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A importância da ciência e da tecnologia para a independência do país

Durante a 74ª Reunião Anual da SBPC, a Sociedade Brasileira de Bioquímica (SBBq) organizou a mesa “A importância da ciência e da tecnologia para a independência do país”, que aconteceu de forma remota no dia 27 de julho. Foram convidados o vice-presidente da ABC a para a Região de São Paulo, Glaucius Oliva (IFCS-USP); o Acadêmico e presidente da Embrapii, Jorge Almeida Guimarães, e a Acadêmica Alicia Kowaltowski (USP), também membros titulares da ABC. A moderadora foi Lena Vieira (UFMG), presidente da Sociedade Brasileira de Bioquímica (SBBq). 

Ciência jovem e poucos cientistas 

Para a comemoração dos 200 anos da Independência do Brasil, deve também ser levado em conta o saldo de iniquidades que se acumularam e que as políticas públicas foram incapazes de resolver. Entre elas, está a distorção da distribuição de renda: tal circunstância e o descuido na educação inviabilizaram o desenvolvimento econômico e social do país, de acordo com o Acadêmico Jorge Almeida Guimarães. “Isso resultou também no dramático fracasso na educação. 7% de analfabetos absolutos, 29% de analfabetos funcionais e a ‘geração nem-nem’”, aponta o pesquisador, mencionando que os números são ainda mais altos quando se analisa apenas a população negra. Enquanto isso, na Coreia do Sul, 70% da população entre 25 e 34 anos tem nível superior.  

No entanto, mesmo jovem – a Academia Brasileira de Ciências, por exemplo, existe desde 1916 – e com pouco investimento, a ciência brasileira já conseguiu produzir impactos importantes. No entanto, o caminho para atingir a excelência ainda é longo. Apesar de perder no quesito qualitativo, no ranking quantitativo de pesquisas científicas, o Brasil ocupa a 13ª posição; estabelecendo um alto contraste com os números de inovação, onde ocupa o 57º no índice global publicado em 2021.  

De acordo com o Acadêmico, isso tem a ver com o afastamento entre as universidades – onde ocorre a pesquisa científica – e as indústrias – que poderiam transformar esse conhecimento em produção tecnológica. Além disso, há também a demora de mais de quatro séculos para a implantação das atividades científicas no país. Hoje, o Brasil conta com 880 pesquisadores a cada 1 milhão de habitantes: um número irrisório para atender as demandas do país.   

Oliva afirma que, nos países que estão se tornando referência em produção científica, quem mais emprega pesquisadores em tempo integral são as indústrias: na União Europeia, por exemplo, 55% dos pesquisadores dos 27 países são empregados pela indústria; 72% nos Estados Unidos; e 82% na Coreia do Sul. Nos dados mais recentes, de 2014, a indústria brasileira empregava apenas 27% de seus pesquisadores. 

O novo normal dos cientistas 

Para Oliva, um dos principais empecilhos para o avanço da ciência no país é a falta de estabilidade nos recursos. “A pessoa pode até ter poucos recursos, mas se souber que vai poder contar com eles efetivamente, vai buscar uma maneira de se planejar. O problema que tem acontecido no Brasil são essas oscilações graves. Em setembro de 2018, por exemplo, os bolsistas de pós-graduação e de iniciação científica do CNPq não sabiam se suas bolsas dos últimos meses do ano seriam pagas.” 

No atual cenário científico brasileiro, muitas coisas preocupam o cientista: desde o bloqueio dos mais de R$2,5 bilhões do FNDCT (que supostamente serão liberados em breve) até a forte onda negacionista (que inclui fake news, terraplanismo e inúmeras teorias da conspiração), que são os novos desafios da ciência dentro da própria sociedade brasileira. Oliva aponta o caminho a seguir nesse período conturbado: “O que nós, como comunidade científica, podemos fazer, é resistir. Temos que sobreviver nesse cenário, não deixando que esse complexo sistema nacional de ciência e tecnologia, construído ao longo de décadas com o esforço de inúmeras pessoas, se acabe.”  

Oliva destacou que antes, o normal para um cientista era encarar sua missão: estar no laboratório, fazer boa ciência e orientar os alunos. “Mas o ‘novo normal’ vem exigindo nossa participação ativa em todos os espaços possíveis da sociedade”, apontou, ressaltando a necessidade de divulgar a importância da ciência no cotidiano. Ele também alertou para a necessidade de maior engajamento político – tanto através de ações constantes junto a parlamentares, como por meio do voto em candidatos comprometidos com pautas de CT&I ou educadores. 

Desafios para publicações 

Um problema internacional que afeta os cientistas atualmente diz respeito às publicações de acesso aberto. Democratizar o acesso a conteúdos científicos é um sonho para muitos pesquisadores; no entanto, segundo Alicia Kowaltowski, o que tem acontecido até agora é uma transição impensada e muito rápida para as publicações de acesso aberto. “Esse é um problema internacional, que está se tornando uma barreira para publicação”, comentou a Acadêmica. “Isso vem de uma ganância do mercado editorial associado a um problema de ego nosso, dos cientistas. Estamos querendo publicar em determinados lugares, que têm mais qualidade, o tempo todo.” 

