Realizado no dia 6 de maio, o quarto e último simpósio de Jovens Cientistas da TWAS-ROLAC teve como foco as Ciências Químicas. Coordenado pelo Acadêmico e vice-presidente da ABC, Hernan Chaimovich, o encontro contou com a participação dos especialistas Pierre Mothé Esteves, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Adriano Andricopulo e Guilherme Menegon Arantes, da Universidade de São Paulo (USP); Luciana Gonzaga, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); e Nora Mariel Marder, da Universidade de Buenos Aires (UBA).

A primeira palestrante foi a argentina Nora Mariel Marder, ganhadora do Prêmio Jovem Cientista TWAS-ROLAC em 2005. O trabalho da pesquisadora, graduada pela UBA e doutorada em Química Biológica pela mesma instituição, gira em torno da identificação e utilização de compostos extraídos de plantas para o tratamento de condições comportamentais, como ansiedade, depressão, insônia e perda de memória. Nora estuda as propriedades desses compostos – como a passiflora e a camomila – e seus efeitos no sistema nervoso central, realizando modificações químicas em busca da melhor atividade farmacológica desses medicamentos. Seu objetivo com a pesquisa é popularizar o uso da Medicina Folclórica, como é conhecida a ciência da manutenção e restauração da saúde baseada nas plantas.

A cientista demonstrou grande contentamento por ser a única representante argentina presente e emendou: “Esse encontro com pesquisadores de outras áreas e países é muito importante, na medida em que abre os nossos olhos para determinados aspectos que deixamos de observar por estamos tão centrados em nossos estudos”, ressalta Nora.

Enzimas: os catalisadores mais potentes

Entender quais mecanismos uma enzima usa para acelerar as reações químicas e alterá-la, através do uso de ferramentas de simulação computacional, para que catalise – modifique a velocidade de uma determinada reação – é a que se dedica o jovem pesquisador Guilherme Arantes, químico graduado pela USP e pós-doutorado na Universidade de Warwick, no Reino Unido. O cientista explica que as enzimas são os catalisadores mais potentes e que, portanto, despertam grande interesse não só na ciência básica – área de estudo de Arantes – como, também, em campos tecnológicos.

Uma das possíveis aplicações nesta área ocorre na alteração das enzimas do detergente da máquina de lavar. “Para garantir o funcionamento em um ambiente repleto de elementos agressivos à biomolécula, as enzimas precisam ser modificadas”, explica o químico. Desse modo, essas substâncias orgânicas têm a estabilidade aumentada, o que garante a boa atuação em condições não-ideais de atividade. Porém, o pesquisador destaca que o interesse que o move não é aplicado, mas básico. “Quero entender como e porquê a natureza funciona desse jeito, é essa curiosidade que me move. Mas esse conhecimento pode ser utilizado para desenhar outras enzimas ou desenvolver novos materiais”, enfatiza.

O cientista apreciou a iniciativa da reunião. “Esse encontro entre profissionais jovens e seniores é interessante na medida em que os novos, com mais gana, impulsionam as pesquisas e fazem novas descobertas, enquanto os mais velhos podem contribuir para o desenvolvimento da ciência através de toda a experiência que possuem”, defende.

Outro ponto destacado por Arantes é a questão da mobilidade. Para ele, esse tipo de conferência estimula o trânsito de pesquisadores de diferentes regiões, o que considera fundamental para a disseminação do conhecimento. “A mobilidade é essencial para que não se concentre o desenvolvimento em uma determinada área. Através dela, se dispersa as pessoas e, com isso, a informação, possibilitando o crescimento de todos ao mesmo tempo”, pondera. Em vista de garantir que essa mobilidade acontecesse de forma linear, o cientista acredita que o Governo deveria criar um instrumento que estimulasse esse tipo de iniciativa e cita como exemplo os programas destinados a esse fim, existentes na Europa: “Lá, projetos como esse existem há mais de dez anos e se mostram muito eficazes na transferência do conhecimento”, arremata.

