Mychael Lourenço recebe a premiação (Foto:Twitter).
O membro afiliado da ABC Mychael Vinícius Lourenço recebeu o Blas Frangione Early Career Achievment Award durante a Conferência Internacional da Alzheimer’s Association 2022. O evento foi realizado em San Diego, EUA, e reuniu pesquisadores e reuniu médicos e pesquisadores em Alzheimer e outras doenças neurodegenerativas.
A premiação reconhece jovens cientistas cuja pesquisa tem potencial de transformar a compreensão e o tratamento dessas doenças. Mychael é professor adjunto do Instituto de Bioquímica Média da UFRJ (IBqM/UFRJ) e especialista em neurociência molecular. Suas pesquisas buscam identificar nas células cerebrais possíveis alvos terapêuticos e biomarcadores que contribuam para o tratamento e controle da neurodegeneração.
Por rede social, Mychael Lourenço disse estar honrado com a prestigiosa premiação, e agradeceu a seu grupo de pesquisa, mentores e demais colaboradores. A Academia Brasileira de Ciências parabeniza o Acadêmico pelo trabalho realizado.
O Brasil é o 57º país do mundo em inovação e o 71º em competitividade, de acordo com dados do Fórum Econômico Mundial (FMI) e da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI). Essas posições refletem a perda de protagonismo econômico que o país sofreu nas últimas décadas e a queda de investimentos que vem fragilizando a ciência brasileira.
O Estado tem papel fundamental no fomento à inovação no mundo inteiro, seja pelo investimento direto ou pelas compras públicas de tecnologia nacional. Para discutir essa segunda forma, foi realizado um painel virtual durante a 74ª reunião Anual da SBPC. O debate teve a participação do membro titular da ABC Alvaro Prata; do pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), André Tortato Rauen; e do Secretário de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia, Bruno Portela. A mediação ficou por conta da ex-presidente do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) Lúcia Pinto de Melo.
Brasil na contramão do mundo
A última década viu uma transformação significativa no topo da economia mundial. Se em 2011 apenas quatro empresas de tecnologia figuravam entre as dez mais valiosas do planeta, hoje em dia são nove. Gigantes como Apple, Microsoft, Alphabet e Amazon já movimentam, anualmente, valores maiores que o PIB brasileiro, e nada indica que essa tendência se reverta no curto prazo.
O Brasil ficou para trás no século XXI, saindo do rol das dez maiores economias do mundo. Quando olhamos as empresas nacionais mais valiosas, os ramos permanecem os mesmos de dez anos atrás – e nenhuma é da área de tecnologia. Os números do país em ciência explicam parte desse resultado: o investimento em ciência corresponde a apenas cerca de 1% do PIB e o Brasil possui somente 900 pesquisadores por milhão de habitantes. Enquanto isso, países desenvolvidos apresentam números de três a quatro vezes maiores. “São números inaceitáveis para nosso potencial como nação”, resumiu Prata.
Alvaro Prata apresenta a queda no investimento em CTI no Brasil.
Diferentes formas de estimular a inovação
Prata argumentou que, para além de investimentos diretos – como o pagamento de bolsas para alunos e projetos –, que tradicionalmente fomentam a ciência pelo lado da oferta, o Brasil precisa focar também nas várias formas de estímulo pelo lado da demanda. Atualmente, compras públicas consomem em torno de 10% do PIB nacional, e mesmo que apenas uma fração desse valor seja destinada às inovações tecnológicas, já representa uma quantia adicional significativa.
André Rauen lembrou que o estímulo pela demanda pode ser feito também com regulação. “Quando o Inmetro estabelece padrões cada vez mais altos de eficiência energética ele está estimulando o progresso tecnológico nessa área”, exemplificou. O economista defendeu a realização de concursos de inovação, que são pouco explorados no país. “Esses prêmios devem ser voltados a resolução de problemas específicos e tem como diferencial permitirem a participação de todos, o que possibilita considerar soluções muitas vezes de fora do paradigma acadêmico”, argumentou.