Para a pesquisadora, a rápida expansão do open access tem a ver com os altos valores para ler e conseguir publicar artigos. As cobranças, que chegavam a ultrapassar 2 mil dólares, se tornou insustentável para muitos pesquisadores, assim como pagar assinaturas de diversos periódicos para conseguir acessar o conteúdo sem paywall. Visando driblar esses fatores, o open access cresceu sem se importar com fatores importantes, como os altos índices de pirataria . 

. “A situação que estamos vivendo hoje é inaceitável. Precisamos repensar onde vamos publicar os nossos artigos”, apontou Kowaltowski. Por um lado, pesquisadores querem boas carreiras para os estudantes, mas, por outro lado, não podem – e nem devem – aceitar o preço abusivo para enviar artigos para revistas. Uma sugestão oferecida pela pesquisadora, já proposta para a Capes, é a assinatura das revistas em troca do direito de que qualquer pesquisador brasileiro poder publicar artigos open access sem pagar. 

Assista à gravação completa da sessão. 

Carlos Morel: a ciência nas pandemias

Carlos Morel, membro titular da ABC, participa de mesa redonda durante a 74ª Reunião Anual da SBPC

Os debates virtuais da 74ª Reunião Anual da SBPC ocorreram simultaneamente com os eventos presenciais, levantando assuntos de importância nacional e com a participação de pesquisadores de excelência. Na quarta-feira, 27/7, a mesa redonda “As ciências na pandemia: da gripe espanhola à COVID-19”, moderada pelo presidente da Abrasco Reinaldo Guimarães (UFRJ), contou com participação do Acadêmico Carlos Morel (Fiocruz) e das pesquisadoras Anny Jackeline Torres Silveira (Ufop) e Tatiana Martins Roque (UFRJ). A mesa foi transmitida em parceria com a Abrasco TV. Durante o debate, os participantes procuraram traçar uma linha do tempo entre as duas principais pandemias que ocorreram no planeta. 

Há quase 100 anos entre nós, o H1N1 é um vírus que cria epidemias sazonais, atuando conforme as suas mutações. Em 1918, ele foi responsável por causar a gripe espanhola, o principal evento pandêmico causado por vírus até o surgimento da covid-19. Após 38 anos sofrendo mutações, a nova variante do vírus, chamada de H2N2, foi responsável pela intitulada gripe asiática, que infectou milhões de pessoas ao redor do mundo. Em 1977, um novo incidente: o retorno da circulação do H1N1, idêntico ao identificado pela última vez em 1951, voltou a circular, causando a pandemia da gripe russa.  O H3N2 – causador da gripe de Hong Kong, em 1968 – e duas linhagens suínas de H1N1 – uma delas derivada diretamente do vírus da gripe espanhola – deram origem ao novo H1N1, causador da gripe suína de 2009 e 2010.*

Dez anos depois da última crise sanitária causada por um vírus, um novo vírus, o Sars-Cov-2, colocou sete bilhões de pessoas em isolamento por mais de 18 meses. Agora, passados mais de dois anos, é possível afirmar que o mundo voltou ao normal? 

Efeitos da pandemia 

“Se alguém acha que agora vai ter um break e vamos ficar sem pandemias, está enganado. A tendência é que ocorra justamente o contrário. Tudo mostra que, com a frequência de aparecimento de epidemias, o número de pandemias só tende a aumentar”,  alertou Carlos Morel, membro titular da ABC. Segundo ele, a maior integração entre os países, fortalecida pela expansão do transporte aéreo, facilitou a disseminação internacional dos vírus de modo geral. 

De fato, o Brasil lida com muitas epidemias no país: por conta da covid-19, os altos números de casos anuais de doenças como dengue, zika e chikungunya foram mascarados ao longo dos últimos dois anos. Apenas nos primeiros seis meses de 2022, o Brasil já contava com 1,1 milhão de casos de dengue. Na região Norte, a malária é considerada uma doença endêmica, devido a frequência e a estabilidade no número de casos. Para além dos vírus mais comentados, há aqueles com um pequeno número de casos, mas com potencial para tomar grandes proporções no futuro.

Um enigma para a medicina até os dias de hoje, Morel cita o caso do vírus Sabiá (SABV), causador de uma febre hemorrágica brasileira que fez quatro vítimas (duas delas, letais) em 1990 e ressurgiu quase 20 anos depois. O SABV é um arenavírus, que infecta roedores silvestres e, eventualmente, seres humanos. A doença, rara, fez uma nova vítima em janeiro de 2020. Após descartadas as hipóteses de doenças similares – como chikungunya, dengue e febre amarela –, foi concluído que se tratava de um novo caso do vírus. Intrigados pelo ressurgimento do vírus, um grupo de pesquisadores da USP analisou dados de outras vítimas com sintomas similares ao longo dos últimos anos e concluiu que a causa mortis de duas estavam erradas; na verdade, ambos foram infectados pelo SABV. “A curiosidade desse grupo de pesquisa nos mostrou que, esse tempo todo, o vírus não estava escondido, só não era detectado”, observou Morel. “Isso mostra, para mim, o poder que temos atualmente de ir muito mais fundo na questão das pandemias, de explicar sua origem.” 

