que os cientistas também se coloquem mais a disposição da mídia. Não é incomum que os jornalistas de ciência afirmem ser mais fácil contatar cientistas estrangeiros do que os de seu país. Depoimentos como este foram coletados por Elisa Oswaldo-Cruz, assessora de comunicação e editora do site da renomada Academia Brasileira de Ciências, que entrevistou membros da academia e jornalistas de ciência para entender quais os principais ruídos dessa relação.

Entre os cientistas, as críticas mais comuns foram as dificuldades dos jornalistas em “traduzir” conceitos científicos com precisão, obstáculo que poderia ser superado, como sugeriu um dos entrevistados da pesquisa, enviando os textos jornalísticos para a fonte antes da publicação, prática adotada por alguns e criticada por outros. Elisa acredita que os cientistas mais jovens, a exemplo dos jovens membros afiliados da ABC, estejam mais abertos e disponíveis para lidar com a mídia, e lembra que na Plataforma Lattes – conjunto nacional de currículos de pesquisadores do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – já é reconhecida a importância da divulgação científica como atividade, pois dedica um item do currículo para a comunicação do cientista com o público.

Para os jornalistas, a relação com os cientistas pode ser melhorada a partir do momento que se estabelece confiança entre as partes. Uma das formas de se alcançar isso seria evitar o sensacionalismo e cuidar para entender com maior profundidade os temas a serem divulgados. Ações que auxiliem a capacitação de profissionais da mídia e da academia para que ambos entendam o trabalho do outro tem ampliado no Brasil, o que se reflete no espaço e qualidade da comunicação da ciência para o público.

Luisa reforçou que ainda é preciso investir em diagnósticos mais eficientes para analisar a qualidade da divulgação científica hoje praticada. A cada dia, lembra, crescem as pesquisas nessa área. O banco de teses e dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) registra 227 documentos sobre jornalismo científico e outros 687 em divulgação científica, dos quais 88 foram concluídos apenas em 2008. “É preciso conectar pesquisa e prática em jornalismo científico e usar isso para melhorar a prática que tem sido feita”, defendeu.