O Acadêmico Horácio Schneider, biólogo especializado em primatas e um dos criadores do Núcleo de Estudos Costeiros no campus universitário de Bragança, da Universidade Federal do Pará (UFPA), apresentou sua palestra Darwin e a Amazônia no Simpósio Como Mudou nossa Visão do Mundo – Darwin e a Origem das Espécies, durante a Reunião Magna de 2009 da ABC.

O pesquisador iniciou sua palestra contando que ao ser convidado para fazer uma apresentação com esse título ficou preocupado, pois Darwin nunca foi à Amazônia. Mas o parceiro de Darwin, Wallace, esteve na Amazônia e fez contribuições importantes à Origem das Espécies e também para a Biogeografia, pois observou que os rios amazônicos representavam barreiras geográficas para a especiação dos primatas.

Schneider falou então sobre a origem e evolução dos primatas do Novo Mundo. Referiu-se a um grupo de fósseis do Paleoceno, possíveis ancestrais dos primatas do Novo Mundo, que emergiram entre 54 e 34 milhões de anos atrás. “Se a origem dos primatas fosse a Ásia ou Europa, deveria haver fósseis de primatas na América do Norte, que até então não foram encontrados. O mais antigo encontrado lá tem 50 milhões de anos, primo dos primatas do Novo Mundo”, relatou Schneider. No Oligoceno da África, porém, há uma fauna rica em primatas, o provável grupo irmão. “Nesse caso, deve então ser considerada a dispersão pelo oceano, sendo que na ocasião – supõe-se que em torno de 65 milhões de anos – a distância talvez não fosse tão grande, assim como o nível do mar possivelmente fosse menor”, explicou o cientista.

O registro fóssil de primatas do Novo Mundo é escasso. O mais antigo fóssil de primata sul americano foi encontrado na Bolívia e tem 26 milhões de anos. “Há duas grandes lacunas desde o momento da origem dos primatas até sua chegada nas Américas, que não se sabe exatamente como foi. É possível que isso esteja associado aos paleoambientes”. Schneider considera que mudanças ambientais em larga escala, deflagradas pela elevação da cordilheira dos Andes e por incursões marinhas, tenham exercido um papel decisivo na mudança da composição da paleovegetação durante boa parte do Mioceno.

Na Amazônia ocidental também houve incursões marinhas, mas os dados geomorfológicos sobre a Amazônia são fragmentados. Schneider contou que recentemente um grupo de pesquisadores elaborou uma teoria que teve grande repercussão. Ela propõe que o Rio Amazonas, há mais de 23 milhões de anos, corria para o Oceano Pacífico. Nessa época teria se formado o arco do Purus, dividindo a bacia Amazônica em dois grandes lagos, o do Solimões e o do Amazonas, tendo o rio então passado a correr para o outro lado, em direção ao Atlântico. “A Amazônia moderna que conhecemos só existe há cinco milhões de anos, foi nesse ambiente que os primatas tiveram que se desenvolver. Até hoje foram encontradas 110 espécies de primatas na região”, informou Schneider.

Em 1993, o grupo de Schneider publicou um trabalho sobre filogenia molecular dos primatas da região; em 1996 publicou outro, esclarecendo quase todos os ramos de sua topologia. Em 2000, o grupo fez uma revisão juntando todos os dados disponíveis da literatura e muitos outros artigos foram publicados sobre o assunto. “Um trabalho recente de pesquisadores estrangeiros resolve parte da filogenia que ainda não estava esclarecida. Hoje já sabemos como os primatas evoluíram ao longo do tempo. A extinção, porém, já está ocorrendo. Se não se impedir a perda de cobertura da Amazônia, a perda de espécies será inevitável”, finalizou o Acadêmico.