Morel categoriza a covid-19 como um “break point”, que dividiu o mundo em antes e depois. Segundo ele, as desigualdades não estavam limitadas ao acesso à tratamento, vacinas e informação, mas também nos laboratórios: a escassez e a má distribuição geográfica de instalações de biossegurança 3 (BSL3) interferiu nas formas de estudar o vírus e também nas formas de tratar pacientes sem contaminar a equipe médica. O impacto sanitário e biológico também foram outros fatores marcantes desta pandemia. 

Durante o período, as relações internacionais também foram abaladas, devido ao discurso de ódio aos países asiáticos, incentivado por representantes de grandes potências internacionais. “Desde que o então presidente Donald Trump chamou o coronavírus de ‘vírus chinês’, se tornou moda fazer alegações anti-China. Ele abriu portas para expor toda a xenofobia que os Estados Unidos e também o Brasil já tinham contra o país asiático”, apontou. Segundo o Acadêmico, uma “caixa de Pandora” foi aberta: a tensão sinoestadunidense é um grande perigo em muitos aspectos, e deve seguir gerando atritos econômicos até 2030. 

 

*Dados extraídos do ICB/USP

 


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Mauricio Lima Barreto: Desigualdade, Saúde e Programas Sociais

Não é nenhuma novidade que a miséria tem consequências cruéis na saúde humana. A expectativa de vida em países ricos é maior que 80 anos, mas não passa dos 60 nos mais pobres. A pandemia contribuiu para agravar essa situação. Enquanto o resto do mundo vai voltando ao normal com o avanço da vacinação, o continente africano continua majoritariamente não vacinado, com apenas 11% da população imunizada.

No Brasil, a imensa desigualdade econômica também se reflete na imunização. O estado mais rico do país, São Paulo, está com 87% da população vacinada, enquanto o mais pobre, Roraima, tem apenas 51%. Para debater os efeitos da miséria na saúde, foi realizada uma conferência virtual durante a 74ª Reunião Anual da SBPC, que teve a participação do membro titular da ABC Maurício Lima Barreto e do vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Rômulo Paes de Souza.

Rômulo Paes apresenta as taxas globais de vacinação.

Desigualdade, saúde e programas sociais

O economista francês Thomas Piketty alerta em seu best-seller “O Capital no Século XXI” para uma tendência inequívoca de concentração de renda que vem ocorrendo em praticamente todos os países desenvolvidos e em desenvolvimento. Para Mauricio Barreto, essa situação deve fazer soar um alerta, sobretudo numa sociedade tão desigual quanto a brasileira, que o acesso dos mais pobres à saúde de qualidade pode piorar.

O Acadêmico Mauricio Lima Barreto.

O Acadêmico é coordenador do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para a Saúde (Cidacs), inciativa da Fiocruz Bahia para melhorar o monitoramento da saúde brasileira. Ele defendeu que programas de transferência de renda condicionada são uma eficaz forma de proteger as pessoas mais vulneráveis dos piores efeitos da desigualdade. “Temos dezenas de estudos que mostram efeitos benéficos do Bolsa Família em taxas de mortalidade infantil, tuberculose, malária, hanseníase, mortalidade materna, e até mesmo homicídios e suicídios”, argumentou.

Programas como esse já estão sendo abraçados por países em desenvolvimento – na América Latina, África e Sudeste Asiático – e vêm mostrando resultados promissores não apenas na saúde, mas também na educação e na capacidade produtiva das populações. “São iniciativas viáveis e que levam o benefício diretamente aos grupos mais vulneráveis da sociedade”, resumiu Barreto.

Em municípios com maior cobertura do programa, o número de óbitos de crianças com até 5 anos alcançou reduções de 25%. “A mortalidade infantil é um dos indicadores mais importantes de desenvolvimento humano, pois crianças são muito mais vulneráveis às condições precárias”, disse Rômulo Paes.

Ainda assim, o epidemiologista lembrou que a transferência direta de renda não é o único tipo de programa social com impacto direto na saúde humana. “Precisamos intervir nos determinantes sociais, como a educação, a proteção social e a habitação. É melhorar as condições de vida e superar os mecanismos de exclusão relacionados ao acesso à saúde”, defendeu Paes.

Por fim, os palestrantes destacaram que o fator econômico não é o único aspecto da desigualdade, que também é perpetuada pelas diferentes formas de discriminação que permanecem na cultura nacional. “Precisamos de políticas que lidem com populações indígenas de uma forma diferenciada, por exemplo”, disse Paes, “mesmo nos grandes centros urbanos, o Brasil tem populações muito diversas, então as políticas precisam de componentes mais específicos. O desafio é que a implementação dessas especificidades é sempre muito complexa”, finalizou.