Já Bruno Portela defendeu os Contratos Públicos para Solução Inovadoras (CPSI), que entraram na legislação em 2021. O modelo permite ao poder público comprar inovações ainda em desenvolvimento para testar durante até dois anos. Se essas inovações se provarem eficazes, o mecanismo dá a opção da compra em larga escala. “É uma forma de desburocratizar e dinamizar o processo de compras públicas”, afirmou.
A Petrobras é um exemplo de sucesso. Atualmente, a empresa direciona cerca de 5% de seu orçamento para compras públicas em tecnologia e inovação e tem mais de 20 processos de CPSI em andamento. “Não à toa a empresa se manteve como um dos motores da inovação brasileira”, refletiu Rauen.
Capacitação burocrática e desafios estruturais
Os participantes foram unânimes em defender a capacitação dos servidores públicos para atuarem no processo de inovação e em parcerias público-privadas. “É essencial termos profissionais com conhecimento técnico e científico, mas também com compreensão do processo de gestão e orçamento. Esse foco duplo ainda é incomum no país”, disse Rauen.
Prata fez questão de ressaltar que nada substitui o fomento à ciência básica. O Acadêmico argumentou também que o Brasil possui algumas prioridades muito claras, como a questão ambiental, segurança pública, mobilidade urbana, educação e saúde, que podem servir de guia para a parcela de investimentos mais direcionados.
O investimento público sempre foi crucial no fomento das soluções tecnológicas, seja na China ou nos Estados Unidos. Entender como tornar esse processo cada vez mais especializado e manter um ambiente de negócios dinâmico é crucial para o desenvolvimento de CTI de qualquer nação. “Se Estado e empresas não se comunicam, não existe inovação. Essa relação é indispensável”, finalizou Prata.
O ano de 2022 é marcante para a questão do meio-ambiente. Há 50 anos foi realizada a célebre Conferência de Estocolmo, abordando pela primeira vez a degradação ambiental de forma global. Vinte anos depois foi a vez da Rio 92, que relacionou o desenvolvimento à sustentabilidade e culminou em importantes convenções sobre clima e biodiversidade. Tanto a Rio 92 quanto a Rio+20, realizada em 2012, são exemplos do papel central que o Brasil já ocupou nas discussões ambientais e que foi perdido nos últimos anos.
Para debater a situação atual do país, sobretudo com relação à Amazônia, foi realizado um painel virtual durante a 74ª Reunião Anual da SBPC. Participaram os membros titulares da ABC Paulo Artaxo, Carlos Nobre e Carlos Joly. Na mesa também estavam presentes a ex-ministra do meio ambiente, Izabella Teixeira, e o ex-secretário executivo da Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU, Bráulio Dias.
Amazônia se aproxima do não-retorno
A situação atual da Amazônia é crítica. O Brasil está entre os cinco maiores emissores de carbono do mundo e quase metade dessas emissões vem do desmatamento, que já atinge 20% da floresta. Mas esse não é o único problema: áreas degradadas, nas quais a destruição é apenas parcial, também sofreram expansão, o que contribui para a perda da capacidade do bioma de armazenar carbono. “A preocupação hoje não vem mais da observação de modelos climáticos, mas da observação da própria Amazônia”, resumiu Nobre.
O Acadêmico Carlos Alfredo Joly
As consequências desse cenário já estão sendo sentidas e afetam diretamente a economia brasileira. As secas no Centro-Sul estão cada vez mais frequentes, assim como os eventos climáticos extremos. “Não existe contradição entre a agricultura e o meio ambiente. É impossível produzir alimento sem um ambiente saudável ao redor”, afirmou Teixeira. Os participantes advogaram por uma moratória urgente sobre desmatamento, para que o Brasil consiga cumprir a meta assumida na COP 26 de zerar a destruição da vegetação até 2030.
Mas o problema não passa tanto pela criação de leis quanto pela sua implementação. O Brasil possui um marco legal sofisticado e uma Constituição que protege o meio ambiente, mas falta fiscalização. Hoje, 94% do desmatamento amazônico provêm de atividades ilegais. “Acima de tudo, é urgente rever toda uma série de medidas infralegais que foram estabelecidas nos últimos quatro anos”, disse Joly. “Por exemplo, precisamos voltar com os Conselhos Participativos e acabar com o bloqueio à atuação do Ibama e do ICMBio”.