Novos compostos bioativos

A pesquisadora Luciana Gonzaga de Oliveira, graduada pela Unicamp e com pós-doutorado pelo Max Planck Institut für Kohlenforschung, na Alemanha, discorreu, na palestra, sobre a obtenção de novos compostos bioativos, através da exploração de dois tipos principais de enzimas: Policetídeo Sintase (PKS) e Peptídeo Sintetase Não Ribossômica (NRPS). Segundo Luciana, estes gêneros de enzimas estão entre as mais importantes fontes para a descoberta de novos metabólitos – produtos do metabolismo de uma determinada molécula ou substância – com atividades biológicas. “São eles que realizam o mais perfeito e eficiente mecanismo para a produção de uma incrível diversidade de compostos bioativos”, observa.

Luciana avaliou o evento como provedor da interação, da troca de informações, da possibilidade de colaborações e da multidisciplinariedade. Para a pesquisadora, a ciência não deve ser fragmentada. “Grande parte dos profissionais presentes trabalham em áreas de fronteira. Essa reunião promoveu uma quebra de barreiras e uma aproximação entre os diversos setores científicos”, aponta.

Discutindo o conhecimento sem tabus

Durante o seu discurso, o recebedor do Prêmio TWAS-Rolac 2009, o químico Pierre Mothé Esteves tratou de um tema que tem sido proposto para organizar o campo da Química Orgânica e gerar novos paradigmas: a reação de substituição eletrofílica aromática. O cientista, graduado em Química Orgânica pela UFRJ e com pós-doutorado em Química de Hidrocarbonetos e Petróleo, concluído no Loker Hydrocarbon Research Institute da University of Southern California, apresentou o estudo de um novo modelo de reações químicas. A análise não só permite o melhor entendimento de comportamentos estranhos durante os processos, como também fornece oportunidades para o design e o descobrimento de novas reações.

Para Pierre, a integração das distintas áreas científicas foi o mote do evento. O cientista acredita que o fato de se conhecer pessoas do setor que vão fazer a diferença na América Latina ajuda a unificar ainda mais o continente. “Às vezes, ficamos isolados em nosso próprio estudo sem a oportunidade de ver como os outros campos evoluem e convergem para um ponto comum, que é a principal questão da ciência”, conclui. Outro tema que o químico considera de suma importância é a reafirmação da separação entre ciência, religião e política, para a qual Darwin e Galileu tiveram significativa relevância. “O ponto forte da Reunião Magna é poder discutir o conhecimento sem tabus, como havia nos anos 60, ao se discutir a questão do bebê de proveta”, exemplifica.

Descobrindo novos medicamentos

Adriano Andricopulo, graduado em Química Industrial pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e com pós-doutorado em Química Medicinal pela Universidade de Michigan, focou sua palestra no desenvolvimento de novos compostos químicos, baseados na estrutura do receptor – enzima – e do ligante – fármaco, através de uma abordagem científica fundamentada na Química Medicinal moderna.

O estudo tem como finalidade a descoberta de novos medicamentos e, para tanto, se propõe a identificar a enzima e o fármaco que irão se encaixar corretamente e resultar no alívio ou na cura de uma doença. A apresentação do professor e coordenador do Laboratório de Química Medicinal e Computacional da USP-São Carlos, em São Paulo, apresentou uma perspectiva da utilidade das estratégias de design de drogas, destacando os desafios atuais, as limitações e as perspectivas futuras em Química Medicinal.

Na ocasião, Andricopulo apresentou alguns exemplos da construção de drogas produzidas por meio do processo químico, como a GAPDH de T. cruzi, da Doença de Chagas; PNP de S. mansoni, da Esquitossomose; e a TRXR de P. falciparum, da Malária. “A integração de métodos experimentais e computacionais para a produção de novos fármacos é de grande relevância para a realização dessas operações”, finaliza.