Álvaro Prata: o papel das compras públicas no fomento a inovação

O Brasil é o 57º país do mundo em inovação e o 71º em competitividade, de acordo com dados do Fórum Econômico Mundial (FMI) e da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI). Essas posições refletem a perda de protagonismo econômico que o país sofreu nas últimas décadas e a queda de investimentos que vem fragilizando a ciência brasileira.

O Estado tem papel fundamental no fomento à inovação no mundo inteiro, seja pelo investimento direto ou pelas compras públicas de tecnologia nacional. Para discutir essa segunda forma, foi realizado um painel virtual durante a 74ª reunião Anual da SBPC. O debate teve a participação do membro titular da ABC Alvaro Prata; do pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), André Tortato Rauen; e do Secretário de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia, Bruno Portela. A mediação ficou por conta da ex-presidente do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) Lúcia Pinto de Melo.

Brasil na contramão do mundo

A última década viu uma transformação significativa no topo da economia mundial. Se em 2011 apenas quatro empresas de tecnologia figuravam entre as dez mais valiosas do planeta, hoje em dia são nove. Gigantes como Apple, Microsoft, Alphabet e Amazon já movimentam, anualmente, valores maiores que o PIB brasileiro, e nada indica que essa tendência se reverta no curto prazo.

O Brasil ficou para trás no século XXI, saindo do rol das dez maiores economias do mundo. Quando olhamos as empresas nacionais mais valiosas, os ramos permanecem os mesmos de dez anos atrás – e nenhuma é da área de tecnologia. Os números do país em ciência explicam parte desse resultado: o investimento em ciência corresponde a apenas cerca de 1% do PIB e o Brasil possui somente 900 pesquisadores por milhão de habitantes. Enquanto isso, países desenvolvidos apresentam números de três a quatro vezes maiores. “São números inaceitáveis para nosso potencial como nação”, resumiu Prata.

Alvaro Prata apresenta a queda no investimento em CTI no Brasil.

Diferentes formas de estimular a inovação

Prata argumentou que, para além de investimentos diretos – como o pagamento de bolsas para alunos e projetos –, que tradicionalmente fomentam a ciência pelo lado da oferta, o Brasil precisa focar também nas várias formas de estímulo pelo lado da demanda. Atualmente, compras públicas consomem em torno de 10% do PIB nacional, e mesmo que apenas uma fração desse valor seja destinada às inovações tecnológicas, já representa uma quantia adicional significativa.

André Rauen lembrou que o estímulo pela demanda pode ser feito também com regulação. “Quando o Inmetro estabelece padrões cada vez mais altos de eficiência energética ele está estimulando o progresso tecnológico nessa área”, exemplificou. O economista defendeu a realização de concursos de inovação, que são pouco explorados no país. “Esses prêmios devem ser voltados a resolução de problemas específicos e tem como diferencial permitirem a participação de todos, o que possibilita considerar soluções muitas vezes de fora do paradigma acadêmico”, argumentou.

Já Bruno Portela defendeu os Contratos Públicos para Solução Inovadoras (CPSI), que entraram na legislação em 2021. O modelo permite ao poder público comprar inovações ainda em desenvolvimento para testar durante até dois anos. Se essas inovações se provarem eficazes, o mecanismo dá a opção da compra em larga escala. “É uma forma de desburocratizar e dinamizar o processo de compras públicas”, afirmou.

A Petrobras é um exemplo de sucesso. Atualmente, a empresa direciona cerca de 5% de seu orçamento para compras públicas em tecnologia e inovação e tem mais de 20 processos de CPSI em andamento. “Não à toa a empresa se manteve como um dos motores da inovação brasileira”, refletiu Rauen.

Capacitação burocrática e desafios estruturais

Os participantes foram unânimes em defender a capacitação dos servidores públicos para atuarem no processo de inovação e em parcerias público-privadas. “É essencial termos profissionais com conhecimento técnico e científico, mas também com compreensão do processo de gestão e orçamento. Esse foco duplo ainda é incomum no país”, disse Rauen.

Prata fez questão de ressaltar que nada substitui o fomento à ciência básica. O Acadêmico argumentou também que o Brasil possui algumas prioridades muito claras, como a questão ambiental, segurança pública, mobilidade urbana, educação e saúde, que podem servir de guia para a parcela de investimentos mais direcionados.

O investimento público sempre foi crucial no fomento das soluções tecnológicas, seja na China ou nos Estados Unidos. Entender como tornar esse processo cada vez mais especializado e manter um ambiente de negócios dinâmico é crucial para o desenvolvimento de CTI de qualquer nação. “Se Estado e empresas não se comunicam, não existe inovação. Essa relação é indispensável”, finalizou Prata.


Assista a sessão na íntegra abaixo!

Painel na Reunião da SBPC discute a situação atual da Amazônia

O Acadêmico Paulo Artaxo, que coordenou a mesa

O ano de 2022 é marcante para a questão do meio-ambiente. Há 50 anos foi realizada a célebre Conferência de Estocolmo, abordando pela primeira vez a degradação ambiental de forma global. Vinte anos depois foi a vez da Rio 92, que relacionou o desenvolvimento à sustentabilidade e culminou em importantes convenções sobre clima e biodiversidade. Tanto a Rio 92 quanto a Rio+20, realizada em 2012, são exemplos do papel central que o Brasil já ocupou nas discussões ambientais e que foi perdido nos últimos anos.