O Acadêmico Carlos Nobre
Combater o desmatamento, promover a restauração
Mas se é preciso estancar a destruição, também é preciso focar na restauração das áreas destruídas. Para enfrentar o arco do desmatamento que se estende nas fronteiras da floresta, o Painel Científico para a Amazônia (SPA, da sigla em inglês) defende a criação de um arco de reflorestamento que pode salvar a Amazônia de um ponto de não-retorno. “Um megaprojeto para recuperar um milhão de quilômetros quadrados custaria entre 30 e 40 bilhões de dólares” afirmou Nobre. “Não é nada trivial; mas se recuperarmos nossa credibilidade internacional, é possível”.
Entretanto, reflorestar é um processo extremamente complexo, que precisa respeitar a biodiversidade local. Para isso, é necessário investir em ciência e tecnologia para a região, construindo novas universidades e centros tecnológicos. “Atualmente, o Brasil investe apenas 5% do orçamento de ciência, tecnologia e inovação na Amazônia, é muito pouco”, afirmou Dias.
Além de zerar o desmatamento e reflorestar, o SPA pede também a criação de uma nova bioeconomia para a região, que faça uso da imensa biodiversidade e da floresta em pé para criar novas ocupações e trazer desenvolvimento humano às populações locais. “Precisamos avançar a compreensão de desenvolvimento para além do crescimento, é preciso adicionar a sustentabilidade à equação”, sumarizou Teixeira.
Leia o artigo escrito pelo membro titular Isaac Roitman para o Monitor Mercantil, publicado em 8 de agosto:
A Universidade de Brasília (UnB) recebeu, de 24 a 30 de julho de 2022, a 74ª reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). É o maior e mais importante encontro da comunidade de pesquisadores brasileiros.
Entre outros temas debatidos, a diminuição drástica dos investimentos no desenvolvimento científico, foram temas discutidos. As estruturas de pesquisa no Brasil perderam R$ 35 bilhões nos últimos cinco anos, que foram desviados para outros fins.
A luta das entidades para a recomposição dos orçamentos é constante. Entre elas a SBPC, a Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), o Centro de Estudos Sociedade: Sou Ciência da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG).
O Brasil, apesar enfrentar as crises de seu desenvolvimento científico e tecnológico, dispõe de notável base científica, de conhecimentos acumulados, de avanços e descobertas científicas. Temos um considerável número de cientistas altamente qualificados e apesar da asfixia de investimentos nas Universidades e Centros de Pesquisas públicas. Dispomos de parques tecnológicos e de organismos como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), a Coordenação e Aperfeiçoamento do Pessoal do Ensino Superior (Capes) e as Fundações de Apoio/Amparo à Pesquisa, que lutam contra a desintegração, possivelmente planejada, de nosso sistema de Ciência e Tecnologia (C&T).
Não será possível termos a emancipação do País sem uma educação cidadã e profissional de qualidade e de um sistema de C&T sólido, voltado para o desenvolvimento do saber e resolução dos desafios sociais. Como é sempre apontado, é uma contradição vergonhosa o fato do Brasil ser um celeiro de alimentos do planeta e termos milhões de pessoas passando fome.
Se nosso objetivo é de termos uma nação soberana, é absolutamente fundamental o investimento em pesquisa científica e a parceria entre as Universidades e o empresariado, que será parceiro para as inovações que vão assegurar o desenvolvimento industrial sustentável, agregando valor às nossas exportações e reduzir a dependência. É também necessária a implantação de uma política econômica, que tenha como objetivo beneficiar toda a sociedade e não o enriquecimento de poucos. Prescindir da educação de qualidade para todos e todas e da pesquisa científica e da inovação tecnológica é abrir mão da soberania nacional.
É pertinente lembrar de dois pensamentos de Ulisses Guimarães, durante a elaboração da Constituição de 1988: “Nosso povo cresceu, assumiu o seu destino, juntou-se em multidões, reclamou a restauração democrática, a justiça social e a dignidade do Estado”; “A Nação quer mudar, a Nação deve mudar, a Nação vai mudar”.