Para debater a situação atual do país, sobretudo com relação à Amazônia, foi realizado um painel virtual durante a 74ª Reunião Anual da SBPC. Participaram os membros titulares da ABC Paulo Artaxo, Carlos Nobre e Carlos Joly. Na mesa também estavam presentes a ex-ministra do meio ambiente, Izabella Teixeira, e o ex-secretário executivo da Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU, Bráulio Dias.

Amazônia se aproxima do não-retorno

A situação atual da Amazônia é crítica. O Brasil está entre os cinco maiores emissores de carbono do mundo e quase metade dessas emissões vem do desmatamento, que já atinge 20% da floresta. Mas esse não é o único problema: áreas degradadas, nas quais a destruição é apenas parcial, também sofreram expansão, o que contribui para a perda da capacidade do bioma de armazenar carbono. “A preocupação hoje não vem mais da observação de modelos climáticos, mas da observação da própria Amazônia”, resumiu Nobre.

O Acadêmico Carlos Alfredo Joly

As consequências desse cenário já estão sendo sentidas e afetam diretamente a economia brasileira. As secas no Centro-Sul estão cada vez mais frequentes, assim como os eventos climáticos extremos. “Não existe contradição entre a agricultura e o meio ambiente. É impossível produzir alimento sem um ambiente saudável ao redor”, afirmou Teixeira. Os participantes advogaram por uma moratória urgente sobre desmatamento, para que o Brasil consiga cumprir a meta assumida na COP 26 de zerar a destruição da vegetação até 2030.

Mas o problema não passa tanto pela criação de leis quanto pela sua implementação. O Brasil possui um marco legal sofisticado e uma Constituição que protege o meio ambiente, mas falta fiscalização. Hoje, 94% do desmatamento amazônico provêm de atividades ilegais. “Acima de tudo, é urgente rever toda uma série de medidas infralegais que foram estabelecidas nos últimos quatro anos”, disse Joly. “Por exemplo, precisamos voltar com os Conselhos Participativos e acabar com o bloqueio à atuação do Ibama e do ICMBio”.

O Acadêmico Carlos Nobre

Combater o desmatamento, promover a restauração

Mas se é preciso estancar a destruição, também é preciso focar na restauração das áreas destruídas. Para enfrentar o arco do desmatamento que se estende nas fronteiras da floresta, o Painel Científico para a Amazônia (SPA, da sigla em inglês) defende a criação de um arco de reflorestamento que pode salvar a Amazônia de um ponto de não-retorno. “Um megaprojeto para recuperar um milhão de quilômetros quadrados custaria entre 30 e 40 bilhões de dólares” afirmou Nobre. “Não é nada trivial; mas se recuperarmos nossa credibilidade internacional, é possível”.

Entretanto, reflorestar é um processo extremamente complexo, que precisa respeitar a biodiversidade local. Para isso, é necessário investir em ciência e tecnologia para a região, construindo novas universidades e centros tecnológicos. “Atualmente, o Brasil investe apenas 5% do orçamento de ciência, tecnologia e inovação na Amazônia, é muito pouco”, afirmou Dias.

Além de zerar o desmatamento e reflorestar, o SPA pede também a criação de uma nova bioeconomia para a região, que faça uso da imensa biodiversidade e da floresta em pé para criar novas ocupações e trazer desenvolvimento humano às populações locais.  “Precisamos avançar a compreensão de desenvolvimento para além do crescimento, é preciso adicionar a sustentabilidade à equação”, sumarizou Teixeira.

Impactos da pandemia na saúde mental de pós-graduandos

Os participantes da mesa Jaqueline Godoy Mesquita, Paolo Piccione, Walcy Santos, Carlos Alexandre Netto, Alessandro Freire e Miriam Pereira.

Para além dos corredores da Universidade de Brasília, a 74ª Reunião Anual da SBPC contou também com uma série de paineis virtuais, que expandiram ainda mais os debates. Na terça-feira, dia 26/7, a mesa “Os impactos da pandemia na saúde mental nos programas de pós-graduação”, moderada pelo membro titular da ABC e presidente da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), Paolo Piccione, contou com participação dos Acadêmicos Carlos Alexandre Netto (UFRGS) e Jaqueline Godoy Mesquita (UnB), além dos pesquisadores Alessandro de Oliveira Gouveia Freire (IDP), Miriam da Silva Pereira (UFPB) e Walcy Santos (UFRJ). A mesa foi organizada pela Sociedade Brasileira de Matemática (SBM).

A relação entre academia e aluno 

O período da pós-graduação é naturalmente difícil para os alunos. É uma jornada extremamente desafiadora, que marca uma transição pessoal do estudante para se tornar um profissional. Além disso, é um momento de muitas incertezas quanto ao fazer científico – e conviver com a incerteza não é nada fácil.  