Em 2021, o órgão responsável por 73% das bolsas de mestrado e doutorado brasileiras, a Capes, passou por um período de forte turbulência. A avaliação dos Programas de Pós-Graduação (PPGs) para o quadriênio 2017-2020 sofreu com atrasos e judicializações e a elaboração de um novo Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG) se viu ameaçada. As incertezas geraram desconfiança entre a comunidade científica, e mais de cem pesquisadores que atuavam no processo de avaliação renunciaram coletivamente.
Felizmente, em 2022 as coisas voltaram a caminhar. A avaliação ocorreu e já se encontra em fase de relatoria, com os resultados finais previstos para serem divulgados ainda esse ano. Também foi formado um grupo para a elaboração do PNPG, que conta com a presidente da ABC, Helena Bonciani Nader. Para debater os erros e acertos que ocorreram nesse longo processo, bem como o futuro da pós-graduação brasileira, foi organizado o painel virtual Avaliação da Pós-Graduação, durante a 74ª Reunião Anual da SBPC.
A discussão contou com a presença da presidente da Capes, Cláudia Toledo, e o diretor de avaliação, Sérgio Avellar. Os Acadêmicos Carlos Menck, coordenador da área de Ciências Biológicas 1, e Anderson Gomes, ex-coordenador da área de Física e Astronomia, participaram do debate, assim como o coordenador da área de Antropologia e Arqueologia, Antonio Carlos Lima, e o presidente-eleito da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), Vinicius Soares. A mediação ficou a cargo da vice-presidente da SBPC, Fernanda Sobral.
Importância da avaliação
O processo de avaliação dos programas de pós-graduação da Capes foi iniciado na década de 70, com a instauração da escala 1 a 7 de qualidade em 1988. Desde então, o número e a classificação dos cursos, bem como a quantidade de titulações, apresentaram crescimento ininterrupto, sobretudo nos últimos 20 anos. De 2007 a 2017, o número de PPGs com avaliação 6 e 7 passou de 234 para 482, e o Brasil atingiu as metas do PNPG de formar 60 mil mestres e 25 mil doutores por ano. “O crescimento teve taxas ainda mais elevadas fora do Sudeste, expandindo a ciência pelo território nacional”, mostrou Menck.
O Acadêmico Carlos Menck apresentando o crescimento da PG brasileira entre 2010 e 2018
Entretanto, nos últimos anos essa tendência vem sendo ameaçada. O financiamento das agências de fomento, como a Capes e o CNPq, caiu de forma abrupta no fim da última década. O número de bolsas oferecidas para mestrado e doutorado estagnou, assim como os valores pagos, que depreciaram em mais de 60% com a inflação acumulada. “Os valores atuais de bolsa são ridículos, aviltantes e desprestigiam a formação de cientistas no país”, reconheceu a Cláudia Toledo, presidente da Capes.
Nesse cenário, o atraso na avaliação foi mais um duro golpe que deixou a pesquisa nacional no escuro. Os participantes foram unânimes em elogiar a atuação do, agora efetivado, diretor de avaliação da Capes, Sérgio Avellar. “A instabilidade institucional e a falta de um diretor específico para o processo foi algo que atrapalhou muito”, afirmou Menck, “assim como a insegurança jurídica, a redução orçamentária e a absurda pressão pelas Propostas de Cursos Novos (PCN), incluindo EADs recém-criados”.
O Acadêmico exaltou a resistência dos coordenadores de avaliação, que organizaram manifestos e renúncias coletivas. Para ele, essa luta foi crucial para a retomada dos trabalhos, e para “manter a qualidade e garantir o futuro da pós-graduação brasileira”.
Mudanças na avaliação
A avaliação dos PPGs para o quadriênio 2017-2020 teve mudanças significativas com relação a do quadriênio anterior. Para o coordenador de área Antonio Carlos Lima, trata-se agora de uma avaliação muito mais qualitativa, que incluía mais parâmetros para além do número de artigos. “Nas humanidades por exemplo, foi extremamente importante a inclusão de livros, produtos culturais e artísticos e produtos tecnológicos”, afirmou.
Como exemplo de impacto social, Lima defendeu a capacidade que novos cursos de pós-graduação têm de movimentar a economia do interior. “Foi muito satisfatório ver que programas que estão começando, com notas mais baixas e menos investimento, muitas vezes apresentam uma taxa de empregabilidade regional altíssima”.
Na mesma linha, o vice-presidentee da ABC para a região Nordeste e Espírito Santo, Anderson Gomes, defendeu que as mudanças na avaliação continuem no sentido de compreender o impacto para além da produção científica. “O sistema não pode desencorajar projetos ambiciosos e que falam com a sociedade apenas porque geram menos publicações”, criticou.
Por fim, Menck também defendeu as mudanças, mas alertou que o processo precisa ser aperfeiçoado e simplificado para o futuro. “Além dos vários entraves que ocorreram nessa avaliação, o processo foi ainda mais complexo e trabalhoso. Alguns coordenadores de curso precisaram tirar três meses de dedicação exclusiva. Isso precisa ser repensado”, finalizou.
Em 2022, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) foi convidada a se tornar parceira oficial do Ano Internacional do Engajamento Científico 2027 (IYSE), o que foi efetivado com a assinatura, em 8 de agosto, de um acordo com a Fundação Falling Walls, instituição de referência do projeto.
O Conselho Internacional de Ciência (ISC) também é parceiro da iniciativa, que tem o objetivo de criar o impulso necessário para envolver mais pessoas com a ciência e fortalecer o papel do engajamento com a ciência no cumprimento da Agenda 2030. Atividades temáticas serão organizadas nos níveis internacional, regional e nacional.
No momento, o projeto busca construir uma coalizão global de parceiros que fortaleça a proposta de se proclamar 2027 como um Ano Internacional oficial das Nações Unidas, colocando este importante tema na agenda global. Além do apoio de instituições de diferentes regiões do planeta, o IYSE também tem trabalhado junto às delegações permanentes na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para garantir, em 2023, o endosso desta à iniciativa.
Confira o artigo escrito pelo ex-afiliado da ABC 2017-2021 Daniel Martins de Souza para a campanha #ciêncianaseleições, publicado no Jornal A Tarde, de Salvador.
Minha mãe é publicitária, mas cozinha o melhor “risotto ai funghi porcini” do mundo. Ela é minuciosa no preparo: desde a seleção dos ingredientes até a precisão no preparo. É perfeito! Tenho certeza de ela poderia certamente vencer um concurso de culinária. É interessante pensar que para que minha mãe possa fazer o melhor dos risotos, ela faz uso de “ferramentas” previamente estabelecidas, as quais nem consideramos como essenciais: se vencedora de um prêmio, seria justo que ela o partilhasse com as pessoas que descobriram o alho e o sal, além dos os/as inventores/inventoras do caldo de legumes e do queijo. Sem estas pessoas, que antecederam minha mãe, ela não faria o melhor risoto do mundo.
Em ciência, as coisas também são assim: para que uma/um cientista faça uma descoberta que mude nossas vidas, muitos outros cientistas tiveram de realizar seus projetos, para embasar um salto significativo de conhecimento. Temos então a ciência básica e a aplicada: a primeira torna possível a segunda. A ciência básica são os tijolos; a ciência aplicada é o muro pronto. O risoto é ciência aplicada; o alho, sal, queijo e caldo de legumes são ciência básica.
As descobertas científicas mais impactantes da humanidade são anualmente reconhecidas pelo “Prêmio Nobel”. Ao passo que tal prêmio é classicamente atribuído a uma pessoa, a descoberta premiada só aconteceu por causa do trabalho de outras centenas, talvez milhares de cientistas. Não que os vencedores não mereçam o prêmio, mas a construção de uma descoberta desta magnitude só é possível com o alicerce que a ciência básica constrói, ao longo de anos, de décadas. É importante mencionar ainda que a ciência básica é a porta de entrada para aspirantes à ciência, possibilitando a formação de recursos humanos altamente qualificados, cujo potencial enriquece nossa sociedade.