Durante a pandemia, com o distanciamento social e com muitos pesquisadores afastados de seus laboratórios, o sentimento de solidão acabou tornando-se universal: “Para algumas pessoas, o isolamento se transformou em abandono. E sentir-se sozinho numa situação de ameaça é das piores coisas que pode acontecer”, destacou Carlos Alexandre Netto. “Além disso, todos nós sofremos muitas perdas, algumas pessoas muito mais do que outras. Não apenas perdas afetivas, mas também perdas financeiras.” 

Para o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a pressão pelo sucesso é um dos principais fatores que afeta a saúde mental dos estudantes da pós-graduação, constantemente empenhados em produzir um bom projeto que resulte em trabalhos publicados. “Às vezes, há uma grande competição numa determinada área de pesquisa, ou até mesmo dentro do próprio grupo de pesquisa. Com isso, o estudante acaba se isolando, o que obviamente não faz bem”, comentou o professor. A dificuldade financeira é outro dos principais desafios enfrentados pelos pós-graduandos. “Com os valores das bolsas congelados objetivamente desde 2013, é cada vez mais difícil que os alunos consigam se sustentar e sustentar suas próprias pesquisas”, observou Carlos Alexandre Netto. 

Apesar das dificuldades enfrentadas por alunos de todos os cursos, no campo da matemática a situação parece ter sido ainda mais complicada, de acordo com a membra afiliada da ABC Jaqueline Godoy Mesquita. A professora da UnB contou que, ao longo do isolamento, os índices de evasão no curso foram bem altos: a falta de contato com os colegas em sala de aula, algo que fazia a diferença na hora de solucionar problemas, foi um agravante. 

Segundo Mesquita, que atua também numa linha de pesquisa sobre gênero e parentalidade na academia, a pandemia escancarou ainda mais essa questão das desigualdades. Para o futuro, é importante pensar em ações focadas nos pós-graduandos, além de levar em contas as questões raciais, os deficientes visuais e auditivos – um desafio importante no campo da matemática.  

“Hoje sentimos bastante os efeitos da pandemia. Esses efeitos vão durar bastante tempo, então é importante que pensemos não apenas em ações para melhorar essa formação no dia de hoje, mas sim no longo prazo, quando teremos grandes desafios”, defendeu Mesquita, citando a importância da promoção de eventos e congressos. Para ela, esse é um fator chave para promover a interação entre os alunos de graduação e pós-graduação. 

De acordo com Netto, mesmo com os dois anos de pandemia o Brasil produziu poucas pesquisas sobre a saúde mental nas instituições de ensino superior, assim como também promoveu iniciativas insuficientes para acolher os alunos. Uma survey realizada com 2.200 alunos de mestrado e doutorado da Universidade do Texas durante a pandemia apontou que as alternativas assinaladas por 41% dos entrevistados foram compatíveis com ansiedade, enquanto 39% eram associadas a depressão. Netto destacou a urgência de estudos como este no Brasil. “Essa tendência preocupante deveria ser analisada também no Brasil pós-pandêmico, especialmente levando em conta a grande onda de negacionismo e fake news que esgotou mentalmente nossos cientistas.” 

Visando alterar este estigma, Paolo Piccone, presidente da SBM, propôs uma pesquisa institucional para analisar o que está acontecendo com os alunos da pós-graduação e como eles foram afetados pelo período de pandemia. A pesquisa está em andamento, mas alguns dos principais temas abordados – como o que fazer para tornar a pós-graduação um período mais agradável para os alunos – foi debatido durante a mesa redonda. 

Retomada ao presencial e perspectivas para o futuro 

Com o retorno gradual das atividades presenciais, Netto listou uma série de fatores que podem ajudar os alunos a reestabelecerem sua saúde mental enquanto conciliam o período pós-pandêmico e os estudos. Primeiramente, manter a vida social e afetiva, além de manter hábitos saudáveis, como a prática regular de atividades físicas e de redução do estresse, como meditação. “Tem uma frase traduzida do inglês que diz “é ok não estar ok’. E é isso mesmo, sabe? Ninguém precisa estar sempre bem a vida toda. Há momentos de crise, momentos de dificuldade. E se eu me sinto mal com isso, preciso procurar ajuda”, disse o professor, destacando o papel essencial dos orientadores no apoio à saúde mental dos estudantes. “O orientador precisa ouvir; mas não apenas isso. Precisa também observar e perceber o comportamento do seu orientando. É tentar entender, ou pelo menos vislumbrar, o que está passando na cabeça e no coração do seu aluno”, completou. 

Para Jaqueline Mesquita, é importante que as ações não estejam limitadas a um grupo de pesquisa. É necessária a promoção de ações locais, adequadas às demandas de cada grupo, assim como a integração com outras universidades e programas de pós-graduação.

No fim das contas, Netto afirmou que o importante é que os alunos de pós-graduação saibam que não estão sozinhos: “Seus sentimentos não devem levá-los a desenvolver pensamentos que o imobilizem, que atrapalhem suas vidas, tanto na pesquisa como nas relações pessoais.  Os estudantes precisam saber que podem buscar apoio, buscar ajuda. Precisam se sentir acolhidos, abrigados, também pelas instituições.” 


Assista à gravação completa da sessão.

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Painel na reunião da SBPC discutiu avaliação das pós-graduações brasileiras

Em 2021, o órgão responsável por 73% das bolsas de mestrado e doutorado brasileiras, a Capes, passou por um período de forte turbulência. A avaliação dos Programas de Pós-Graduação (PPGs) para o quadriênio 2017-2020 sofreu com atrasos e judicializações e a elaboração de um novo Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG) se viu ameaçada. As incertezas geraram desconfiança entre a comunidade científica, e mais de cem pesquisadores que atuavam no processo de avaliação renunciaram coletivamente.

Felizmente, em 2022 as coisas voltaram a caminhar. A avaliação ocorreu e já se encontra em fase de relatoria, com os resultados finais previstos para serem divulgados ainda esse ano. Também foi formado um grupo para a elaboração do PNPG, que conta com a presidente da ABC, Helena Bonciani Nader. Para debater os erros e acertos que ocorreram nesse longo processo, bem como o futuro da pós-graduação brasileira, foi organizado o painel virtual Avaliação da Pós-Graduação, durante a 74ª Reunião Anual da SBPC.

A discussão contou com a presença da presidente da Capes, Cláudia Toledo, e o diretor de avaliação, Sérgio Avellar. Os Acadêmicos Carlos Menck, coordenador da área de Ciências Biológicas 1, e Anderson Gomes, ex-coordenador da área de Física e Astronomia, participaram do debate, assim como o coordenador da área de Antropologia e Arqueologia, Antonio Carlos Lima, e o presidente-eleito da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), Vinicius Soares. A mediação ficou a cargo da vice-presidente da SBPC, Fernanda Sobral.

Importância da avaliação

O processo de avaliação dos programas de pós-graduação da Capes foi iniciado na década de 70, com a instauração da escala 1 a 7 de qualidade em 1988. Desde então, o número e a classificação dos cursos, bem como a quantidade de titulações, apresentaram crescimento ininterrupto, sobretudo nos últimos 20 anos. De 2007 a 2017, o número de PPGs com avaliação 6 e 7 passou de 234 para 482, e o Brasil atingiu as metas do PNPG de formar 60 mil mestres e 25 mil doutores por ano. “O crescimento teve taxas ainda mais elevadas fora do Sudeste, expandindo a ciência pelo território nacional”, mostrou Menck.

O Acadêmico Carlos Menck apresentando o crescimento da PG brasileira entre 2010 e 2018

Entretanto, nos últimos anos essa tendência vem sendo ameaçada. O financiamento das agências de fomento, como a Capes e o CNPq, caiu de forma abrupta no fim da última década. O número de bolsas oferecidas para mestrado e doutorado estagnou, assim como os valores pagos, que depreciaram em mais de 60% com a inflação acumulada. “Os valores atuais de bolsa são ridículos, aviltantes e desprestigiam a formação de cientistas no país”, reconheceu a Cláudia Toledo, presidente da Capes.

Nesse cenário, o atraso na avaliação foi mais um duro golpe que deixou a pesquisa nacional no escuro. Os participantes foram unânimes em elogiar a atuação do, agora efetivado, diretor de avaliação da Capes, Sérgio Avellar. “A instabilidade institucional e a falta de um diretor específico para o processo foi algo que atrapalhou muito”, afirmou Menck, “assim como a insegurança jurídica, a redução orçamentária e a absurda pressão pelas Propostas de Cursos Novos (PCN), incluindo EADs recém-criados”.

O Acadêmico exaltou a resistência dos coordenadores de avaliação, que organizaram manifestos e renúncias coletivas. Para ele, essa luta foi crucial para a retomada dos trabalhos, e para “manter a qualidade e garantir o futuro da pós-graduação brasileira”.

Mudanças na avaliação

A avaliação dos PPGs para o quadriênio 2017-2020 teve mudanças significativas com relação a do quadriênio anterior. Para o coordenador de área Antonio Carlos Lima, trata-se agora de uma avaliação muito mais qualitativa, que incluía mais parâmetros para além do número de artigos. “Nas humanidades por exemplo, foi extremamente importante a inclusão de livros, produtos culturais e artísticos e produtos tecnológicos”, afirmou.

Como exemplo de impacto social, Lima defendeu a capacidade que novos cursos de pós-graduação têm de movimentar a economia do interior. “Foi muito satisfatório ver que programas que estão começando, com notas mais baixas e menos investimento, muitas vezes apresentam uma taxa de empregabilidade regional altíssima”.

Na mesma linha, o vice-presidentee da ABC para a região Nordeste e Espírito Santo, Anderson Gomes, defendeu que as mudanças na avaliação continuem no sentido de compreender o impacto para além da produção científica. “O sistema não pode desencorajar projetos ambiciosos e que falam com a sociedade apenas porque geram menos publicações”, criticou.