Isaac Newton proferiu uma expressão que se tornou muito popular entre os cientistas: “eu só pude enxergar mais longe, pois me apoiei nos ombros de gigantes”. Nesta metáfora, Newton humildemente assume que a grandiosidade de suas descobertas só foi possível pois “gigantes” (outros cientistas que vieram antes dele), construíram um alicerce tão sólido que possibilitou com que ele pudesse “enxergar” mais longe, alcançando assim feitos formidáveis.
A ciência básica forma os pilares fundamentais da humanidade, fazendo do mundo um lugar mais sábio e mais justo. Conhecimento é o nosso bem mais precioso. Logo, devemos cobrar dos representantes que estamos prestes a escolher nas próximas eleições suas posturas sobre a ciência. Nos tempos que temos vivido, precisamos que a humanidade, através de seus representantes, saiba e queira aproveitar todo o potencial que a ciência oferece.
Todos os anos, em conjunto com a Reunião de Cúpula do BRICS, são realizadas atividades paralelas focadas em ciência, tecnologia e inovação (CT&I). Assim como nas edições anteriores, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) foi convidada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) a indicar participantes para o BRICS Young Scientists Forum (YSF), e candidatos e jurados para o BRICS Young Innovator Prize (YIP). O YSF ocorre entre os dias 29 de agosto e 1º de setembro, sob a presidência rotativa da China.
Para o prêmio, a ABC trabalhou em conjunto com a Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) na seleção de dois jurados e dez candidatos para cinco áreas: inteligência artificial, biomedicina, tecnologias de baixo carbono, agricultura moderna e energias renováveis. A Academia também foi responsável por recomendar os dois nomes brasileiros para o júri do BRICS YIP: o membro titular Antonio Gomes de Souza Filho (UFC) e Roseli de Deus Lopes (USP/Febrace).
Já para o fórum, membros da ABC de todas as categorias foram convidados a indicar jovens pesquisadores em quatro áreas: inteligência artificial; biomedicina; tecnologias de baixo carbono; e novos materiais. Entre os integrantes da delegação brasileira no BRICS YSF destacam-se cinco membros afiliados: Angélica Thomaz Vieira e Taís Gratieri (biomedicina), Matheus Pereira Porto (tecnologias de baixo carbono), Eduardo Costa Girão e José Rafael Bordin (novos materiais).
Confira a lista completa de selecionados:
BRICS YIP 2022
Inteligência Artificial
Alexandre Dias Porto Chiavegatto Filho (USP) – http://lattes.cnpq.br/5517850224634709 – Projeto: RandomIA: a digital solution for developing randomized clinical trials in artificial intelligence
Ariel Soares Teles (IFMA) – http://lattes.cnpq.br/5012476998883237 – Projeto: Boamente: A Natural Language Processing-based Digital Phenotyping Tool for Smart Monitoring of Suicidal Ideation
Biomedicina
Bruna Felício M. Maldonado P. Ribeiro (USP/Imunotera) – http://lattes.cnpq.br/2176424832635326 – Projeto: Design, development and clinical translation of a therapeutic vaccine against HPV-associated diseases in Brazil
Adriana Grandis (USP) – http://lattes.cnpq.br/5346077479449245 – Projeto: Characterizing biomass and improve production from plant biodiversity to generate bioethanol
Maurício Roberto Cherubin (USP) – http://lattes.cnpq.br/5804627494380130 – Projeto: Soil Carbon Sequestration Through Integrated Agricultural Systems in Brazil – “Ag4C”: a low-C technology for mitigating climate change
Agricultura Moderna
Carlos Antonio da Silva Junior (UNEMAT) – http://lattes.cnpq.br/4249094513528309 – Projeto: Monitoring soybean areas in Brazil and their influence on the advance of land use: a web platform and remote sensing approach
Paulo Augusto Raymundo Pereira (USP) – http://lattes.cnpq.br/2013239426070931 – Projeto: Selective and Sensitive Multiplexed Detection of Pesticides in Food Samples Using Wearable, Flexible Glove-embedded Non-enzymatic Sensors
Vitor Cano (USP) – http://lattes.cnpq.br/0664595729451544 – Projeto: Electricity generation from wastewater treatment as a new clean and renewable energy source in microbial fuel cells