Por fim, Menck também defendeu as mudanças, mas alertou que o processo precisa ser aperfeiçoado e simplificado para o futuro. “Além dos vários entraves que ocorreram nessa avaliação, o processo foi ainda mais complexo e trabalhoso. Alguns coordenadores de curso precisaram tirar três meses de dedicação exclusiva. Isso precisa ser repensado”, finalizou.

Fernando Galembeck e Jorge Guimarães: os caminhos da inovação no Brasil

Fernando Galembeck (Unicamp), Gesil Amarante (Fortec), Jorge Almeida Guimarães (Embrapii),
Francilene Procópio Garcia (UFCG) e Valdir Oliveira (Sebrae/DF)

Um dos temas mais debatidos ao longo dos cinco dias da 74ª Reunião Anual da SBPC foi inovação – e como torná-la acessível no Brasil. No primeiro dia de evento, 25/7, a mesa redonda “Os caminhos para inovação no Brasil” contou com a participação dos membros titulares da ABC Fernando Galembeck (Unicamp) e Jorge Almeida Guimarães (presidente da Embrapii), além de Valdir Oliveira (Sebrae), Claudia Leitão (UECE) e Gesil Amarante (Fortec). A moderação ficou por conta de Francilene Procópio Garcia (UFCG).

Inovação para quem mais precisa

Ao longo de sua carreira, o químico Fernando Galembeck atuou de forma incessante para produzir tecnologia e inovação dentro dos laboratórios em que trabalhou. Entre falhas e acertos, o Acadêmico obteve muitos resultados positivos, capazes de gerar empregos e resolver problemas importantes da população.

Para Galembeck, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) atuam como uma direcionamento para o trabalho de inovação atual, já que eles prezam por um mundo mais justo, com mais igualdade social, mais respeito entre as pessoas e disponibilidade dos bens materiais necessários para uma vida digna.“Uma diretriz muito importante é a do fazer mais e para mais com menos, ou seja, temos que conseguir produzir mais, onerando menos o planeta e atendendo a necessidades de mais pessoas”, comentou.

Entre as mais bem sucedidas realizações do Acadêmico está a criação de materiais polifuncionais feitos de grafite mineral e de material reciclado para revestir madeira, papel cartão e tijolo, que possuem propriedades de condução elétrica e térmica. A motivação para o desenvolvimento do material foi o incêndio no Museu Nacional da UFRJ, em setembro de 2018. “O museu queimou porque, entre outras coisas, não havia proteção da madeira”, explica o Acadêmico. “Esses  materiais podem ser retardantes de chamas. Isso deve ser acessível para muita gente e pode resolver problemas de proteção de patrimônio cultural no Brasil.”

Também nos laboratórios de Galembeck foi desenvolvido o conceito de higroeletricidade, em 2010, que consiste na produção de energia elétrica a partir da umidade atmosférica. A ideia, que rendeu comentários jocosos quando concebida, hoje conta com mais de 60 publicações e muitos autores explorando esse caminho. “Um dos meus focos nesse trabalho é permitir que a pessoa que está no meio da mata, da floresta, onde não tem recurso nenhum, possa produzir sua própria energia sem depender do óleo diesel”, explica o cientista.

Seu principal objetivo de comunicação é mostrar que a inovação não está apenas nos produtos altamente tecnológicos e caros, mas também nos produtos de baixo custo a que a população pode ter acesso com mais facilidade. “Procuramos pensar no mínimo de condições materiais necessárias para promover uma vida digna, mesmo para quem está muito distante e muito isolado”, relatou. 

O papel da Embrapii e os principais desafios

“Acho que o uso diário da palavra ‘inovação’ no Brasil só perde para a palavra ‘covid-19’. Todo mundo fala de inovação. E realmente, não tem para onde fugir: hoje em dia, tudo depende de inovação”, declarou Jorge Almeida Guimarães, presidente da Embrapii. Apesar desse fato, não é dada à inovação a devida importância no país. “Se a inovação propriamente dita fosse uma prioridade no Brasil, a captação de recursos seria diferente da que vemos hoje. Seja na Embrapii, na Finep ou na ciência básica, o investimento não é suficiente”.

Guimarães listou os desafios enfrentados para a produção de inovação no país, que incluem a enorme distorção na distribuição de renda e a dificuldade que o Brasil encontra em gerar inovação criativa. “O resultado disso é um dramático fracasso na educação, que inviabiliza o desenvolvimento econômico e social do país”, apontou o bioquímico, ao expor dados dramáticos da educação brasileira. Segundo dados apresentados por ele, 7% das pessoas com 15 anos ou mais são analfabetos absolutos e 29% são analfabetos funcionais. O crescimento ínfimo do PIB nos últimos anos – que só não foi negativo por conta das atividades de agricultura e extrativismo – e a falta de acesso ao saneamento básico são alguns dos reflexos da falta de investimento governamental no setor educacional.

Para que o Brasil se torne uma potência quando o assunto é inovação, é indispensável que haja agilidade e flexibilidade –  ambas citadas como principais especialidades da Embrapii. Ao longo de seus oito anos de existência, a instituição promoveu grandes avanços nos estabelecimento de parcerias com pequenas empresas, startups e entidades como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). 


Assista à gravação completa da sessão.

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